Alimentos orgânicos ainda ‘engatinhando’

Sem mercado consumidor local, produtores ‘miram’ redução do uso de agrotóxicos

Consumo de orgânicos ainda é pequeno e restrito à classe alta

Com baixa procura nos supermercados, preços altos e dificuldades na obtenção de certificação oficial, a produção de alimentos orgânicos em Tatuí ainda engatinha.

Ao passo que o manejo totalmente livre de defensivos químicos ainda está longe da realidade, os pequenos produtores locais procuraram adaptar-se a técnicas para reduzir a dependência dos agrotóxicos.

Segundo o engenheiro agrônomo Leandro César Lopes, da Casa da Agricultura, a procura de agricultores por informações sobre o manejo orgânico no órgão ainda é muito baixa.

Nos cinco anos em que o especialista trabalha no posto agrícola da cidade, apenas três produtores locais procuraram informações sobre a produção certificada.

Mesmo com esse processo de produção distante da realidade tatuiana, os produtores do “cinturão verde” estão preocupados com o uso de defensivos convencionais e partindo para o controle de pragas com compostos naturais.

“Os agricultores que têm hortas estão mais preocupados com um manejo mais natural e homeopático. Quase 100% dos que nos visitam eu indico produtos naturais, como a calda bordalesa para fungos e óleo de neem para controle de insetos. São produtos que não fazem mal à saúde e, inclusive, são permitidos para a agricultura orgânica”, explicou.

Amplamente conhecida na cafeicultura, a calda bordalesa tem sido usada intensamente para o controle de fungos na horticultura, devido ao baixo custo e fácil preparo, bastando a dissolução em água de sulfato de cobre e cal virgem.

“Para os agricultores familiares, raramente receito venenos para que eles apliquem nas roças. Temos soluções eficazes que não causam dano algum para a saúde de quem vai aplicar ou consumir aquele alimento”, declarou.

A Casa da Agricultura estima que 20 hectares da zona rural da cidade são usados na olericultura, área da horticultura que abrange a exploração de hortaliças. A área é equivalente a 20 campos de futebol profissional. A maioria da produção é consumida pela população local.

Apesar de a extensão ser aparentemente grande, a olericultura está longe de estar entre as maiores áreas de plantio de Tatuí. Para efeito de comparação, dos 52.374 hectares totais de Tatuí, o plantio de capim braquiária é responsável por 15 mil e está no topo do ranking agrícola local, sendo seguida pela cana-de-açúcar, com 9.000 hectares, e o milho, com 4.000 hectares.

“Nas explorações vegetais como milho, cana, soja, o agricultor não tem como fugir dos defensivos agrícolas, daí acabam aplicando, pois a queda de produção é muito grande caso ocorra alguma doença ou pragas”, contou.

Segundo o engenheiro agrônomo, como as propriedades rurais responsáveis pelo abastecimento do mercado local de verduras, raízes e tubérculos estão nas mãos de agricultores familiares, é maior a preocupação deles em tornar os alimentos mais saudáveis aos consumidores.

“Eles não usam excessivamente os agrotóxicos. Em alguns casos, fazem um manejo mais homeopático, voltado à agricultura orgânica. Eles tentam, no máximo, deixar de usar. As aplicações ocorrem em casos de urgência para controle de pragas, mas ainda assim é difícil”, relatou.

Lopes calcula que a os alimentos produzidos nas feiras locais têm entre 50% e 80% menos defensivos agrícolas que os “convencionais”. O preço, entretanto, não difere muito, devido à decisão dos agricultores em concorrer com os produtos vindos do manejo comum.

“A produção em grande escala orgânica é muito difícil e demanda certificação. Temos o exemplo do tomate, que é muito suscetível às pragas e fica muito caro em um manejo sem defensivos”, opinou.

Para o agrônomo, o mercado local de orgânicos ainda é pequeno devido à renda per capita ser menor e ter uma classe média e alta mais “enxuta” do que em outras localidades. Os alimentos orgânicos são mais consumidos pela população com maior poder aquisitivo.

“Em grandes centros, como Sorocaba e Campinas, é maior a procura. São cidades grandes e com muitas pessoas de renda alta. Em Tatuí, creio que a procura seja baixa, devido ao preço e ao número restrito de consumidores”, declarou.

Para o presidente do Sindicato Rural Patronal, Luiz Carlos Ramos, a procura por produtos orgânicos em Tatuí deve aumentar nos próximos anos, se depender da entidade.

Uma parceria firmada entre o sindicato e o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) oferece cursos para produtores interessados no cultivo orgânico de tomate em estufa.

Na opinião de Ramos, a cidade está atrasada no desenvolvimento de um mercado de suprimento de alimentos orgânicos. A demora na obtenção de certificação é o principal empecilho.

“Para produzir alimentos orgânicos, é necessário que a terra passe por um processo de eliminação de impurezas. Além disso, não pode ter aplicações de defensivos em propriedades próximas. Tudo isso dificulta. São muitas regras”, explicou.

O processo em outras regiões, como a de Botucatu, está mais adiantado. Em parte, pelo fato de a cidade sediar um dos campi da Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”).

“Os agricultores estão mais focados no curto prazo, e acredito que poucos têm interesse na agricultura orgânica. Estamos promovendo um curso para feiras. A nossa ideia é, no futuro, desenvolver produto de origem de hortas orgânicas”, ressaltou.

O presidente do sindicato não tem previsão de implantação de feira orgânica na cidade. A primeira etapa, segundo Ramos, é formar produtores capazes de abastecer o mercado consumidor local.

“Estamos formando os feirantes. Depois disso, faremos um grupo e focar na parte orgânica, para termos produtores na cidade. Isso tudo demanda tempo, e é um plano de longo prazo, nada para agora”, esclareceu.