Fim de contrato de fornecimento é fonte de preocupação de equipe que gere órgão
Com quase 60 toneladas de alimentos distribuídos a famílias e entidades no primeiro bimestre do ano, o Banco de Alimentos de Tatuí está à procura de novas fontes de arrecadação.
O programa é responsável por assegurar a distribuição de comida para mais de 300 famílias em situação de insegurança alimentar no município.
Entre os alimentos entregues pelo órgão, estão vegetais como chicória, alface, beterraba, mandioca, cebola, cebolinha, vagem, batata, abobora seca, moranga, banana, acerola e tomate.
Dos alimentos entregues pelo Banco de Alimentos, 22 toneladas foram fornecidas pela Arda (Associação Regional de Desenvolvimento Agrário), de Itapetininga. Outras 25 toneladas vieram da Coop (Cooperativa de Consumo).
A rede entrega alimentos fora do “padrão de venda” ou amadurecidos, porém, em perfeito estado de consumo. A Coop também doa alimentos secos, como feijão e arroz, cujos sacos foram furados durante o manuseio. Uma parcela menor dos donativos vem de doadores individuais e da horta do órgão, que tem 15 canteiros.
Antes de seguirem para as casas dos beneficiários, os alimentos das doações passam por triagem, para serem retirados os que não podem ser consumidos. Após essa etapa, são submetidos a lavagem, para limpeza. Os alimentos que sobram são armazenados em câmara fria até o dia seguinte.
A preocupação com a conquista de novas fontes de fornecimento deriva de possível extinção do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar), do governo federal. A União compra produtos diretamente de associações de pequenos produtores e cooperativas, que entregam diretamente aos bancos de alimentos.
Ao mesmo tempo em que fortalece a agricultura familiar, assegura a distribuição de alimentos às famílias mais carentes que estão em situação de insegurança nutricional. Atualmente, apenas um contrato está vigente e vencerá no mês de maio, sem expectativa de renovação.
“O que acontece é que o governo federal não renovou os contratos de compra por meio do PAA. Eles eram responsáveis pela maior parte dos produtos distribuídos. A complementação vinha dos supermercados da cidade”, explicou a assessora da Secretaria Municipal da Agricultura e Meio Ambiente para assuntos do Banco de Alimentos, Heloísa Saliba e Borges.
Conforme a assessora, a vantagem da compra direta do produtor é que os produtos que chegavam ao Banco de Alimentos ou eram colhidos no mesmo dia ou na véspera, o que assegurava maior durabilidade. A alta qualidade permitia que os funcionários sequer realizassem a limpeza e separação e que, assim, o desperdício fosse zero.
“É uma situação ruim para as famílias atendidas e para o pequeno produtor, que deixa de ter uma fonte de renda. Acreditamos que o governo possa fazer outro programa semelhante, ou até mesmo o Estado assuma a demanda. Estamos na espera”, informou.
Desde o ano passado, as aquisições via PAA foram minguando e o banco ficou mais dependente de doações. Atualmente, entre as empresas instaladas na cidade, somente a Coop (Cooperativa de Consumo) contribui com o banco. A rede foi responsável por mais de 40% das doações do primeiro bimestre.
“Tem empresas que estão entrando para nos ajudar. Ainda não podemos falar delas, mas teremos pelo menos mais dois grandes doadores nos próximos meses”, afirmou.
Para conseguir novas fontes, Heloísa está visitando supermercados e distribuidores de alimentos para firmar parcerias. Enquanto ela faz o serviço “porta a porta”, o assistente social Anderson de Queiroz gerencia o Banco de Alimentos no dia a dia.
“Ele (Queiroz) fica ‘full time’ (tempo integral) no banco para fazer a parte da gestão. Temos uma estrutura grande, que necessita de uma pessoa em tempo integral para administrar. Então, o órgão está sob os cuidados dele”, contou.
A equipe do Banco de Alimentos trabalha com déficit de pessoal. O ideal, de acordo com Heloísa, seria ter 18 funcionários, mas, por enquanto, são 14. Já foi solicitada à Prefeitura a contratação de servidores e estagiários.
“A nossa equipe, apesar de pequena, é fortalecida. Vamos trabalhar na qualificação dos funcionários, dando treinamento, para explicarmos a função do banco e os nossos principais objetivos”, explicou.
Nos últimos quatro anos, o órgão teria perdido, na visão da assessora, o foco na garantia à segurança alimentar. Alguns projetos, como os de orientação nutricional e de políticas sociais, teriam sido “deixados de lado”.
“Não é uma crítica partidária, mas faziam do banco um entreposto, entra e sai de alimentos. Temos outro projeto além deste, pois entendemos que a segurança alimentar vai além de entregar cestas. Queremos ensinar que o alimento é a dignidade das pessoas, é um direito fundamental”, opinou.
A “volta às origens” será acompanhada por uma revisão no modo de trabalho da equipe. A administração do Banco de Alimentos quer implantar uma “gestão horizontalizada”, na qual são realizadas reuniões semanais para apresentação do andamento dos trabalhos, tanto da chefia quanto dos funcionários, além de orientações.
De acordo com Heloísa, a equipe está empenhada em melhorar a dinâmica de trabalho. São dois pilares: aumentar o número de entregas de cestas diariamente sem aumentar os gastos com combustível e zerar a fila de espera por atendimento. Até quarta-feira, 22, eram 350 famílias aguardando por cestas básicas.
“A partir daí, vamos revisitar as famílias que recebem há bastante tempo e vermos se elas ainda estão passando por dificuldades”, explicou.
O Banco de Alimentos atende desde famílias em vulnerabilidade social e alimentar até casos encaminhados pelo Cras (Centro de Referência em Assistência Social) e UBSs (unidades básicas de saúde).
O órgão também abastece a cozinha do programa Envelhecer com Qualidade de Vida, do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí).
“Também enviamos alimentos para o Hiperdia, que atende pessoas com diabetes e pressão alta nas UBSs. As enfermeiras oferecem alimentação saudável para os atendidos, e os produtos são nossos”, contou.