O coronel residente Carlos Miranda, de 85 anos, ainda é reconhecido pelo papel na série “Vigilante Rodoviário” e assediado por fãs, que o consideram como o primeiro herói da televisão brasileira.
O ator esteve no município na manhã do dia 8 deste mês, em evento que marcou as comemorações históricas da 3ª Companhia da Polícia Militar Rodoviária de Tatuí.
Durante a solenidade, na qual foi homenageado pela corporação, ele também recebeu fãs, deu autógrafos e tirou fotos ao lado do “famoso” Simca Chambord dele, o original, usado no seriado. Até acabou “assediado” por senhoras, que ficaram emocionadas em conhecer o ídolo de infância.
O ator nasceu em São Paulo, capital, a 29 de julho de 1933. Começou a carreira como cantor de circo e de parques de diversões, aos 15 anos. Em seguida, trabalhou nas empresas Maristela, ao mesmo tempo em que frequentava grupos do Teatro Popular do Sesi. Fez curso de ator, estreando na peça “O Ídolo das Meninas”, de Gastão Tojeiro.
Trabalhou nos estúdios da Maristela, no Jaçanã, até o fechamento da empresa. De lá, saíram os equipamentos para a montagem do primeiro estúdio de dublagem de filmes estrangeiros do Brasil.
Miranda tinha 26 anos quando viveu o personagem “Inspetor Carlos” na primeira série brasileira filmada em película de cinema. Com 38 episódios, o seriado foi ao ar em 1961, pela TV Tupi, e, posteriormente, também acabou exibido pela TV Globo, nos anos 70.
Criada pelo cineasta Ary Fernandes, junto com o produtor Alfredo Palácios, a série apresentava as aventuras de um vigilante (interpretado por Miranda), que, acompanhado pelo fiel cão “Lobo”, percorria estradas e ruas das grandes cidades, “levando segurança proteção e mensagens educativas para crianças e adultos”.
A bordo de um Simca Chambord 1959, ou pilotando uma moto Harley-Davidson 1952, a dupla se tornou um dos maiores sucessos da TV.
O inspetor Carlos ficou tão conhecido que o ator Carlos Miranda, até o momento, participa de encontros de carros antigos, resgatando a memória da TV brasileira, e também divulga em universidades, escolas e comemorações cívicas o trabalho da Polícia Militar do Estado.
De acordo com o ator, “é importante manter viva a história do ‘Vigilante’ e também a da TV brasileira”. Em entrevista a O Progresso, ele ressaltou que se orgulha por ainda ser lembrado como o primeiro herói das telinhas.
“Sou lembrado pelo meu papel na primeira série exibida na América Latina, e isso é motivo de grande orgulho. A série ainda passa no Canal Brasil e na Net. Acho que esse trabalho realmente tem que ser preservado”, frisou.
“Não é porque sou eu que fiz o filme, isso é um trabalho brasileiro, feito com poucos recursos em uma época muito difícil. Todo esse esforço tem que ser valorizado”, acrescentou.
O militar lembra que conseguiu o papel após passar por uma seleção com 127 candidatos. Depois de fazer teatro no Sesi, ele trabalhou como assistente de produção em comerciais de TV. Nessa época, conheceu Alfredo Palácios e Ari Fernandes, que mais tarde se tornariam, respectivamente, produtor e diretor da série.
Depois de quase 130 pessoas serem reprovadas no teste para o papel, a esposa de Fernandes sugeriu que ele colocasse a farda e gravasse uma cena. Assim surgiu o “Inspetor Carlos”.
O ator ainda ressaltou que, pela série, foram lançados nomes como Rosa Maria Murtinho, Fúlvio Stefanini, Ari Toledo e Juca Chaves, entre outros atores bastante conhecidos.
“A televisão estava começando, ela chegou nos anos 50. Então, queríamos mostrar que nós tínhamos condição de fazer a mesma coisa que os estrangeiros. Não tinha grandes tecnologias como existe hoje, eu não tinha nem dublê. Todas as cenas era eu mesmo que fazia, até as mais perigosas”, relembra o ator.
Um dos trechos do livro “Capitulo 129 – A História da Companhia da Polícia Militar Rodoviária de Tatuí”, lançado no mesmo evento de quinta-feira, é dedicado a Miranda, contando a história dele na carreira militar e artística.
Uma das histórias diz respeito ao título que ele conquistou em 1992, sendo inserido no livro dos recordes (“Guinness Book”) como o único ator do mundo a se tornar, na realidade, o personagem que havia interpretado na ficção.
Após o término da série em 1962, Miranda foi convidado pelo então comandante-geral da Força Pública, o general de Exército João Franco Pontes, para ingressar na carreira policial. Para interpretar o personagem do Vigilante, o ator tinha feito a escola de Policiais Rodoviários em Jundiaí.
Depois de 25 anos na PM e tendo feito todos os cursos na corporação, em 1998, passou para a reserva como tenente-coronel. A mudança de carreira, segundo ele, veio em razão do amor que desenvolveu pelo policiamento rodoviário.
“Depois, a escolha veio pela série e pelas amizades que eu tinha. Tenho mania das coisas certinhas, direitas, sou amante do horário e da palavra. Isso tudo fez parte do meu personagem e fez com que eu escolhesse a carreira militar”, comentou Miranda.
Questionado sobre as duas carreiras, enfatizou: “Prefiro a de polícia. Não menosprezando, fui ator durante muitos anos, fiz teatro, cinema, televisão, mas ainda acho que a polícia é um condutor da moralidade e da ética. Admiro muito, e acho que isso que não pode acabar”, concluiu.