Aluna da ‘Sinisgalli’ é ‘parlamentar jovem’





Kaio Monteiro

Alessandra Fátima de Lima cria projeto de lei que pretende reutilizar água de chuva nas escolas

 

“Parabéns, você é uma jovem parlamentar paulista”. Essa foi a mensagem enviada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por meio de telegrama, para a aluna Alessandra Fátima de Lima, de 17 anos, do ensino médio da Escola Estadual “Ary de Almeida Sinisgalli”, localizada na vila Esperança.

O telegrama informou que ela foi uma das 94 estudantes escolhidas entre 234 escolas do Estado – 154 públicas e 80 particulares – para a participação no projeto “Parlamento Jovem Paulista”, organizado pela Assembleia.

O Parlamento Jovem constitui-se em uma sessão especial na qual os deputados cedem os lugares deles para que estudantes vivenciem um dia de sessão parlamentar, com intuito de esclarecer sobre “a razão de ser, as funções e o cotidiano do Poder Legislativo”.

A aluna tatuiana deve estar em São Paulo no dia 7 de novembro, às 10h, para o credenciamento. Após o almoço, os jovens seguem para a Casa de Leis, onde haverá recepção pelos parlamentares estaduais.

As atividades encerram-se no dia 8 de novembro, com a diplomação e a posse dos jovens deputados. No plenário, os alunos devem eleger a mesa diretora (presidente, vice-presidente e dois secretários).

Os jovens deputados também devem apresentar, no plenário, os projetos de lei criados por eles – cada um tem o direito de fazer um discurso de três minutos. A sessão será transmitida pela TV da Assembleia e os projetos, publicados no “Diário Oficial” do Legislativo.

A professora Joscelia Francisca Reis Gonçalves ajudou Alessandra a chegar ao Parlamento Jovem. Ela disse que a aluna precisa “vestir a camisa” da política, “mas do lado bom”. “Eles vão aprender até como fazer conchavos para a votação da mesa diretora”, comentou a professora.

Ela argumentou que participar das sessões do Parlamento Jovem é “muito interessante, pois existem alunos que são muito politizados e que fazem articulações para serem eleitos à presidência da mesa diretora”.

“Outros, no entanto, estão ali só para participar. Mas, é preciso formar jovens críticos, que tragam soluções para a sociedade”, apontou a professora.

Alessandra é a quinta aluna de Joscelia a ser aprovada no Parlamento Jovem. Das experiências anteriores, ela acha interessante a atitude dos deputados estaduais, porque eles tratam os estudantes como “bibelôs”.

“Isso acontece, principalmente, na época de eleição. Se for necessário, os 94 estão presentes, mas tem ano que apenas 10 aparecem”, disse ela.

Segundo as diretrizes do Parlamento Jovem, a inscrição do aluno é realizada com o envio de projeto em uma das áreas estipuladas, como agricultura, direitos humanos, cultura, educação, habitação, emprego, juventude, defesa do consumidor, saúde ou segurança pública.

Cada escola pode inscrever apenas um aluno. “Eu passei em todas as classes do ensino médio, expliquei o projeto da Assembleia e disse que os interessados deveriam me procurar com uma ideia. A da Alessandra foi a melhor. Na área de educação, já ganhamos quatro vezes, mas, na natureza, nunca”, afirmou a professora.

A proposta de Alessandra é fazer com que novas escolas sejam construídas com sistema de captação das águas da chuva, por meio de encalhamento e uma cisterna, para ser reutilizada em aparelhos sanitários, limpeza geral do prédio e manutenção das áreas verdes das unidades escolares.

Para a realização do projeto de lei, Alessandra contou com a ajuda da filha de Joscelia, que é engenheira ambiental. “O Brasil é um país abundante em chuvas, então, essa captação é interessante. Pesquisei bastante sobre o encalhamento para a construção de uma forma inteligente”, contou Alessandra.

De acordo com a aluna, a proposta surgiu porque ela vê muito desperdício de água na própria escola, “tanto na lavagem do ambiente quanto de bebedouros e descarga”.

