Com o tema “Todos Pela Vida – Falar é a Melhor Solução”, órgãos das Secretarias de Saúde e de Trabalho e Desenvolvimento Social, da prefeitura, promovem até o dia 27 uma série de atividades voltadas à prevenção de suicídios. Todas com entrada gratuita.
As atividades fazem parte da campanha “Setembro Amarelo”, cuja abertura, em Tatuí, aconteceu na quarta-feira, 11, na unidade ESF (Estratégia Saúde da Família) da vila Angélica, com palestra seguida de roda de conversa com a psicóloga Lucimara Rosa Ribeiro de Paula.
O encontro, aberto ao público, contou com a participação de médicos, enfermeiros e outros profissionais da Saúde, além de funcionários e pacientes da unidade para discutir sobre o assunto e tratar das formas de prevenção.
Durante o evento, a profissional falou da importância da campanha, abordou quais os sinais que demonstram a tendência ao suicídio ou quando se está com algum transtorno mental, como a depressão e outras doenças.
Lucimara iniciou o evento falando da campanha, promovida nacionalmente, desde 2014, pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), em parceria com o CFM (Conselho Federal de Medicina) e em celebração ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, que ocorre em 10 de setembro.
“Nós sabemos que o suicídio é uma tragédia que acontece o ano inteiro, mas, assim como outras campanhas, setembro foi um mês escolhido para refletir e estar discutindo estratégias de prevenção, buscado a redução do número de casos de suicídio”, disse a psicóloga.
De acordo com a profissional, atualmente, o suicídio se apresenta como uma “grave” questão de saúde pública. Segundo registros da OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano (os números são referentes a 2016).
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios, registrando, em média, 13 mil casos por ano – isto é, 31 mortes por dia -, sendo o número de homens quase quatro vezes maior que o de mulheres.
O relatório também aponta que, a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida, sendo que 79% dos casos se concentram em países de baixa e média renda. Quando se considera a faixa etária de 15 a 19 anos, o suicídio aparece como segunda maior causa de morte entre as meninas. Já entre os jovens de 15 a 29 anos, também é a segunda maior causa de morte, atrás apenas de acidentes de trânsito.
“São números alarmantes. Nós precisamos, realmente, prestar mais atenção. Muitas vezes, a gente pensa que não vai acontecer com a família ou com pessoas mais próximas, mas isso é um equívoco. É de extrema importância nós nos atermos a esses números e buscarmos formas de revertê-los”, salientou a psicóloga.
Lucimara sustentou que esses números podem diminuir se aumentarem os debates sobre o assunto e ações como o “Setembro Amarelo”. A afirmação é confirmada pelos dados da OMS, que estima que 90% dos casos podem ser evitados quando há oferta de ajuda.
Entre os fatores de risco para o suicídio, a profissional destaca as tentativas prévias. Segundo ele, quem já tentou o suicídio tem um risco ainda maior de tirar a própria vida. “Toda tentativa precisa ser olhada com atenção”, diz a psicóloga.
Conforme estimativas da OMS, em geral, seis meses antes de consumar o ato, pessoas com pensamentos suicidas procuram ajuda com profissionais – em especial, em clínicas médicas.
“Já ouvi pessoas falarem que, quando a pessoa quer se matar, ela vai lá, faz e pronto. Mas, isso é mentira: quando a pessoa quer tirar a própria vida, ela já vai dando sinais, e nós temos que estar alertas”, acrescentou.
Ela aponta que os sintomas nem sempre são visíveis, mas existem alguns “sinais” e comportamentos que devem ser analisados, como as manifestações verbais, que incluem baixa autoestima, perda de interesse ou prazer pela vida, tristeza e ansiedade.
“A pessoa que tem intenção de atentar contra a própria vida vai dando diversos sinais de que algo está errado e de que ela está passando por problemas. Uma das coisas mais fáceis de identificar são frases como: ‘eu quero sumir’; ‘vou deixar vocês em paz’, ‘minha vida não vale nada’, entre outras coisas. Essas manifestações não podem ser ignoradas”, acentuou.
Segundo a psicóloga, pessoas com doenças mentais como a depressão, transtorno bipolar e de ansiedade, são as mais suscetíveis ao suicídio. Ela ainda inclui como fatores de risco o alcoolismo, uso e abuso de substâncias entorpecentes e a esquizofrenia.
“As pessoas têm que dar mais atenção a esses transtornos e procurar um tratamento adequado. Problemas pessoais, financeiros, familiares, entre outros, somados aos transtornos psiquiátricos, fazem com que a pessoa tenha uma tendência muito grande em atentar contra a própria vida”, reforçou.
Luciamara aponta que o tratamento para esses transtornos precisa ter acompanhamento psicológico e, muitas vezes, acompanhado de medicamentos e terapias individuais e em grupo.
