Dificuldade em sentar ou levantar do sofá, pentear o cabelo ou guardar uma panela, de entrar e sair do carro, lavar a cabeça, perda de equilíbrio, da força e da flexibilidade. A condição de vida das pessoas com mais de 60 anos muda quando elas ultrapassam a barreira da fase adulta.
Tarefas corriqueiras, como carregar um neto ou ir ao supermercado, por exemplo, passam a ser bem mais complexas na terceira idade. Entretanto, é nessa fase da vida que as pessoas têm mais tempo para tentar minimizar estes efeitos.
Esta é uma das várias razões que têm levado idosos do município às atividades físicas, como explicou a professora de educação física e personal trainer Luciana Gonçalves. Pelo menos 30% dos alunos dela têm mais de seis décadas de vida.
A mudança no comportamento tem mantido o mercado local aquecido, envolvendo de academias a médicos e outros profissionais. “Muitas pessoas perceberam este aumento da expectativa de vida. E o público da terceira idade é exigente e muito mais inteligente do que os jovens”, argumenta a personal trainer.
Em um número cada vez mais crescente, os idosos têm buscado alternativas de tratamentos aos métodos tradicionais. Percebendo este movimento, os profissionais de Tatuí têm se adaptado a uma nova realidade em diversos setores.
“Atualmente, alguns médicos, quando percebem que os idosos estão debilitados, já recomendam que eles frequentem academia”, observou Luciana.
Os exercícios ajudam a trabalhar a funcionalidade da terceira idade. Em outras palavras, a manter a capacidade da pessoa idosa de desempenhar determinadas atividades.
Essas atividades também estão sendo procuradas, pelo público mais velho que vive em Tatuí, como tratamento sequencial para a recuperação de traumas físicos. Este é o caso do professor aposentado Carlos Rodrigues Serrão, de 88 anos.
Ele sofreu um acidente de trânsito no dia 3 de outubro do ano passado, precisou ser hospitalizado, realizar fisioterapia e, atualmente, faz exercícios para fortalecimento da musculatura. Ele vai à academia uma ou duas vezes por semana, acompanhado da esposa, Ivete Cerca Serrão, de 71 anos.
O casal decidiu praticar exercícios físicos para acelerar a recuperação do aposentado. Ivete já frequentava academia, mas parou por conta do acidente do marido. Ela retornou depois de ser incentivada por um dos filhos.
“Só consegui superar esta fase porque havia feito atividade física antes. Do contrário, não teria conseguido suportar, tanto emocional como fisicamente”, contou.
A aposentada acompanha o marido em todas as fases do processo de recuperação, que ainda continua. Ela relatou que Serrão precisou ficar internado e realizar fisioterapia pelo período de um mês. Mesmo avesso aos exercícios, o professor de mecânica aceitou ir à academia para ter mais autonomia nas tarefas.
Serrão lecionou na Etec (Escola Técnica) “Sales Gomes” por 15 anos. Em paralelo, manteve uma oficina de serralheria, ainda em funcionamento. O comércio era, inclusive, o destino do professor quando ele sofreu o atropelamento.
“Um dia depois da eleição, às 14h05, um carro me pegou no meio da rua. O motorista não parou para prestar socorro, e eu fraturei o nariz e a tíbia”, contou. O professor também sofreu microfraturas na face e teve problemas na rótula de um dos joelhos. “Fiquei três meses em uma cama hospitalar”, descreveu.
Passado esse período, Serrão começou a caminhar. “Ele teve uma força de vontade incrível, mas, assim que pisou no chão, já queria sair para a rua”, contou a esposa.
Os exercícios na academia permitiram ao professor a recuperação parcial das capacidades que tinha antes do atropelamento. A única dificuldade, no momento, é com relação à mobilidade do braço, mas que está sendo trabalhada.
“Desde que ele veio para a academia, eu diria que ele melhorou em 70% perto do quadro anterior. Hoje, ele tem mais autonomia, é independente”, citou Ivete.
Também adepta aos exercícios, a aposentada Maria Vilma Rodrigues Santos Almeida, de 76 anos, tem uma relação mais longeva com a academia. Ela começou a se exercitar há dez anos, motivada por um problema físico.
“Quebrei a clavícula, então, meus filhos me orientaram a procurar um profissional, porque eu tinha muitas dores. Isto aqui (os exercícios) me ajuda a fortalecer meus músculos, e também a não sentir mais dores”, relatou.
Antes de se exercitar, Maria Vilma contou que tinha dificuldades até em se movimentar. Depois, voltou a realizar atividades que costumava fazer, como a dança. Ela frequenta o Clube Renascer da Terceira Idade duas vezes por semana.
Junto com conhecidos do espaço, participa de excursões para cidades vizinhas. Já viajou para Cerquilho, Capivari e Piracicaba. Ficou tão animada fisicamente que começou, ela mesma, a arrumar a casa. “Antigamente, eu pagava faxineira. Agora, pago um dançarino para dançar comigo”, contou.
Para a aposentada, a academia representa a retomada da qualidade de vida. Maria Vilma contou que os exercícios permitiram a ela mais disposição e tempo para se dedicar a atividades que geram prazer.
“Acho que eu preciso mais, com a minha idade, de coisas que alegrem o meu coração, que me deem mais saúde, porque a academia é um grande remédio, e a dança, também”, adicionou.
Mãe de dois filhos, avó de cinco netos e bisavó de um menino, Maria Vilma também se mantém ativa em casa. Além de cuidar dos afazeres domésticos, pratica caminhada. Aos finais de semana, dança nos bailes da Terceira Idade.
Para ela, manter-se ativa é fundamental não só para o corpo, mas para a mente. Também por isso, Maria Vilma continua a frequentar a academia e o salão de danças. Nos dois espaços, mantém contato com grupos distintos de amigos.
“Conto piada, dou risada, não levo a vida com tristeza, porque não existe quem não tenha as agruras da vida, mas tem que saber que existe Deus”, ressaltou a aposentada.
Na academia, ela interage mais com jovens; no clube, a roda de amigos é outra. Em ambos os locais, no entanto, Maria Vilma busca sempre a descontração.
“Não posso ir a um lugar e ficar falando só de quem morreu, ou está internado. Temos que visitar os doentes, ir aos velórios. Mas, quando as pessoas saem de suas casas, a finalidade é arejar a cabeça, alegrar o coração”, aconselhou.
Além dos exercícios, o público da terceira idade tem buscado mudar o hábito alimentar. “É um trabalho que não fica só na academia”, acrescentou Luciana.
De acordo com a personal trainer, esse nicho de mercado tem sido cada vez mais explorado. Algumas das alunas da professora, por exemplo, abriram o negócio próprio neste ramo.
“Elas montaram um comércio de suprimentos, porque esta turma sabe mais que os jovens. Eles (os idosos) correm em busca do tempo perdido, sabem o que podem comer, a hora que podem comer e quanto podem comer”, destacou.
Também de acordo com ela, o mercado local deve abrir-se ainda mais, alcançando setores como o turismo, uma vez que é preciso atender à demanda.