Entre inumeráveis oportunidades e eventos perdidos em razão da pandemia de coronavírus – além das vidas abreviadas, mais terrível entre todos os lamentos -, Tatuí chega à data de celebrar seus 194 anos sem razão e ocasião para festa.
Em 2020, quase tudo é “virtual” e, pelos modismos, isto pode até dar caráter de positividade, mas não necessariamente. Ensinam os dicionários, de maneira generalizada, ser esse termo indicativo de “não real”, de “simulado” – distante, logo, da afetividade esperada e bem-vinda especialmente em momentos de celebração.
Não há outra alternativa, por certo – ao menos pela ótica daqueles a respeitar a vida alheia, cônscios do perigo tão invisível quanto indiferente aos desbundes ideológicos extremistas.
Seria ótimo poder testemunhar, por exemplo, mais uma premiação dos concursos literários Paulo Setúbal, que estariam acontecendo por estes dias, em meio à tradicionalíssima “Semana” em homenagem ao “imortal” tatuiano.
Mas, muito distante do maior título de Setúbal, o vírus é mortal, impondo um distanciamento social jamais visto ou imaginado não apenas na história de Tatuí, senão no planeta.
Antes, a cidade já não pôde promover sua também tradicional Feira do Doce – evento de maior sucesso da iniciativa na área de turismo e gastronomia do município.
Ações múltiplas e muito bem-intencionadas têm conseguido, pelo virtual, preencher um pouco das perdas impostas pela pandemia – em meio às quais, o esforço para concretizá-las, sem dúvida, não tem nada de virtual, mas, sim, muito de custoso e “real”.
Por trás de cada “live”, há equipes trabalhando – sejam da iniciativa privada, sejam da municipalidade, ou ambas em conjunto. Há muito trabalho e, além, riscos até de saúde, naturalmente – pelo que todo esse esforço merece ser reconhecido e congratulado.
No entanto, a despeito de tanto suor e gana, em Tatuí e no mundo, não faltam apenas mais educação, fé na ciência, gentileza e bom-senso: falta o sentimento de interação “real” com o esporte, com o entretenimento, com o “tecer” literário, com a arte, com a beleza!
Com isso em mente, o jornal O Progresso buscou alternativa para abraçar um pouco de tudo em falta no momento, mas sem desmerecer o desafio, nada pequeno, de concretizar qualquer iniciativa sem perspectiva de algum suporte significativo.
Na verdade, o jornal até ponderou a opção de não realizar a tradicional edição comemorativa ao aniversário da cidade, mas, considerando mais uma tradição de décadas, fora as carências do momento, decidiu por não deixar de cumprir com o compromisso de apresentar aos leitores, principalmente em datas especiais, alguma novidade, uma surpresa.
Para tanto, em parceria com o jornalista Cristiano Mota, trabalhou para a publicação de mais uma edição especial, esta que os leitores recebem neste final de semana, celebrando os 194 anos de Tatuí. A pauta é composta por diversos aspectos de um mesmo tema: os doces caseiros.
Esse nosso imenso patrimônio, “caipira” e saboroso no melhor dos sentidos (no paladar, sobretudo), é abordado desde as origens até o peso substancial que acabou dando à conquista da condição de Município de Interesse Turístico (MIT) por Tatuí – claro, passando pela Feira do Doce.
Só a concretização deste especial, para o jornal, já seria motivo de satisfação, dados os múltiplos obstáculos por (quase) todos enfrentados. Contudo, ainda faltaria a devida atenção à arte e à literatura, marcantes e essenciais exatamente neste período em Tatuí.
Portanto, foi com sincero e profundo prazer que O Progresso conseguiu, mesmo, abraçar mais estes dois aspectos para ajudar a celebrar os 194 anos do município.
A solução somou uma ideia inusitada, por um lado, e uma oportunidade, por outro. Assim, embora não aconteça a publicação do também tradicional tabloide com os vencedores dos concursos literários, o Museu Histórico “Paulo Setúbal” – a “casa da literatura tatuiana” – celebra o centenário de seu edifício.
Portanto, para a data tão significativa, por meio do jornal, a Secretaria Municipal de Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, a partir de singular empenho do diretor de cultura Rogério Vianna, apresenta toda uma publicação com a história completa desse patrimônio da Cidade Ternura, acrescido, ainda, de farta biografia de Paulo Setúbal.
Mais essa novidade já seria fabulosa, neste peculiar momento, mas seria melhor ainda se a arte também pudesse ser contemplada. Frente a isso, o jornal decidiu por convidar a fotógrafa Débora Holtz a figurar a edição especial de aniversário com suas belíssimas imagens de doces.
Esse material, inclusive, já foi motivo de exposição justamente no Museu “Paulo Setúbal”, tendo partido, por sua vez, do trabalho da fotógrafa no registro de uma das edições da Feira do Doce.
Ou seja, por mais amarga a situação geral e um 11 de Agosto tão tolhido de seus tradicionais sabores, ao menos o jornal O Progresso tem, neste momento, a satisfação de poder levar a seus leitores – e à própria cidade – um pouco de boas histórias, beleza e doçura. A todos, portanto, bom apetite!