
O mês de setembro, marcado pela campanha nacional Setembro Amarelo, coloca a saúde mental no centro do debate público. No entanto, mais que uma mobilização pontual, a discussão sobre prevenção ao suicídio e cuidado integral precisa ser vista como parte de um esforço contínuo, que se materializa em políticas públicas capazes de oferecer atendimento, acolhimento e suporte ao longo de todo o ano.
Em Tatuí, a rede de atenção psicossocial (Raps), vinculada à Secretaria Municipal de Saúde, é o alicerce desse trabalho e ganha visibilidade especial neste período, mas sua atuação ultrapassa os limites da campanha.
A estrutura local da Raps é formada por serviços articulados que vão da atenção primária — os postos de saúde, onde se identificam sintomas iniciais ou casos de menor gravidade — até unidades especializadas, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
O município dispõe de três modalidades: o Caps 2, voltado a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes; o Caps-AD, especializado em casos de uso abusivo ou dependência de álcool e drogas; e o Caps-IJ, dedicado ao atendimento de crianças e adolescentes em sofrimento psíquico grave.
Complementam essa rede a Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24 horas) e o Samu 192, responsáveis pelas situações de urgência e emergência.
Essa integração permite que a população encontre acolhimento adequado conforme a gravidade de cada situação. Um indivíduo com sintomas leves pode buscar orientação nos postos de saúde, enquanto crises mais complexas contam com a retaguarda de serviços especializados.
Casos críticos, por sua vez, são absorvidos pela UPA ou pelo Samu. Trata-se de uma engrenagem que, quando bem articulada, reduz o risco de desassistência e fortalece a noção de cuidado integral.
No contexto do Setembro Amarelo, a prefeitura organizou duas ações de destaque que exemplificam a importância de integrar saúde mental a práticas culturais e formativas.
O Sarau da Primavera, promovido pelo Caps 2 e pelo Caps-AD, está marcado para o dia 29 de setembro, em frente ao chafariz da praça Olívio Junqueira.
O evento será um espaço aberto à população, unindo arte, cultura e convivência como ferramentas de expressão e fortalecimento de vínculos.
A escolha do formato cultural não é aleatória: a arte é, historicamente, um instrumento de comunicação e elaboração de experiências subjetivas, permitindo que usuários dos serviços compartilhem sentimentos e histórias de maneira simbólica e inclusiva.
Outra frente relevante é a formação de profissionais da atenção primária por meio de atividades sobre “Comunicação Não Violenta”. A proposta é qualificar o acolhimento, estimulando práticas mais empáticas no contato com pacientes.
Em saúde mental, a qualidade da escuta e da abordagem inicial pode ser determinante para que uma pessoa em sofrimento busque e mantenha o tratamento. Por isso, investir na preparação das equipes é um passo essencial para dar consistência à rede de cuidados.
Ainda dentro da programação, uma exposição de trabalhos de usuários sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), em comemoração aos 34 anos de sua criação, observa a ligação entre a saúde mental e o direito à cidadania.
A mensagem subjacente é clara: não há saúde mental plena sem acesso a direitos básicos como moradia, educação, trabalho, cultura e lazer.
Essa visão ampliada é coerente com o princípio de que o sofrimento psíquico não pode ser tratado isoladamente, mas deve ser compreendido dentro das condições sociais que o produzem e agravam.
A experiência de Tatuí mostra que a política de saúde mental precisa ser sustentada em diferentes níveis. A Raps não substitui a necessidade de políticas nacionais robustas, mas evidencia como um município pode estruturar e oferecer alternativas concretas à população.
Divulgando endereços, modalidades de atendimento e fluxos de encaminhamento, a prefeitura também cumpre o papel de dar visibilidade e transparência ao serviço, reduzindo a sensação de desinformação que muitas vezes acompanha as famílias em busca de ajuda.
Os desafios, contudo, permanecem. O estigma em torno da saúde mental ainda é forte, e muitas pessoas relutam em procurar os serviços disponíveis. A resistência pode estar ligada a preconceitos, à falta de informação ou mesmo ao medo de serem rotuladas.
Nesse sentido, campanhas como o Setembro Amarelo são importantes para ampliar a consciência coletiva, mas só ganham efetividade se acompanhadas de uma rede estruturada e acessível, como a que Tatuí vem consolidando.
O cuidado em saúde mental, portanto, deve ser pensado como parte de uma política pública contínua, que une prevenção, atendimento especializado e integração social.
A realização de eventos culturais, ações de formação profissional e exposições públicas, como as programadas neste mês, é um indicativo de que o município compreende a necessidade de dialogar com a sociedade para além dos consultórios.
A mensagem central que se extrai da programação e do funcionamento da Raps é que saúde mental não é um tema restrito a determinados grupos, mas um direito coletivo que exige investimento, informação e acompanhamento permanentes.
Tatuí, dando visibilidade ao trabalho já em curso e ampliando as atividades durante o Setembro Amarelo, demonstra que a prevenção ao suicídio e o cuidado com o sofrimento psíquico não são responsabilidades individuais, mas compromissos sociais que precisam ser assumidos de maneira organizada e continuada.
Em um cenário em que os índices de depressão, ansiedade e suicídio seguem em alta no país, iniciativas locais ganham relevância ao mostrar que é possível articular serviços, integrar setores e, principalmente, oferecer acolhimento.
O Setembro Amarelo em Tatuí é, assim, mais do que um mês de campanha: é a vitrine de uma rede que, ao funcionar de forma contínua, pode fazer diferença real na vida das pessoas.