Apae busca “se abrir” à população por meio de projeto de visitações

Daliane Miranda, coordenadora da Apae, com os cicerones treinados para a visitação (foto: Gabriel Guerra)

A Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Tatuí realiza, desde o dia 20 de abril, o programa “Apae Aberta ao Público”, pelo qual visitantes podem conhecer as atividades feitas pelos assistidos nas oficinas da área da assistência social da unidade.

O programa tem como objetivo mostrar à população todo o trabalho realizado pela Apae e os atendidos, explica a assistente social e coordenadora do Centro-Dia, Daliane Araújo Miranda.

A ideia do projeto surgiu após a diretoria da entidade constatar que grande parte das pessoas não conhece os trabalhos realizados pela Apae, pela pouca divulgação. A direção entende ser importante que a população tenha a oportunidade de participar das atividades realizadas.

“Pensando nisso, montamos o projeto, e a nossa proposta é que os atendidos sejam protagonistas da ação, que eles apresentem cada espaço e qual o objetivo de cada oficina. As pessoas precisam conhecer o potencial que eles têm”, explicou Daliane.

A coordenadora conta que a participação dos atendidos no programa é uma forma de inseri-los de maneira mais participativa dentro da unidade, sendo já perceptível a evolução da interação dos monitores nas atividades realizadas junto aos visitantes.

Os atendidos pela Apae participam de 22 oficinas. Para mostrá-las aos visitantes, um cronograma foi estruturado, buscado evidenciar o número de atividades em uma única visita. O percurso da visitação dentro da unidade foi definido e faixas, pintadas no chão, a fim de orientar e organizar a recepção.

Os grupos, de até dez visitantes, são recepcionados por dois cicerones, como são chamados os alunos treinados para explicar as atividades da Apae. Outros atendidos ficam responsáveis pela venda de produtos, confeccionados na horta, bazar e nas aulas de artesanato.

“É a forma que a gente tem de trabalhar questões simples, como a monetária, do dinheiro, troco, da integração com o público e do atender. Aqueles que são voltados ao mundo do trabalho ficam nessas atividades de venda”, esclareceu a coordenadora da Apae.

Outros quatro atendidos receberam treinamento, pela terapeuta ocupacional da unidade, para explicar as atividades do “jardim sensorial”.

A parte cultural e dinâmicas, que acontecem no salão da Apae, são conduzidas pelos educadores Pedro e Lucas. As atividades também contam com a participação dos atendidos que possuem deficiência moderada.

“Serve para que os visitantes percebam que coisas simples, que conseguimos tranquilamente realizar no dia a dia, eles têm dificuldade, principalmente na questão motora”, ressaltou Daliane.

O projeto faz parte da programação anual da Apae de Tatuí. Para participar, o interessado deve agendar pessoalmente na instituição. São recepcionadas 40 pessoas por dia de atendimento, realizados às sextas-feiras.

“O agendamento é importante para poder limitar o número de pessoas visitando. Às vezes, agendamos com uma escola e todas as vagas são preenchidas. Já recebemos a visita dos funcionários da Elektro, uma escola e professores do Sesi”, atestou a coordenadora.

Daliane explica que todas as oficinas seguem uma filosofia de trabalho denominada de “Currículo Funcional Natural”, pela qual as salas são preparadas para serem mais próximas da realidade.

Todos os ambientes são voltados a situações encontradas na interação com a família ou o trabalho. Na oficina de lavanderia, os assistidos aprendem a lavar as roupas utilizadas nas atividades e a manejar os produtos de limpeza, além de serem instruídos sobre noção do que é sujo ou limpo.

Na cozinha, fazem receitas adaptadas, que podem ser vendidas ou consumidas durante as refeições servidas aos colegas, tudo dependendo do grau de funcionalidade de cada atendido.

