Ivan Gonçalves, artista plástico e ex-empresário da área de comunicação – tendo sido, inclusive, um dos proprietários do jornal O Progresso entre os anos de 1981 a 1994 -, agora, aos 70 anos, está concretizando um novo projeto, desta vez na área social.
Sozinho e superando limitações físicas por deficiência visual, começou a fabricar brinquedos de madeira para serem doados a crianças carentes como presentes de Natal.
A distribuição, dividida em três etapas, teve início no domingo da semana passada, 16, no Jardim Santa Rita de Cássia, durante ação mensal realizada pela Pastoral da Criança, movimento da Igreja Católica, na capela da paróquia local. Uma vez por mês, a equipe da pastoral promove evento voltado às famílias assistidas.
O grupo monitora 52 crianças e também presta atendimento aos parentes delas, conforme explicou Leiliane Pereira da Silva, uma das coordenadoras da pastoral.
Todo terceiro sábado de cada mês, Leiliane reúne os membros da comunidade para promover ações de acompanhamento à saúde das crianças. Ela participa dessa atividade há três anos, recebendo ajuda de voluntários.
São atendidos meninos e meninas de zero a seis anos de idade. “Cuidamos das crianças desde antes de elas nascerem, ainda quando estão na barriga das mães”, explicou.
Nos eventos, a equipe conversa com os pais para saber se há problemas com a criança. Os voluntários também promovem a pesagem dos pequenos e verificam se eles estão com as cadernetas de vacina em dia. Orientam sobre higiene, cuidados de saúde e a respeito de direitos que devem ser respeitados.
“Nós fazemos cursos de capacitação para trazermos informações importantes para as comunidades. São assuntos que as famílias, muitas vezes, não têm conhecimento. Há várias mães desinformadas”, comentou a coordenadora.
Segundo Leiliane, a falta de informação impede as pessoas de terem acesso a serviços básicos, como consultas em postos de saúde, por exemplo. Além disso, a ignorância pode dificultar o tratamento de doenças ou a alfabetização. “Procuramos, sempre, ver as dificuldades das crianças e dos pais delas”, frisou.
O trabalho mensal permite que a equipe faça ajustes nos atendimentos, a partir dos dados registrados. “Quando começamos o trabalho aqui, as crianças estavam abaixo do peso. Algumas morriam por desnutrição. Hoje em dia, não. As crianças estão acima do peso, pela má alimentação”, ressaltou.
Para permitir que as famílias tenham acesso a alimentos mais saudáveis, Leiliane contou que a pastoral promove ações específicas. Uma delas é a de estimular os pais ou responsáveis pelas residências a implantarem hortas caseiras.
Embora priorize a criança, a pastoral atende todos os familiares. “Onde come um, come cem”, brincou a coordenadora. No dia 16, todos foram recebidos com bolo e balas, além dos brinquedos fabricados pelo artista plástico.
Gonçalves resolveu distribuir as peças artesanais primeiro na comunidade por influência do amigo Roberto di Giulio, que trabalha na paróquia de Santa Rita como voluntário desde 2006. Responsável pela liturgia (ritos e cerimônias), ele colabora com a Pastoral da Criança há anos. “O evento de hoje é especial. Acontece, praticamente, para que os brinquedos possam ser entregues”, explicou.
Giulio e Gonçalves são amigos há décadas. Em conversa com o artista plástico, o representante paroquial tomou conhecimento da produção dos brinquedos. Constatou que ele os estava produzindo havia um bom tempo.
“Ele foi fabricando no decorrer do ano, e queria doá-los em uma época propícia. Nós indicamos, e ele concordou em concentrar uma parte da entrega aqui”, explicou.
As outras duas distribuições serão feitas no Jardim Gonzaga e na vila Esperança. Em cada um dos bairros, Gonçalves conta com a ajuda de amigos para definir local e quem serão as crianças contempladas.
“Esse é o primeiro ano, e parece que deu certo. No ano que vem, esse trabalho será multiplicado”, projetou o artista. Segundo ele, a previsão será cumprida. Isso porque teve a confirmação de ajuda de outros quatro voluntários.
“Nós não temos interesse financeiro nem nada. Precisamos de material, que é madeira. Mão de obra também é bom. E já consegui quatro marceneiros para ajudar”, conta.
Caso todos mantenham a palavra, o artista poderá entregar 400 brinquedos no ano que vem. “A intenção de divulgarmos essa ação é justamente essa, de conseguirmos materiais e pessoas para ajudar na empreitada”, acrescenta.
Em 2019, os trabalhos serão realizados mais cedo. A intenção é aumentar o prazo de coleta de materiais e o tempo de produção. Para fabricar os mais de 130 brinquedos, Gonçalves levou quatro meses. No próximo ano, já em grupo, pretende começar o trabalho pelo menos seis meses antes da entrega.
A produção das peças começou como uma brincadeira. “Não queria ficar ocioso”, confessou o artista. Passado um tempo e acumulada uma quantidade significativa de peças, veio a ideia da doação.
Embora seja artista plástico, Gonçalves precisou de perseverança. Além de ter um problema de visão congênito, o artista sofreu, há cerca de quatro anos, um AVC (acidente vascular cerebral).
Para não permanecer parado, estipulou a meta de produzir os brinquedos sozinho. Durante os quatro meses que antecederam a entrega, trabalhou todos os dias. E, para concluir os trabalhos, contou com ajuda de profissionais.
“Como não sou marceneiro, sou só curioso, eu preciso do apoio de profissionais. Eles viram os brinquedos e deram opiniões para aperfeiçoá-los”, conta.
Os amigos também contribuíram com doação de materiais. “O próprio Roberto desmontou um guarda-roupas de casal dele e cedeu para mim”, lembra.
A madeira do móvel foi usada para fabricar lousas em miniatura. A lista de brinquedos inclui cavalos de madeira, aviões, carrinhos e “tangrans”, um quebra-cabeça geométrico chinês formado por sete peças.
Caso receba novos materiais, o artista plástico poderá desenvolver peças diversificadas, a serem doadas no Natal. Os interessados em contribuir com a iniciativa podem entrar em contato pelo Facebook (procurando por Ivan Gonçalves).