Amanda Mageste
Médicos e pronto-socorro foram alvos de confusão durante a semana
Segunda-feira, 5, o vereador Dione Batista (PDT) divulgou vídeo no Facebook em que ele aparece dentro do Pronto-Socorro Municipal, afirmando que dois médicos estavam dormindo em horário de expediente. Outras pessoas da cidade apoiaram-no, divulgando as imagens.
No vídeo publicado pelo vereador não é possível verificar se a afirmação dele, de que os médicos estavam dormindo, é verídica, pois as imagens mostram, apenas, o interior do pronto-socorro e ele afirmando que havia acordado um plantonista.
De acordo com Batista, ele esteve no local na noite de domingo, 4, para segunda-feira, 5, para “fiscalizar” o atendimento. “Cheguei lá e vi um caos no PS, muita gente e nada de as pessoas serem atendidas. Eu fui lá no fundo ver, com meu papel de vereador, que é fiscalizar todos os órgãos públicos”.
A coordenadora municipal de urgência e emergência, Roberta Lodi Molonha Machado, refutou a afirmação de Batista quanto ao fato de haver muitas pessoas esperando para serem atendidas. “Pelo que a gente pôde apurar nas câmeras internas, não tinha fluxo de paciente”, afirmou ela.
“Pelo que vimos na câmera, tinha uma pessoa na recepção e duas no corredor, coisa bem baixa. Depois da meia-noite, o PS dá uma reduzida nos atendimentos”, afirmou Roberta.
Conforme a coordenadora, um irmão do vereador Batista chegou ao local para ser atendido. “A entrada dele está registrada 0h53 nas fichas internas do PS. Ele foi atendido em sete minutos pelo médico e, depois, encaminhado para a medicação”, acrescentou Roberta.
Segundo ela, o fluxo maior de pessoas no momento desse atendimento era de acompanhantes do irmão de Batista.
De acordo com a coordenadora, quando há poucas pessoas no PS, os médicos fazem uma escala de revezamento de descanso, para não pararem ao mesmo e deixarem o atendimento “descoberto”.
Quanto ao fato de haver médicos dormindo no local, ela disse que é direito deles terem uma hora de descanso e 15 minutos de refeição. “Como todo trabalhador, o médico tem direito a descanso durante seu período de 12 horas de plantão”.
“No momento em que aconteceu tudo isso, tinha um médico atendendo na porta, um na emergência, um estava em horário de janta e um médico descansando”, afirmou Roberta.
O vereador afirmou que entrou pelo fundo do PS e viu somente um médico atendendo no plantão e quis saber qual motivo de os outros três plantonistas não estarem no setor.
“Aí, me informaram que dois estavam dormindo e um tinha saído, uma e meia da manhã, para jantar na sua casa”, sustentou o vereador.
“Fui até o quarto dos médicos para ver se estavam dormindo realmente – às vezes, é muita fofoca que tem. Mas, cheguei lá, vi que tinham dois médicos dormindo e acordei eles”, afirmou Batista.
Dione ainda disse que o “único” médico que estava trabalhando quando ele chegou foi questioná-lo, perguntando o motivo de ele estar fazendo aquilo. Os dois acabaram discutindo, com “elevações de tons de voz”, mas, segundo o vereador, a discussão não passou disso.
“Eu falei para ele que estava vendo que ele estava trabalhando e que continuasse fazendo o papel correto, mas não era para defender os que estavam dormindo”, afirmou o vereador.
De acordo com Batista, ele conversou com um dos médicos que estava supostamente dormindo. “Ele falou que, realmente, estava dormindo, que é uma ‘brecha’ da lei, que eu não sei que lei é essa. Mas, ele já levantou e foi atender normal”.
“A saúde é crítica não só em Tatuí, é no Brasil todo. Queria deixar claro que não sou contra o prefeito”, finalizou Batista.
Roberta afirmou que, pela filmagem que o vereador publicou, não é possível comprovar o que estava acontecendo, mas que a repercussão do vídeo foi bastante negativa para o PS. “Tudo que vai para as redes sociais vira um caos”, argumentou.
