Prestes a completar 20 anos de atividade, a Apodet (Associação de Portadores de Deficiência de Tatuí) quer mudar. Com apoio dos demais membros da diretoria, a nova presidente da instituição tatuiana, Fabiana Pais de Oliveira, a Fafá, anunciou projetos que prometem “revigorar” a entidade.
Eleita em 16 de agosto, a nova equipe que administra a associação tem planos que começam já no próximo mês. A cerimônia de apresentação oficial da diretoria deve acontecer em outubro. O grupo planeja realizar um bingo beneficente até o fim do ano. A ação dará início a uma sequência de novidades.
Fabiana se tornou presidente da Apodet mais de três anos depois de ter prestado serviços para a instituição. A história dela com os portadores de deficiência começou dessa forma. “Era para eu atuar oito horas por semana, durante três meses, mas acabei ficando por mais de três anos”, contou.
Na instituição, atuou como voluntária e, posteriormente, integrou a diretoria. O convite para participar das decisões administrativas veio por conta do esforço pessoal da nova presidente.
Com o tempo, ela mostrou empenho e encabeçou algumas iniciativas que visavam apoio. Ajudou a promover almoços, bingos e corridas com reversão de recursos.
“Aí, tornei-me presidente, só que minha atuação no voluntariado não se restringe à Apodet. Atuo por 13 anos ajudando o asilo (Lar São Vicente de Paulo), a Litac (Liga Tatuiana de Apoio aos Cancerosos) e em outros projetos”, mencionou.
A entidade está localizada na rua Coronel Aureliano de Camargo, 704, no centro, em residência alugada. Apesar de ter localização considerada ideal, a nova presidente explicou que o imóvel carece de melhorias, pelo menos na parte estrutural.
“Não consigo melhorar o atendimento, porque precisávamos ter barras de ferro para que as pessoas pudessem se apoiar. Precisamos de um monte de mudanças, como um novo piso para facilitar a mobilidade”, argumentou.
Sem estas melhorias, Fafá afirmou que a instituição não tem condições de ampliar o atendimento. A preocupação da diretoria é tanto com as condições estruturais quanto com as financeiras.
“Não possuímos ajuda de custo. Contamos com um apoio que vem do Judiciário, mas que nos garante R$ 8.000 para que possamos pagar as contas básicas”, destacou.
Sem caixa suficiente para promover as reformas necessárias no prédio atual, a presidente antecipou que a diretoria pensa na possibilidade de mudança de endereço.
Contudo, a proposta deve ser avaliada e depende da mobilização de todos os membros do grupo administrativo. “Minha chapa tem pessoas bem relacionadas, que vão me ajudar a erguer a instituição”, declarou.
Para a presidente, o primeiro desafio a ser superado é a mudança estrutural da Apodet. Contudo, a instituição deverá ponderar se tem condições de mudar de espaço, ou se vai permanecer no mesmo local, mas tentando a revitalização. Esta segunda opção se deve ao preço de locação do imóvel atual.
Fafá explicou que o custo para a associação é de menos de um salário mínimo. O aluguel de outro imóvel, também no centro, poderia ser mais oneroso. Uma solução viável para eventual mudança de endereço seria a alocação de recursos por meio de empresa (que arcasse com o aluguel).
Para conseguir o recurso, a presidente já começou uma mobilização. A entidade quer estreitar contatos com as empresas do município e região para ter suporte. Se obtiver sucesso, pretende ampliar o modelo de atendimento oferecido aos portadores de deficiência que procuram a instituição.
Os planos são de agregar novos suportes, como a presença de advogado para atender as pessoas que sofreram discriminação, ou tiveram direito cerceado (como no caso de recusa ou cancelamento de benefício de gratuidades). “É claro que o trabalho teria de ser voluntário, porque a Apodet não tem condições de pagar advogado”, antecipou.
Também há a intenção de se oferecer o trabalho de um dentista para atender os deficientes sem condições de pagar consulta particular. “Podemos estudar soluções alternativas. O profissional poderia, por exemplo, oferecer 80% de desconto para os nossos assistidos”, sugeriu.
Serviços de fisioterapia e atendimentos psicológicos também podem ser oferecidos. No entanto, Fafá afirmou que este tipo de prestação demanda ser voluntária.
“Quem nasceu deficiente, consegue digerir melhor as dificuldades, porque vai crescendo e se adaptando ao mundo. Agora, quem sempre esteve ótimo, e, de repente, torna-se deficiente é muito mais difícil. Então, é preciso ter um psicólogo, próteses para oferecermos à população e cadeiras de rodas”, enumerou.
Para os próximos dois anos, a intenção da diretoria é de promover a troca de cadeiras de rodas e ampliar o número de equipamentos disponíveis aos assistidos. “É deprimente ver o estado das cadeiras de rodas que temos. Queremos ter mais equipamentos até para emprestarmos para outros”, comentou Fafá.