Os alunos também são responsáveis pela limpeza e organização dos ambientes. “Eles que lavam o próprio prato, limpam a cozinha, depois que utilizam, fazem a organização de tudo o que é usado”, afirmou a coordenadora.

A oficina de costura, iniciada com a participação das famílias dos assistidos e voluntários, confecciona bolsas, e precisou ser ampliada. Os assistidos, selecionados a partir da habilidade em realizar a atividade, estão costurando produtos em jeans.

Os cicerones selecionados são Felipe Gabriel Oliveira da Silva, Everton Oliveira Marques, Giuliane Silva Moraes, Graziela Hilgenberg, Wilian José de Sales e Silvio de Campo Junior.

Graziela afirmou que está “amando a incrível experiência de interagir com as pessoas”, ficando com vontade de ser cicerone o ano todo. “É muito bom poder mostrar a Apae para os visitantes. A gente começa a se comunicar e ter amizade com as pessoas. A gente conhece os visitantes para eles nos conhecer”, conta.

Sales explicou que, no início, lia o que teria que falar para os visitantes, mas, com o tempo, foi se acostumando à interação com as pessoas. O cicerone confessou que muitas situações engraçadas aconteceram.

“Um dia, quando explicamos que nós lavamos as nossas roupas, uma pessoa que estava nos visitando contou que também lavava a sua roupa, pois a mãe não gostava de lavar”, contou, bem-humorado, o cicerone.

Atualmente, a Apae de Tatuí atende a 50 alunos acima de 30 anos e outros 49 participam da educação especial da entidade, ficando no contraturno escolar.

Os atendidos podem escolher as atividades das quais pretendem participar, sendo que o número de dias de aulas depende da necessidade de cada um.

Segundo Daliane, para continuar mantendo a qualidade do atendimento, a entidade pretende realizar, periodicamente, a “Campanha da Pizza”, que aconteceu, pela primeira vez, no dia 26 de maio.

Todo o valor arrecadado está sendo destinado à compra de máquinas de costura reta e overlock, que ficarão à disposição das atividades realizadas pelos alunos.

A coordenadora conta que a Apae Tatuí tem inscrito diversos projetos para captação de recursos. Recentemente, teve aprovado, pelo Condeca (Conselho Estadual da Criança e do Adolescente), o Integrart, que irá trabalhar a parte cultural da Apae, pouco conhecida das pessoas.

“É um festival que integra outras Apaes da região, com uma mostra competitiva da parte cultural, com dança e teatro. Depois, os selecionados irão para o concurso estadual, dentro da federação”, explicou a coordenadora.

O projeto aprovado ainda necessita de empresas e pessoas físicas interessadas em destinar os recursos, abatidos do Imposto de Renda, à instituição. O valor a ser captado é de R$ 97 mil.

Os recursos ainda passarão pelo FMCA (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de Tatuí), que ficará com 20%, e também serão redistribuídos a outras entidades.

A instituição ainda tem trabalhado a ação chamada “Reciclado”, pela qual são recolhidas garrafas pet, latinhas e papelão. Daliane conta que a instituição aguarda a aprovação de um projeto para a aquisição de um contêiner a ser utilizado como um ecoponto.

“Já estamos fazendo a coleta seletiva, e está sendo um trabalho bem legal. Parte do material é aproveitado nas atividades do artesanato e nas ações realizadas pelos internos, outra parte é vendida para reforçar o caixa da entidade”, explicou.

Também pensando em um “mundo mais sustentável”, a Apae realiza campanha para recolher e reaproveitar óleo de cozinha.

O produto é reciclado e, depois, transformado em sabão artesanal, utilizado na oficina de lavanderia e, também, revendido para os visitantes. O óleo pode ser levado à instituição, que realiza todo o processo de reciclagem.

Para participar das atividades da Apae, é preciso procurar a sede da entidade, situada à avenida Marginal Dr. Olavo Ribeiro de Sousa, s/n. Mais informações pelo telefone: (15) 3305–7083.