
RAUL VALLERINE
É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do quer falar e acabar com a dúvida! (Abraham Lincoln)
O descompromisso com a verdade é cada vez mais frequente. Alimenta a propagação de notícias falsas e a manipulação das informações para o atendimento de interesses mesquinhos.
Cada vez mais, as tecnologias no campo da comunicação facilitam falar de tudo e de todos, sobre as mais variadas coisas, conforme o próprio interesse.
Comprometida a verdade, a sociedade inteira perde o rumo e dificilmente encontra algum caminho promissor. Mas, na interioridade humana, no ato de falar ou calar-se, está inscrita a fórmula para superar esse descompromisso com o que é verdadeiro.
Quando se deve falar? Falar o quê? E quando é oportuno e eficaz calar-se? Sobre os pilares do falar e do calar-se estão os processos relacionais, a condução da sociedade, a cooperação mútua e cidadã em defesa da justiça e do bem.
Calar ou falar? Há circunstâncias em que o calar é um ato de covardia, de ignorância ou medo para expressar a própria opinião.
Em outros momentos, é uma atitude sensata, um ato de coragem, um sinal de controle dos instintos.
Falar em local e na hora inoportuna revela superficialidade, falta de sensibilidade ou desejo de esconder a verdade. Conjugar a fala com o silêncio é sabedoria, é um valor na convivência.
Só pode exercer o valor de calar aquele que consegue falar, que é capaz de se expor, mas escolhe livremente fechar os lábios.
O silêncio é um valor quando vem de dentro, quando o indivíduo, podendo falar, decide se calar. O silêncio imposto e violento não é valor, mas somente o é quando nasce de uma decisão livre, de um ato de vontade. É valoroso calar para escutar o outro. Para escutar é preciso calar.
É a atitude de discípulo que reconhece que o outro sabe mais e que tem algo importante para dizer e que posso aprender dele ampliando assim o meu horizonte e o conhecimento.
Em outras circunstâncias, talvez o outro não tenha nada a me ensinar, mas ele precisa falar do que se passa na sua vida. Neste caso, ouvir calado é uma fala extremamente loquaz.
Há circunstâncias na vida em que é preciso calar para não ferir o outro. Há situações que convidam para retribuir uma ofensa, uma agressão ou traição sofrida, com a mesma medida.
Nestas horas, controlar as emoções, o desejo de vingança com o silêncio é sinal de domínio das próprias paixões.
É um ato voluntário, um exercício de reflexão de não retribuir o mal com o mal. De não retribuir ofensa com ofensa, pois ofender não faz desaparecer a ofensa. É calar nesta hora, para oportunamente falar.
É preciso manter-se calado diante segredo confiado. Quem confia um segredo é uma pessoa concreta e que revela algo que está guardando com sete chaves. Por outro lado, revela o segredo a um confidente que escolheu. O confidente não tem tarefa fácil, precisa ter as virtudes da escuta e da discrição.
O segredo tem algo de sedutor, de irresistível que desperta a curiosidade humana. A tendência é tornar público o segredo.
O confidente para ser merecedor de confiança deve guardar na penumbra o segredo, mesmo podendo falar, não diz nada. É um valor guardar um segredo, pois o inimigo não é externo, mas está dentro de nós.
Assim como é valoroso calar, do mesmo modo, é sabedoria e virtude saber falar. Tomar a palavra e quebrar o silêncio para revelar o está dentro é um ato de coragem e liberdade.
A palavra, como um poderoso instrumento de comunicação, sai como um projétil de dentro de uma pessoa e penetra na consciência do outro gerando uma reação. O que foi lançado pode edificar, mas igualmente pode disseminar o mal.
Há situações de silêncio onde se esconde a verdade de forma mentirosa. Todos sabem dos fatos, mas ninguém se manifesta. Falar neste ambiente é um ato de coragem.
Dizer a verdade para quem não quer ouvir é superar as amarradas da falsidade. Falar a verdade, neste contexto, causa dor, mas é libertador e traz frutos e ganhos emocionais.