Segundo a presidente, os dispositivos poderiam ser cedidos também a pessoas que não frequentam a entidade. “Alguém que quebrou a perna poderia fazer uso do equipamento, ou mesmo as pessoas que precisaram, por um motivo ou por outro, ter membro inferior amputado. É para isso que a instituição existe e precisa funcionar”, acrescentou.
Atualmente, a Apodet concentra os atendimentos a pessoas com deficiência visual. No entanto, Fafá explicou que a instituição também pode atender a outras incapacidades. Os assistidos têm aulas de mobilidade, braile e artes plásticas.
“Também servimos um almoço, mas cujo custo estou tirando do meu bolso, porque, por enquanto, não temos apoio de empresários e mercados”, contou.
Em média, 16 pessoas são atendidas pela instituição. Os deficientes participam de atividades em toda quarta-feira. “Infelizmente, não atendemos mais, porque não temos recursos”, afirmou.
Também por falta de receita, a Apodet não aproveita todos os equipamentos dos quais dispõe. Entre eles, os de exercícios físicos, doados pelo Rotary Club. Fafá argumentou que a sala não pode ser usada porque a associação não tem condições de pagar profissional de educação física. “Sem acompanhamento, fica complicado”, alegou.
Por outro lado, quando recebe apoio voluntário, a instituição consegue manter serviços considerados essenciais. Entre eles, o curso de mobilidade voltado aos deficientes visuais, ministrado por Talita de Campos.
A associação também recebe apoio de Eronides dos Santos, o Nide, que desenvolve projetos de atletismo e mantém equipe vencedora de competições.
“Temos um monte de trabalho para realizar, mas o que está nos impedindo é a escassez de recursos financeiros. Preciso de cotistas para suporte”, frisou a presidente.
A ideia da instituição é de convocar a sociedade civil, em uma grande campanha de apoio, para formar caixa a novos projetos. Entre eles, a reforma do prédio atual ou a transferência da sede.
A mudança é considerada, pela presidente, uma medida menos onerosa. Isso porque, em outro imóvel, a associação poderia desenvolver novas atividades.
O prédio atual tem seis cômodos, que abrigam a sala de computadores, o escritório administrativo, o espaço para massagem, a cozinha, a academia e a biblioteca.
“Não há mais espaços para que possamos desenvolver novas ações. Não consigo, e, no dia que recebemos todos os 16 assistidos, ficamos em pânico”, lamentou.
Nova roupagem
Junto com os projetos de reforma ou transferência da sede, ampliação de voluntários e campanha para conseguir patrocinadores, a Apodet pretende promover mudanças em ações já permanentes, como o modelo do bazar de usados.
A presidente quer reduzir o período de vendas de roupas, calçados e acessórios. O bazar permanente da instituição – que não está ativo – funcionava diariamente. Entretanto, conforme Fafá, resultava em arrecadações pequenas, necessitando de esforço maior por parte dos voluntários.
Conforme ela, a instituição precisava manter um colaborador durante todo o período de funcionamento. O voluntário permanecia ocupado a semana toda, ficando impedido de contribuir em outras frentes de trabalho da instituição.
Pensando em ampliar o lucro e em como maximizar o apoio recebido de voluntários, a diretoria pretende transformar o bazar em um evento, tendo como norte as ações desenvolvidas pelo Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí). A intenção é realizar um grande evento, em prazo de três a cinco dias, que permita visibilidade e mais vendas.
“Temos um bazar que pretendemos que comece a gerar lucro para que possamos pagar contas básicas, como de água e luz. Não gostaríamos de ficar mexendo na conta que temos para as necessidades básicas”.
A partir da economia, a Apodet pretende realizar um “desejo”: comprar uma Kombi. O veículo é considerado necessário para garantir melhores condições aos assistidos. Fafá argumentou que alguns deles não têm condições de se locomover do bairro onde residem até a sede da instituição.
De modo a atender a alguns, ela contou que faz uso de veículo próprio para transportá-los. Fafá acrescentou que ganhara, como “recompensa”, três multas.
As punições teriam sido emitidas por estacionamento em local impróprio (parada em faixa amarela). Fafá contou que levara as multas em ocasiões nas quais precisara parar o veículo em faixa inapropriada, por falta de vagas destinadas a deficientes.
Na opinião da presidente da Apodet, há espaços “insuficientes” na cidade. Ela também afirmou que faltam sinalização (placas indicativas) e fiscalização de veículos. Conforme a presidente, muitos motoristas que param os automóveis nas faixas exclusivas não exibem, sequer, documentos.
Além do bazar, Fafá quer promover almoços e jantares beneficentes em prol da Apodet. Os planos incluem excursões com os assistidos e intervenções, como a promovida pelo CMDPC (Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência), na Praça da Matriz, no mês passado.
As ações devem, conforme Fafá, contribuir para tornar a Apodet mais conhecida na cidade. Uma vez em evidência, a diretoria pretende aproveitar a oportunidade para demonstrar os projetos desenvolvidos e os que pretende realizar.