Patrícia Milão
Bananas, abóboras e tomates são processados e porções de doces e molhos enviados para as famílias
Todos os dias, caixotes de alimentos vêm e vão ao Banco de Alimentos “Zacharias Nunes Rolim”. Instalado no bairro Valinho, o prédio do serviço completou dois anos no dia 5 de agosto. Na cidade, funciona desde 2009.
O trabalho da unidade começa pela manhã, quando a perua da instituição vai até a Coop (Cooperativa de Consumo) – única unidade que, atualmente, contribui com o banco – buscar os alimentos.
Assim que chegam ao prédio, as doações entram para o setor de triagem, que separa os alimentos em condição de consumo. Na terça-feira, 20, dia da reportagem, quatro jovens da Central Provisória de Medidas e Penas Alternativas prestavam serviço nessa área.
O segundo passo é a higienização, feita por uma funcionária. Alguns alimentos, que têm apenas uma parte deteriorada, também são passados ao setor. O pedaço não apropriado para alimentação é retirado e, depois, o alimento é lavado.
Assim que limpos, os alimentos são embalados e separados por cestas, de acordo com o número de integrantes e necessidades de cada família ou entidade.
Catiane Miranda da Costa, a responsável pela separação, trabalha há dois anos na unidade e monta as cestas de acordo com o bairro do dia, seguindo lista que indica a quantidade de adultos e crianças em cada casa ou instituição, além de conter dados de saúde que interferem na alimentação.
“Eu tenho uma lista indicando as pessoas com diabetes, anemia, cada uma com sua necessidade”, contou Catiane.
Antes de embalados, os alimentos podem ter um segundo caminho. Quando em número excessivo, abóboras, bananas e tomates são passados para o setor de processamento, que faz receitas.
Doces são preparados com as bananas e abóboras e molhos, com os tomates. Tudo é separado em porções e colocado nas cestas.
“Em época de goiaba, fazemos geleia. Aqui, não se perde nada”, contou a cozinheira Zeni Vaz, há dois anos e meio no banco. Ainda nesse setor, frutas são cortadas e separadas em porções, para serem encaminhadas aos beneficiados.
Semanalmente, 160 cestas são montadas, sendo encaminhadas para 3.443 pessoas, divididas em 150 famílias (com número médio de quatro integrantes cada), e 2.843 atendidos em entidades.
As instituições atendidas são 27 ao todo: Apodet (Associação dos Portadores de Deficiência de Tatuí), alojamento do Conservatório, ASA (Ação Solidária Adventista), Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Lar São Vicente de Paulo, Casa do Bom Menino, Casa de Acolhimento Institucional, Centro de Desenvolvimento Social Arte Pela Vida, Cairsj (Casa de Apoio aos Irmãos de Rua São José), Cooperativa de Reciclagem Tatuí, Força Para Viver, Fórum Evangélico Sorocaba e Região, Grev (Grupo de Estímulo à Vida), Grupo de Vivência Nossa Senhora das Graças, Lar “Donato Flores”, Pastoral da Criança (distrito de Americana), Pastoral da Criança (Paróquia São Lázaro), Recanto Betel, Recanto do Bom Velhinho, Recanto Vovô Orlando Bolzan, Santa Casa de Misericórdia, cozinha municipal da Prefeitura e Vicentinos São Peregrino, São Roque, São Lázaro, Sagrada Família e Nossa Senhora das Graças.
Outras cidades também são beneficiadas. “Quando há um excesso de produtos, por exemplo, quando chega muita abóbora ou milho e já distribuímos para todas as entidades, ligamos para Cesário, Quadra e Sorocaba, e repassamos”, afirmou a encarregada administrativa do Banco de Alimentos, Débora Proença.
Também são atendidos casos de emergência passados ao banco pela Prefeitura ou Santa Casa. Na ocasião da reportagem, beterraba e espinafre foram colhidos da horta da unidade e destinados a uma criança internada no hospital, com alto grau de desnutrição.
O atendimento prioriza os perfis de vulnerabilidade nutricional, que são descobertos nas consultas nas UBSs (unidades básicas de saúde) e passados via laudo para o banco.
As famílias em vulnerabilidade social, também atendidas, são avaliadas pela assistente social do banco e, quando integradas ao recebimento de alimentos, passam a ser acompanhadas a cada três meses para que se perceba a evolução.
