Alunos do Conservatório de Tatuí fazem protesto contra fechamento de alojamento

Manifestações aconteceram diante da Câmara Municipal e na sessão ordinária

Da reportagem

Na noite de segunda-feira, 30 de outubro, alunos do Conservatório de Tatuí fizeram um protesto em frente à Câmara Municipal e dentro do plenário, durante a sessão ordinária, contra o fechamento do alojamento da instituição de ensino.

O comunicado sobre o fim da moradia havia sido feito na tarde de sexta-feira da semana passada, 27 de outubro, pela secretária da Cultura do estado, Marília Marton, em visita à prefeitura da cidade.

A O Progresso de Tatuí, Marília confirmou a informação, sustentando que o fechamento “é o primeiro passo para oferecer melhores condições aos alunos, em razão da distância enfrentada por eles entre o alojamento e o Conservatório”.

“A gente entende que os alunos morarem afastados do Conservatório é muito ruim, no sentido de trânsito e mobilidade”, declarou.

Ela ainda argumentou que, quando esteve na cidade no início do ano, percebeu a dificuldade enfrentada pelos estudantes em razão do deslocamento.

“No início do ano, andei pelo alojamento e vi a distância que é. E, eventualmente, os alunos ficam presos com o transporte porque, quando perdem (a condução), têm de ir a pé. Se eles tivessem condições, estariam pagando uma moradia no centro”, justificou.

Ela também reforçou que a mudança dará aos alunos “autonomia de escolha e a possibilidade de estarem mais próximos do Conservatório”. “Com isso, eles podem se dedicar mais e ter tempo livre para usufruírem da própria estrutura da escola, sem a preocupação do transporte”, sustentou.

Marília antecipou que o fechamento do alojamento faz parte de uma série de mudanças que ainda está por acontecer no Conservatório de Tatuí dentro de um processo de readequação pedagógica e “reposicionamento de valorização dos profissionais que atuam na instituição”.

“Há uma série de coisas que precisa ser feita. Eu não vou antecipar o que nós iremos fazer, pois nós (a secretaria e a Sustenidos Organização Social de Cultura, órgão que administra a instituição) estamos em fase de discussão. Mas, o auxílio-moradia para os alunos vai acontecer a partir de janeiro”, informou.

Manifestações

Em seguida à notícia, estudantes se manifestaram sobre as declarações da secretária, por meio de redes sociais, alegando terem sido “pegos de surpresa”.

Segurando cartazes com dizeres “o aloja não está à venda”, “nós lutamos por aqueles que ainda virão” e “querem despejar os estudantes”, eles sustentam que, com a medida, cerca de cem estudantes seriam prejudicados.

Por conta disso, afirmam que “não aceitarão a substituição e que ela não será negociada”. Em carta aberta distribuída aos vereadores tatuianos, os alunos questionam as justificativas da secretária da Cultura. Entre elas, o motivo pelo qual a decisão foi tomada no final do ano e, ainda, no encerramento de um processo de melhoria das condições do alojamento.

Além disso, pedem uma posição pelo fato de não terem sido procurados para opinarem sobre a decisão. Ainda, pelo fato de as informações terem sido divulgadas de forma informal pelas redes sociais e, posteriormente, formalizadas por e-mail.

Durante a sessão extraordinária, os vereadores apoiaram a manifestação dos estudantes. O presidente da Câmara, Eduardo Dade Sallum (PT), questionou as informações “que ficaram no ar”, sobre como será feito o processo seletivo para a bolsa-moradia, e definiu a ação do fechamento do alojamento como “ilegal e imoral”.

“Sim, o alojamento tem problemas estruturais. Então, que o governo pegue essas bolsas de R$ 450 e reforme o alojamento”, sugeriu.

Ele também lembrou do encontro que teve com o ex-secretário da Cultura do estado Sérgio Sá Leitão, em 2021, em que havia questionado o gestor sobre o que então chamou de “desmonte” do Conservatório, gerando discussão entre ambos.

“(Ele) veio para anunciar o ‘desmonte’ como se fosse algo bom para a cidade. É a mesma coisa que essa secretária veio fazer: anunciar o auxílio-moradia, quando, na verdade, veio para anunciar o fechamento do alojamento”, declarou.

A estudante do segundo ano de artes cênicas, que veio do Espírito Santo para estudar no Conservatório, Camila Alomba disse não saber se conseguirá manter-se na cidade com o fechamento.

“Eu estava segura, mas já não sei como vou me preparar para o ano letivo a partir de agora. Não há possibilidade alguma de um aluno se autossustentar com apenas R$ 450”, declarou ela, no Legislativo.

A moradia, que abriga aproximadamente cem alunos, funciona na cidade deste 1989, em prédio construído em terreno doado pelo ex-prefeito da cidade Wanderley Bocchi, em 1982.

“Quando alguém doa algo, ele acorda com o poder público sobre a finalidade daquela doação. E a finalidade do terreno do ex-prefeito era para o alojamento do Conservatório”, declarou Sallum.

Renan Cortez (MDB) disse que também recebeu com “estranheza” a notícia do fechamento, acentuando que, na mesma sexta-feira, 27, a informação que ele obtivera era de que os estudantes receberiam o auxílio em caráter provisório, para que o alojamento recebesse melhorias. No entanto, alegou que, na noite de segunda-feira, 29, “as questões já eram diferentes”.

“Não encontrei ainda nenhuma justificativa de forma documentada sobre o parecer de sexta-feira, e acredito que temos, sim, juntamente com aqueles que estão sendo prejudicados, de requerer essas respostas e movimentar contrário a esse desconforto que vem sendo gerado”, argumentou.

O estudante de artes cênicas Victor Miranda não depende do alojamento, no entanto, esteve presente na manifestação junto aos colegas.

“As pessoas que são de classe mais baixa não vão conseguir continuar estudando lá, como também não terão condições de morar na cidade. Infelizmente, temos pessoas que são de outros países e dependem desse local para viver”, afirmou.

“Não é somente R$ 450, é uma moradia, é uma vivência. As pessoas dependem desse espaço. Sem ele, não é possível continuar o curso, não tem como fazer nada aqui”, sustentou.

Sallum revelou ter recebido informações oriundas do Conservatório (sem denominar pessoas em particular) de que a instituição estaria “vendida na história”.

E que, por meio de uma determinação da Secretaria da Cultura, “o alojamento seria vendido e o dinheiro, destinado ao estado”. “Se quiserem tirar à força os estudantes do alojamento, vai ter luta, vai ter resistência e vai ter batalha”, concluiu.

Argumentos da secretaria

Em nota, a Secretaria de Cultura e Indústria Criativa do Estado de São Paulo informou que o valor de R$ 450 foi “definido após uma pesquisa de valor médio de aluguel” em Tatuí e também em outras cidades da região que possuem polos universitários.

Diz ainda que, “além da nova bolsa, metade dos alunos que usam o alojamento permanentemente ou periodicamente recebem também outros benefícios”, citando a bolsa-auxílio, no valor de R$ 550, a bolsa-performance, de R$ 700, e a bolsa-ofício, de R$ 550 – no entanto, não especificando quantos alunos seriam beneficiados por esses suportes.

Em uma segunda nota, nesta quarta-feira, 1º, o órgão estadual informa que o processo seletivo para o auxílio-moradia “seguirá como nos anos anteriores, sendo a avaliação uma política de estado, visando à melhoria de acomodações para os alunos”. Ainda reforçou que “não está prevista a continuidade do alojamento”.