“A água utilizada é tratada e não volta mais. É usada de forma inadequada. Então, pensamos nisso como algo diferente de se fazer”.

No projeto de lei, as escolas devem disponibilizar a conta de água nos murais da instituição de ensino e realizar ações de conscientização dos alunos e demais usuários da unidade.

A aluna e a professora elaboraram o projeto no período de um mês, seguindo os critérios estabelecidos pela Assembleia Legislativa.

“Tem que ser um projeto inovador, que não tenha sido feito em nenhum outro lugar do Brasil. Também é necessária uma pesquisa em todas as edições do Parlamento Jovem. O plágio pode gerar um processo”, disse a professora.

Joscelia afirmou que o projeto de Alessandra é interessante porque “obriga apenas as escolas que serão construídas a ter o sistema de reutilização de água”. “As que já estão em funcionamento podem colocar o sistema conforme interesse do Estado ou do município”, lembrou a professora.

Aluna e professora também ficaram surpresas quando souberam da resposta positiva da Assembleia Legislativa. “Eu não estava esperando ganhar por causa da grande concorrência. Achava que a ideia não fosse tão interessante”, disse Alessandra.

“Como iríamos falar sobre a água, acredito que as outras escolas também iriam tratar do mesmo tema”, lembrou Joscelia.

A professora de história considera o Parlamento Jovem um programa importante para os alunos do ensino médio, pois faz com que eles conheçam a política do Estado, além de entenderem como “os deputados votam os projetos de lei, ou como se escolhe um assessor”.

“Para o entendimento da história da política, é sensacional. Acho que Tatuí também deveria realizar o jovem vereador. Atualmente, os adolescentes estão muito alienados, ficam muito nos computadores e se esquecem de ler”.

Joscelia acredita que os alunos interessados em participar do programa são levados a praticar a escrita e a fazer pesquisas acadêmicas nas áreas estabelecidas pelo Parlamento Jovem.

Olhares

A participação de Alessandra no Parlamento Jovem também faz com que as pessoas possam ter “olhar diferente” para a escola “Ary de Almeida Sinisgalli”, de acordo com a professora.

“É muito bom porque estamos concorrendo com instituições de ensino municipal, estaduais e particulares. Quando uma escola como a nossa, localizada num bairro mais problemático, é a única a ganhar, é importante para a aluna e para a instituição. Estamos muito felizes”.

Alessandra reconhece que bons resultados em programas com grande visibilidade, como o Parlamento Jovem, podem trazer outra imagem para a instituição, porque “é o nome da escola que está em jogo”.

“Quero mostrar que é uma escola boa, de alunos excelentes. Um projeto bom não alavanca apenas o meu nome, mas o da instituição. Eu sei que sou capaz e gostaria de revolucionar bastante nesse sentido”, disse a aluna.

Ela afirmou que ainda não entende muito bem os trâmites da Assembleia, mas que usará o Parlamento Jovem para aprender mais sobre a política. Alessandra entende que o projeto é uma maneira interessante de ajudar a escola com a reutilização da água.

“Na política, eu acho interessante você poder fazer um projeto e executá-lo. A experiência na Assembleia, pessoalmente, também vai ser muito boa. Estou pensando em ser bastante articulada, convencer a todos sobre a importância do meu projeto”.

Alessandra considera-se ambiciosa e, por isso, tentará ser a presidente da sessão do Parlamento Jovem. “A minha ideia é fazer diferente, é crescer um pouco mais nesse projeto”.

A professora Joscelia disse que os outros alunos da “Ary de Almeida Sinisgalli”, que participaram das edições passadas na Assembleia Legislativa, não tiveram o mesmo interesse de Alessandra. “Ela precisa entrar numa chapa, criada na reunião dos jovens parlamentares, e fazer a campanha dela”.

“Com meu poder de argumentação, acho que eu consigo. Converso bem, sou uma pessoa que gosta de me moldar a cada situação. Acho que vou me dar bem. Minha meta é ser presidente, ou estar na mesa diretora”, finalizou a aluna.