A coordenadora acredita que a situação poderia ter sido resolvida de maneira mais calma. “Ele criou uma situação constrangedora dentro do PS, totalmente desnecessária Se achasse que estava acontecendo algo errado, ele podia ter ligado para mim, que eu tentaria resolver”.
Conforme Roberta, ela concordaria com o vereador se houvesse, por exemplo, muitas pessoas para serem atendidas e um médico só. “Mas, naquele momento, o fluxo era baixíssimo”, observou.
De acordo com a coordenadora, não aconteceu nada errado, uma vez que não houve negação de atendimento a nenhum paciente, negligência ou omissão.
Roberta afirmou que o caso está repercutindo de forma muito negativa no ambiente de trabalho, exemplificando que percebe funcionários “descontentes e coagidos”.
A coordenadora preferiu não divulgar os nomes dos médicos envolvidos na confusão, mas afirmou que dois deles pediram afastamento do cargo e não há outros profissionais para colocar no lugar deles. “A mão de obra é extremamente escassa, principalmente para quem trabalha em PS”.
“Os problemas aumentaram. Eu já tinha dificuldade em contratação médica, até porque Tatuí não é um centro médico. Então, a gente não consegue, muitas vezes, cumprir a escala de plantonistas”, afirmou Roberta.
De acordo com ela, são quatro médicos por plantão, ou seja, em cada período de 12 horas, há quatro plantonistas atendendo- um emergencista e três clínicos.
A coordenadora informou que, no momento, está procurando novos médicos plantonistas para substituir os que pediram afastamento. Conforme Roberta, o local estava passando por melhorias e, agora, ela está preocupada com a situação.
O PS realiza, aproximadamente, 450 atendimentos por dia, sendo 10%, “no máximo”, caracterizados como urgência e emergência. Segundo a coordenadora, a fila de espera já registrou tempo máximo de pouco mais de três horas em dias e horários de pico.
Segunda-feira é o dia em que há mais procura em atendimento. Nos outros dias da semana, o horário mais lotado é das 17h às 22h. A coordenadora afirmou que, nesse período, os quatro médicos sempre estão atendendo, exceto por problemas “pontuais”.
O secretário da Saúde, Máximo Machado Lourenço, acredita que o ocorrido acabou atrapalhando o andamento do PS.
“Estávamos conseguindo melhorar a qualidade de contratação de médicos. Depois disso, temos notado uma dificuldade enorme em buscar médicos para cumprirem a escala”, afirmou o secretário.
Para Máximo, a atitude do vereador pode começar a gerar “furos” em plantões, “causando pânico nos funcionários e insegurança no trabalho e nos pacientes”.
“O ambiente hospitalar é um local já estressante, preocupante. Então, a equipe tem que estar atenta e tranquila para poder atender melhor o paciente”.
Roberta afirmou que o PS é bem equipado e que não faltam medicações e exames. Porém, disse concordar que ainda existe demora no atendimento, por “mau uso da população e pela alta procura”.
“A demanda é muito grande, por situações que nem sempre deviam estar ali. Aí, cria todo esse fluxo, não consegue escoar e demora o atendimento”, ressaltou a coordenadora.
Máximo acredita que Batista errou ao entrar pelos fundos do PS. “Eu acho que cabe ao vereador a fiscalização, sim, do serviço, mas tem meios de fiscalizar, não invadindo dessa forma”.
De acordo com o secretário, ele ainda não recebeu relatório do que aconteceu na noite em que o vídeo foi gravado, mas disse estar preocupado em não conseguir contratar mais médicos plantonistas.
Para Roberta, os médicos não serão repreendidos pela diretoria do PS, pois, segundo ela, todos podem ter descanso e, pelo vídeo publicado por Batista, “não é possível ver exatamente o que aconteceu no local”.
Em relação ao valor que cada médico recebe por plantão, Roberta negou a afirmação de Batista, de que seriam R$ 1.800. Contudo, não divulgou o montante correto.