“Se uma pessoa desconfiar de que alguém está pensando em suicídio, a primeira atitude é começar com uma conversa com a pessoa, abordando-a de uma forma acolhedora, sem julgamento. É preciso prestar atenção na maneira em que se fala, para não agravar a situação”, orienta a profissional.
Segundo ela, em Tatuí, o principal ponto de apoio para as pessoas com transtornos psicológicos e emocionais é o Caps (Centro de Atenção Psicossocial), na rua Virgílio de Montezzo Filho, 201, no bairro Nova Tatuí.
A unidade é especializada em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente.
Ela ainda lista como ponto de auxílio profissional o Pronto-Socorro Municipal, Samu 192, as unidades básicas de saúde, Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e ESFs, que oferecem um atendimento interdisciplinar, com médicos, assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras, entre outros especialistas.
“Se puder, pegue na mão da pessoa que está com problemas, ofereça ajuda, acompanhe ela até uma unidade de saúde. Se não souber como agir, peça orientação. As pessoas que têm pensamentos suicidas precisam de ajuda”, enfatiza Lucimara.
Além disso, a psicóloga destaca o auxilio prestado pelo CVV (Centro de Valorização da Vida). A organização realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar.
O CVV oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio durante 24 horas, por meio de “chats” online, ligações ou mesmo e-mail. Não é necessário se identificar e a pessoa pode ligar quantas vezes quiser.
O atendimento é feito pelo telefone 188 (ligação gratuita, a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular), ou pelo endereço eletrônico https://www.cvv.org.br/quero-conversar.
A O Progresso, Lucimara reforçou ser importante trabalhar dentro das unidades de saúde para que as pessoas passem a perceber os sintomas e possam ajudar àquelas que sofrem de problemas emocionais e transtornos mentais.
“O motivo de estarmos fazendo este evento é trazer um alerta, tanto para a pessoa que passa por problemas emocionais, quanto para os familiares e amigos próximos que conheçam vítimas de transtornos. É uma forma de evitar novos casos e trazer mais informação”, completou a psicóloga.
Também como parte da programação da campanha, na quinta-feira, 12, o grupo PLP (Promotoras Legais Populares) apresentou o espetáculo teatral “Joanas”, na sede do Caps, à tarde.
Já no período da noite, houve palestra com as psicólogas Jéssica Muhamed Covos e Kelly Davis Marigo, abordando o tema “Campanha de Prevenção ao Suicídio: Vamos Falar Sobre Isso?” no Centro de Artes e Esportes Unificados “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires”, o CEU das Artes.
A programação continua neste sábado, 14, na ESF “Othoniel Cerqueira Luz”, da CDHU, com o ato “Abra a Porta da sua Casa e seu Coração”. Ao longo de todo o dia, médicos, enfermeiros e agentes de saúde percorrerão as ruas do bairro e esclarecerão os moradores acerca das principais doenças que podem levar ao suicídio.
Na quinta-feira, 19, haverá duas atividades. Às 9h, as advogadas Míriam Teodoro e Samira Santos, do projeto “Abrace”, de Itapetininga, promovem uma roda de conversa na sede do Caps e, às 19h, ocorrerá um “cine-debate” no CEU das Artes.
A programação da rede pública ainda envolve quatro palestras sobre prevenção de suicídio nos Cras (Centros de Referência e Assistência Social) das unidades Norte, Sul, Leste e Central, com a psicóloga Jéssica Magalhães Andrade.
No Cras Norte, à rua João Saulo dos Reis, 90, Jardim Gonzaga, a palestra acontece dia 23, às 13h; no dia 25, às 14h, é a vez do Cras Sul, na rua Osmil Martins, 305, no Jardim Santa Rita de Cássia; no Cras Central, da rua Ana Rosa Monteiro, 475, vila Santa Helena, o evento ocorre no dia 26, às 14h; e na unidade Leste, à rua Prefeito Alberto dos Santos, 285, vila Dr. Laurindo, no dia 27, às 14h.
Já na quarta-feira, 25, às 13h, a médica Maria Thereza Oriolo Lanaro, o psicólogo e diretor da Raps (Rede de Atenção Psicossocial), Janderson Mendes Miranda Martins, e o “coach” Isaac Gonçalves abordarão temas como depressão, autoestima e ansiedade na ESF “André Batista”, da vila Santa Luzia.
Na quinta-feira, 26, às 14h, a psicóloga Sandra Arca e a psiquiatra Cristiane Picarelli, de Sorocaba, abordam novamente o tema prevenção ao suicídio, em palestra ministrada no Caps. Toda a programação do mês é aberta ao público e não necessita de inscrição prévia.
A campanha Setembro Amarelo será encerrada na sexta-feira, 27, às 9h, com passeata de mobilização sobre a prevenção ao suicídio, que sairá diante do paço municipal, na avenida Cônego João Clímaco, 140, centro, e seguirá até a Praça da Matriz.