Na semana passada, o Conselho Tutelar informou a pretensão de promover palestras para orientar pais de alunos da rede municipal sobre como identificar supostos casos de abuso sexual e como preveni-los. As reuniões seriam realizadas paulatinamente em cada uma das unidades de ensino.
Conforme divulgado pela presidente pelo CT, a cidade registra dois casos de abusos sexuais envolvendo crianças e adolescentes por mês. Entretanto, os números podem estar subestimados, uma vez que parte das ocorrências costuma não chegar ao conhecimento das autoridades.
Nesse sentido, as palestras buscam a prevenção, particularmente no sentido de orientar os pais sobre como identificar os casos de abuso sexual e pedofilia.
Muito preocupante é o fato de ser comum os jovens denunciarem abusos infantis quando chegam à adolescência. Alguns pais, acentua o conselho, acabam não acreditando na seriedade dos relatos e deixam de denunciar o abuso sofrido pelos filhos.
As palestras, contudo, teriam enfoque de público diferente das ministradas no ano passado, quando foram visados os adolescentes a partir do 6o ano do ensino fundamental.
“Desta vez, queremos conversar diretamente com os pais, pois o assunto é mais delicado. Queremos conversar nas escolas infantis, mostrar que esses casos ocorrem perto de nossas casas, dos nossos filhos”, declarou a presidente do órgão, Líliam Quevedo Meira.
A ocorrência de abusos sexuais na infância e na adolescência pode causar sequelas nas vítimas pelo resto da vida e “tornar-se um ciclo”, com comportamento repetitivo, ressalta o CT.
Os sinais comportamentais que crianças e adolescentes “emitem” quando estão sofrendo violência sexual devem nortear as conversas.
Entre as mudanças no comportamento, estão a alteração na fala, evasão escolar, hipersexualização, problemas na autoestima, agressividade, rebeldia, enurese (hábito involuntário de fazer xixi na roupa ou na cama), encoprese (incontinência fecal), medo excessivo, bulimia, anorexia, insônia e transtornos alimentares.
Entretanto, deve-se ressaltar que nem todas as crianças com esses comportamentos são “vítimas”, daí ser fundamental saber identificar as nuances.
Lembrando ser a pedofilia um termo usado exclusivamente em casos de adultos que têm interesse sexual por crianças, o CT reforça que o agressor, por vezes, é íntimo do núcleo familiar, ou mesmo parente da vítima.
“Pessoas que estão sempre disponíveis, como, por exemplo, para ficar com o filho dos amigos, dispõe-se a buscá-lo na escola, propõe a cuidar deles até chegar do trabalho. Eles sempre procuram ter a confiança dos pais” – também, não se esquecendo de que essas atitudes, por si só, não identificam o pedófilo.
Porém, “conquistada a confiança dos pais”, o abusador ganha mais liberdade para investir contra a criança. Na maioria dos casos, o abuso ocorre após ameaça contra a vida da mãe ou do pai.
Outro ponto extremamente delicado é o de que os adolescentes que sofreram abuso na infância, quando relatam o ocorrido, contam não terem a crença dos pais.
“Os pais não querem nem falar a respeito do assunto por não darem crédito. Temos casos envolvendo avôs, padrastos, tios e amigos da família”, contou a presidente.
Até por isso, o CT reitera que cabe aos pais ouvirem os filhos e denunciarem os casos de violência sexual às autoridades. Quando a comunicação é feita na delegacia, é de praxe ser solicitado exame de corpo de delito na vítima.
Uma das dificuldades locais, por sua vez, segundo o conselho, é a falta de uma unidade do Instituto Médico Legal em Tatuí. As vítimas têm de ser levadas até Itapetininga para passarem pelo atendimento especializado.
O tempo pode ser um grande empecilho na coleta de materiais da vítima. Por isso, quanto antes se leva a criança ou o adolescente até a autoridade policial, melhor para a comprovação do crime.
A vítima precisa passar por exame até 72 horas após o estupro para colher material orgânico do agressor. As chances para comprovar e prender em flagrante o autor depois disso seriam “mínimas”.
Em casos nos quais a vítima não sofre penetração, é ainda mais difícil a comprovação pericial, pela falta de provas materiais, mesmo que a vítima descreva o ocorrido. Aí, o criminoso responde em liberdade.
Finalmente, outro fator não menos importante – embora fartamente notado – é a exponencial exposição de crianças nas redes sociais. Por conta disso, o CT aconselha aos pais que evitem postar fotos dos filhos. Casos de abuso, por vezes, começariam pelo interesse do agressor em fotografias da vítima.
“As mães, hoje, têm o hábito de postar no ‘Facebook’ a foto do primeiro banho do filho, o bebê sem roupa, filho brincando no parquinho. As redes sociais têm algo bom por oferecer informação, mas podem servir de portfólio para pedófilos”, argumentou a presidente.
Parece extraordinário, mas não menos extraordinária é a condição doentia de muita gente, que tanto pode se excitar vendo imagens de crianças quanto sentir prazer em expor os filhos na internet, tal eles próprios, como se fossem celebridades.
Aos pedófilos – além de tratamento mental –, cabe a prisão; aos egocêntricos das redes sociais – que não poupam sequer a intimidade dos próprios filhos -, no mínimo, um aconselhamento de bom-senso seria bem-vindo.