Matheus Carlos de Souza e João Lucas Santos Penha de Oliveira têm 17 anos e são alunos da Etec (Escola Técnica) “Sales Gomes”. No fim do mês passado, eles representaram a instituição em evento que reuniu estudantes de diversas partes do país.
A dupla terminou a participação em quarto lugar na “Competição Festo de Mecatrônica”, realizada pela primeira vez. O evento aconteceu em São Paulo, na Festo Didatic, uma divisão da Festo, multinacional alemã especializada em produtos e serviços para controle e automação industrial, com presença de 12 instituições.
Os estudantes de Tatuí competiram entre os dias 20 e 22 de setembro. A disputa, no entanto, aconteceu durante toda a semana, com início no dia 18 do mês passado. Eles foram instruídos pelo professor William Machado Fonseca, docente de mecatrônica e que, na instituição, também dá aulas na área de eletrotécnica.
Souza e Oliveira cursam o quarto módulo de mecatrônica e também o ensino médio. Eles permaneceram por três dias na capital. As disputas envolveram conhecimento, aplicação e competências.
A organização dividiu os selecionados em dois grupos. O primeiro realizou atividades do dia 18 até o 20; o seguinte, do 20 ao 22. Os estudantes de Tatuí integraram o segundo grupo, iniciando na competição com uma integração.
Conforme o professor, a dupla foi escolhida com base em diversos critérios. A decisão ficou a cargo de Fonseca, com a colaboração do coordenador do curso de mecatrônica, professor Sérgio Soares.
Um dos requisitos era que os alunos não tivessem tido “muito contato com a indústria” anteriormente, por conta da natureza da competição, que previa agregar experiência aos participantes.
A outra exigência diz respeito ao interesse demonstrado e o grau de responsabilidade dos estudantes, como, por exemplo, alta frequência e desempenho no curso (médias das notas).
O desafio abrangeu somente a área da mecatrônica, em função não só do ramo de atuação da companhia, mas para reforçar a importância do setor.
“A profissão é bem nova. O primeiro curso surgiu em 2002. E, como o mercado estava absorvendo, a demanda fez com que a profissão fosse bem difundida, resultando no desafio promovido pela empresa”, argumentou o professor.
Souza e Oliveira participaram de três dias de provas, começando por uma dinâmica de familiarização. No dia 20, conheceram os equipamentos fabricados pela empresa, as peças que utilizariam nos desafios e a equipe da competição.
Os primeiros desafios aconteceram em seguida, representando o módulo básico (um). Em todos eles, a organização apresentava uma descrição do problema a ser resolvido pela dupla. “Eles tinham de apresentar uma solução que atendesse a alguns critérios, como tempo e segurança”, contou o professor.
Antes de partir para a ação, os estudantes puderam deliberar com Fonseca sobre as possibilidades de solução. “Nos primeiros 15 minutos, na maioria das vezes, nós pudemos fazer uma leitura e discussão da resolução, mas a implementação dos projetos ficava a cargo dos alunos”, descreveu o docente.
Em geral, os representantes das escolas tiveram uma hora para solucionar as tarefas. A equipe da “Sales Gomes” conseguiu resultados acima da média, obtendo o quarto lugar, com 48,91 pontos. A vitória ficou com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de São Caetano do Sul, com 83,91 pontos.
Outras duas unidades do Senai, de Chapecó (Santa Catarina), e Maringá (Paraná), faturaram o segundo e o terceiro lugares, com 58,89 e 55,15 pontos, respectivamente. A dupla tatuiana desbancou alunos de oito instituições.
“É preciso lembrar que eles são alunos do ensino médio e estiveram, na ocasião, disputando contra discentes de faculdades”, acrescentou a diretora da Etec, Beatriz Soares Amaro.
Os universitários partiram de instituições como a UFABC (Universidade Federal do ABC) e o IFPR (Instituto Federal do Paraná), no campus de Paranavaí.
Ao todo, Souza e Oliveira concluíram seis provas, sendo uma teórica e cinco práticas. Os desafios tinham de ser cumpridos em tempos variados (com duração mínima de uma hora).
A prova descritiva envolveu a base da mecatrônica, exigiu tempo maior, de 180 minutos, e precisou ser feita pelos dois em separado, para evitar a divisão de estudo dos conteúdos.
“A teoria valia só 15% do total dos pontos da competição”, contou Souza. O estudante explicou que a avaliação com o maior peso foi a que previu a análise e implantação de um projeto de eletropneumática.
Vencida a fase escrita, os estudantes realizaram provas de pneumática (ramo da física que estuda o uso do ar pressurizado para execuções de trabalhos). “A pneumática ajuda bastante na indústria que apresenta trabalhos repetitivos, de muito esforço ou que requerem agilidade”, explicou o professor.
Fonseca citou que a pneumática está presente em compressores usados para calibragem de pneus e em portas de ônibus. Entretanto, a aplicação se dá, em sua maioria, na indústria. “Noventa por cento das aplicações são nas indústrias”, acrescentou.
No dia 21, os estudantes realizaram mais uma prova de pneumática, seguida de tarefa envolvendo CLP (controlador lógico programável). Trata-se de um tipo de dispositivo controlado por codificação específica. “A programação vinha pronta, mas nós tínhamos de fazer a instalação”, contou Souza.
A bateria de testes seguiu com mais duas provas no dia 22, uma com duração de três horas, envolvendo pneumática e eletropneumática, e outra focada em manutenção. Na primeira, os alunos precisaram elaborar um diagrama, com base em equipamentos que tinham de ser retirados em uma “lojinha”.
“Precisávamos pedir, exatamente, a quantidade dimensionada de equipamentos para resolver o problema. Até podíamos voltar à loja para pegar itens faltantes, mas, se fizéssemos isso, perdíamos pontos”, explicou o estudante.
A dupla de Tatuí teve descontado 0,25 ponto por conta de um dos terminais – de mais de 200 que constavam no circuito – estarem com uma parte metálica aparente. Na última prova, Souza e Oliveira também perderam 0,25 ponto, decorrente de uma sobra de material (uma mangueira).
Os alunos dispuseram de 15 minutos para encontrar um total de oito erros, não de montagem, mas que consistiam em problemas operacionais. “Essa prova era focada em manutenção. Tínhamos de fazer um ‘checklist’, analisar visualmente e diagnosticar se havia problemas de segurança”, contou Oliveira.
Para a diretora da unidade, as dinâmicas contribuíram tanto para o aprendizado dos estudantes como para estimular outros discentes – por meio de exemplo – que possam vir a ser selecionados para uma nova edição da competição.