A Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Social divulgou, nesta semana, que houve queda no número de pessoas em “situação de rua no município”. Em janeiro, 37 pessoas nascidas em Tatuí perambulavam pelas ruas. Em setembro, o número oscilava entre 20 e 25, conforme o órgão.
O levantamento da pasta aponta que os moradores de rua se concentravam em diversos pontos da cidade. No centro, ocupavam calçadas do Mercado Municipal “Nilzo Vanni”, o entorno da Rodoviária Municipal “Pedro de Campos Camargo”, as proximidades do Lar São Vicente de Paulo, a calçada do velório municipal e a frente de uma loja de imóveis na rua 11 de Agosto.
A secretaria mapeou que os ambulantes pernoitavam, ainda, na Praça da Matriz, praça Santa Cruz, a calçada de uma farmácia no bairro Quatrocentos, a antiga estação ferroviária e o pátio de um posto de combustíveis desativado, na rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127).
Os dados não levam em consideração os “migrantes”, conforme o gestor da Assistência Social, Edmar Pereira. De acordo com ele, é preciso levar em consideração que “também há pessoas em situação de rua que são migrantes”.
“Por estarmos localizados próximos a grandes centros urbanos, como São Paulo, Sorocaba e Campinas, e termos fácil acesso por meio de duas importantes rodovias do Estado (Castello Branco e Raposo Tavares), o fluxo migratório da população em situação de rua é maior”, argumentou o gestor.
Ele explicou que as pessoas são encaminhadas a instituições da cidade, como a Casa de Apoio aos Irmãos de Rua São José. Elas permanecem no espaço até receberam passagens de ônibus que as permitam voltar às cidades de origem.
O atendimento prestado aos moradores de rua é considerado “intenso” e promovido por uma equipe de profissionais do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
“Diariamente, realizamos abordagens onde conversamos com essas pessoas, cadastramos e, quando há aceitação, encaminhamos aos serviços socioassistenciais”, disse a assistente social e coordenadora do Creas, Nativa Quedevez de Souza.
Os moradores atendidos são levados ao Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e Creas. Há, também, encaminhamentos nas áreas de saúde para o Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e UBSs (unidades básicas de saúde).
Além da Casa de Apoio aos Irmãos de Rua São José, alguns moradores de rua são direcionados para atendimento da Comunidade Terapêutica Força para Viver.
“Para os moradores de Tatuí que não possuem vínculos familiares, a casa oferece acolhimento e, após identificados os casos, é feito o encaminhamento para o Creas, que trabalha a possibilidade de reconstrução dos vínculos familiares com o objetivo do retorno para a família”, divulgou Nativa.
Outra ação realizada pelo Creas é a regularização da documentação dessas pessoas. De acordo com Nativa, o perfil dos moradores de rua é de dependentes químicos de álcool e drogas.
“Diferentemente dos grandes centros urbanos, não temos, hoje, famílias que moram nas ruas por falta de residência ou de emprego. A condição que as levou para a rua é a dependência química. Daí a dificuldade em fazê-las voltar para a casa ou ir para uma casa de apoio”, afirmou.
Pereira acrescentou que a política de assistência social visa à garantia de direitos e não ao assistencialismo, como é o caso de doações de dinheiro, distribuição de marmitas ou cobertores.
“Eles precisam muito mais do que isso, precisam que seus direitos sejam preservados e garantidos com uma nova perspectiva de vida, com um atendimento técnico, digno e ético”, argumentou.
Pereira acrescentou que quem tiver interesse de doar deve fazê-lo em benefício de alguma instituição que acolhe as pessoas, como é o caso da Casa de Apoio aos Irmãos de Rua São José.
Novas realidades
Além do balanço, a secretaria divulgou depoimentos cedidos por um casal e outras duas idosas que estavam em situação de rua. Atualmente, eles vivem “outra realidade”.
O casal L. E. B. S., 32 anos, e E. M. A., 48 anos, ficou nas ruas de Tatuí por cerca de dois anos. Há quatro, eles conseguiram alugar uma casa no Residencial Astória. De acordo com a Prefeitura, o primeiro começou a fazer “bico” como ajudante de pedreiro e pintor, e a esposa dele, aposentada, cuida da casa e das plantas.
Durante o tempo em que ficaram nas ruas, os dois receberam atendimento de abordagem social do Creas. A equipe orientou o casal quanto às possibilidades e acesso a políticas públicas.
Atualmente, os dois continuam recebendo o acompanhamento da assistência social, uma vez que o pedreiro teve uma recaída com o álcool. Ele voltou para as ruas e foi novamente recolhido em abrigo. A esposa dele continua na residência.
Outra situação é da senhora L. R. C., 76 anos. Mesmo com duas aposentadorias, ela ficava nas mediações do Mercado Municipal devido à dependência ao álcool. Com o trabalho das assistentes sociais, ela foi levada para uma casa de repouso, onde vive há um mês.
História semelhante tem I. A. S., 73 anos, que também vivia no Mercado Municipal. Ela era dependente alcoólica. Após as abordagens, as assistentes sociais conseguiram localizar uma filha dela (abandonada quando criança).
Segundo a equipe de assistência, a parente aceitou, com as duas aposentadorias que a mãe recebe, colocá-la para residir em uma casa de repouso.