José Renato Nalini *
O corvo de Edgar Alan Poe repetia “nunca mais”. Há quem sustente que “nunca mais” é muito tempo. Não se deve duvidar de que algo ressurja. Porém, fica difícil acreditar que o Brasil recupere as décadas perdidas em política suja, desinteresse pela coisa pública, deseducação acelerada e mergulho na indigência moral.
Enquanto patinávamos às voltas com a péssima expressão da Democracia Representativa, outros países investiam em educação de qualidade e fizeram de sua mocidade expoentes na ciência e na tecnologia.
Não será possível recuperar esse tempo, nem progredir queimando etapas. Não há progresso “per saltum”. Resta saber o que o destino oferecerá ao Brasil de nossos netos.
A indústria brasileira está sucateada. Já chegou a ser 20% do PIB, hoje significa menos de 10%. Não compete com o avanço das indústrias de ponta do primeiro mundo.
Esse é um dos motivos pelos quais não adianta comparar a robotização de outras nações com a quase ausência de robôs em nossas empresas. O nosso know how está abaixo da utilização dessas máquinas movidas a inteligência artificial.
O grande show do agronegócio pode adquirir máquinas sofisticadas, que funcionam automaticamente, dispensando condutores. Mas tais equipamentos não serão consertados com chave de fenda, estopa e querosene. Precisam de engenheiros especializadíssimos. Não os temos.
Nossa Universidade continua a teorizar. Tudo é teoria. Não temos insuficiência de dissertações, teses, estudos de pós-doutorado. Mas não conseguimos implementar as ideias. Aquele fosso intransponível entre um discurso edificante e uma prática miserável.
A saída para o Brasil está em se converter no destino turístico do planeta. Isso se revertermos essa ignorância atroz de destruir tudo o que já está pronto – 8.000 quilômetros de litoral, ecossistemas inexistentes em outras partes do globo – e investirmos naquilo que apavora o viajante estrangeiro. Insegurança, violência, serviços de baixa qualidade.
A distância que nos separa do mundo civilizado não é empecilho. O único problema somos nós mesmos. Não compreendemos que precisamos trabalhar com aquilo que temos. Precisamos de infraestrutura. Portos melhores, ferrovias que permitam ao estrangeiro deslocar-se de um ponto a outro do nosso território. Serviços confiáveis. Cultivar os bons modos, que já os perdemos há algumas décadas. Tratar bem quem nos visita. Investir na restauração de espaços degradados. Construir hotéis decentes. Spas para todos os gostos. Formar agentes turísticos qualificados. Trilíngues, pelo menos. Precisamos ganhar confiabilidade. O Brasil turístico não é levado a sério, porque falta profissionalismo.
Chega de desmatar e de desmentir aquilo que os fatos evidenciam. Contra fatos não há argumentos. Contra números não é possível tergiversar. Levar a política do turismo a sério. Como indústria, como investimento. Sem amadorismo. Sem improvisação.
Isso é o que ainda temos. É nisso que devemos pensar. Competir naquilo que podemos oferecer. Não correr atrás do prejuízo, porque esse já está aí, nos quase 13 milhões de desempregados, que podem chegar a 30 milhões, se incluídos os que gostariam de trabalhar mais, contudo estão ociosos e naqueles que desistiram de procurar emprego.
Vamos prestar atenção nisso. Enquanto ainda há tesouros não completamente destruídos. Se perdermos a chance, então poderemos falar como o corvo de Poe: “Nunca mais!”.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2019-2020.