“O interessante, para nós, não é só alimentarmos as famílias, mas sabermos o que as levou para essa situação. Então, se foi o desemprego, a assistente social encaminha para o PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador); se é baixa escolaridade, a profissional encaminha para o EJA (Educação de Jovens e Adultos), para que eles possam andar com as próprias pernas”, explicitou Débora.
Atualmente, para atender a todas essas pessoas, o banco conta, além da doação diária do supermercado, com outras três fontes de alimento: a horta cultivada no prédio, as cestas básicas oriundas de penas processuais e os produtores filiados ao PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), do governo federal.
Os produtos das cestas básicas são alocados no estoque seco, em que se confere as datas de validade e a quantia é fracionada. Todos os produtos que vão em embalagens com mais de um quilo são divididos em pacotes menores – açúcar, café, arroz e farinha de milho, todos divididos em porções de meio e um quilo.
“Quando as pessoas vêm entregar as cestas, chegam com dez pedras na mão. Nós explicamos todo o processo, e elas ficam mais felizes, apesar da pena que estão pagando, porque estão ajudando a vida de alguém”, contou Débora.
Já os alimentos dos produtores chegam por meio de contrato firmado entre o PAA e as cooperativas das cidades com as quais os produtores são filiados. Com vigência de julho a junho, cada cooperativa tem um valor determinado de quilos de alimentos a entregar.
O banco local recebe produções de Tatuí, Iperó e Capela do Alto, que são conservadas na câmara fria.“Os produtos do PAA têm que ser de ótima qualidade, pois são pagos. Então, destes, só é feita a logística para as cestas e entrega”, enfatizou Débora.
Na horta, dois estagiários, um voluntário e um funcionário trabalham diariamente na manutenção. No mês de julho, foram colhidos 71 quilos de hortaliças. “Tem que regar e ver as necessidades do dia também, como tirar pulgão, podar e colher”, contou a estagiária de agronomia Maria Lúcia Alves.
A soma de tudo, em julho, resultou em 19,5 toneladas de alimentos. Neste ano, o mês com menor volume foi fevereiro, com 14 toneladas, enquanto que janeiro teve a maior quantia, com 32 toneladas.
A entrega desses alimentos é feita diariamente, sendo que as cestas são levadas até as entidades, instituições ou casas das famílias.
Na fila de espera, estão, atualmente, cem famílias. Porém, a unidade terá aumento na capacidade de assistência, já que passará a receber a produção da cooperativa de Itapetininga e de Campina do Monte Alegre – provavelmente, a partir de setembro.
De Campina do Monte Alegre, virão frutas exóticas. “É outro patamar de alimentos, uma entrada diferenciada”, observou Débora.
As produções de Itapetininga passarão a vir para Tatuí por conta de nova determinação do programa PAA. “O PAA não pode ser entregue para a entidade diretamente. Os alimentos têm que passar por um banco de alimentos, que será uma central de logística”, explicou Débora. Como na cidade de Itapetininga ainda não existe este serviço, os produtos virão para Tatuí.
Apenas com a produção de Itapetininga, mais 10 mil pessoas poderão ser atendidas. Segundo Débora, as novas produções atenderão a cem famílias do Jardim Europa e Jardim Santa Rita, além de serem supridas as necessidades das instituições já inscritas.
“Com este novo PAA, vamos incluir as famílias do Jardim Europa e Santa Rita. Este é um plano desde o início do ano, mas, como não tínhamos o número necessário de alimentos, tivemos que esperar um novo contrato”, contou Débora.
Para suprir a nova carga de serviço, mais cinco ajudantes gerais serão integrados ao quadro de funcionários, que já conta com 20, além de um voluntário, dois estagiários e os prestadores de serviços da Central de Penas e Medidas Alternativas. Entre as funções, há nutricionista, assistente social, os ajudantes gerais e o setor administrativo.
Sobre os das penas alternativas, cada um cumpre a carga horária prevista judicialmente, trabalhando, em média, de quatro a seis horas por dia.
“Aqui, eles são tratados como os outros funcionários. Quando são menores de idade, as meninas vão para a cozinha e os meninos, para a horta, para aprenderem a trabalhar nessas duas áreas”, disse Débora.
Segundo ela, muitos entram sem ter nenhuma noção do que fazer e, após o período de serviço prestado por eles, enxerga a evolução. “Muitas saem contando tudo que aprenderam, é compensador para nós”, relata Débora.