Da reportagem
A “Mostra Cinema É Sonho – O Superoitismo Sertanejo de Expedycto Lyma”, do pesquisador Felipe Abramovictz, que homenageia o cineasta amador tatuiano Expedito Lima, ocupa a Assembleia Legislativa do estado de São Paulo (Alesp).
A exposição do também tatuiano Abramovictz esteve na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, do dia 23 a 26 de fevereiro, com exibição de filmes, exposição do acervo do artista (com cenografia de Jaime Pinheiro), bate-papo com Expedycto e pesquisadores e lançamento de livro. Já no dia 27 de março, seguiu para a Alesp, onde fica até 14 de abril.
De acordo com Abramovictz, a Cinemateca Brasileira – instituição responsável pela salvaguarda e preservação do patrimônio audiovisual brasileiro – “acolheu a obra de Expedycto em uma mostra individual, reconhecendo a importância de sua trajetória no panorama do cinema nacional”.
“Realizar uma mostra na Cinemateca Brasileira foi muito emocionante, em especial na presença do próprio Expedycto, que pôde ver seus filmes em uma sala de cinema”, observou.
“Também foi importante que as pessoas tivessem contato com os objetos do acervo pessoal, guardados pelo artista por tantas décadas. Assim, o público pode conhecer melhor o universo de Expedycto e a forma de ele criar outros mundos ao seu alcance”, destacou Abramovictz.
Na Alesp, a expectativa é de continuar a divulgar o trabalho do cineasta tatuiano. “Para nós, é muito importante levar a obra de um artista popular de Tatuí para a sala de exposições da Alesp, ainda mais com uma programação que inclui a projeção do primeiro longa dele, ‘A Víbora Humana’, e uma leitura dramática de um texto escrito pelo Expedycto, transcrito por mim durante o a pesquisa a partir dos manuscritos do seu Circo-Theatro”, comentou.
O projeto “Cinema é Sonho” propõe um “percurso pela trajetória” de Expedycto Lyma por meio da publicação do livro “O Cinema é Sonho”, de Abramovictz (em versão impressa e e-book), além da exposição concebida a partir do acervo pessoal do cineasta e de uma série de eventos em torno de sua obra (como leituras dramáticas, exibições, lives, debates com pesquisadores e parceiros).
Segundo Abramovictz, o projeto ainda contempla uma catalogação completa e o trabalho de recuperação e digitalização de arquivo do artista em película, vídeo e de seus manuscritos, que incluem poesias, letras de música e, especialmente, peças teatrais, materiais integrados ao livro.
“Trata-se de um raro documento da obra de um criador popular que percorreu o estado de São Paulo com seu circo-teatro (entre o fim da década de 1960 e os anos 1970) e com seu cinema ambulante (após 1979)”, afirma o autor do livro e curador da mostra.
“Cinema é Sonho” foi concebido tendo como base de pesquisa as entrevistas realizadas por Abramovictz com Expedycto Lyma e seus colaboradores.
A pesquisa no acervo pessoal do artista, para além dos filmes, resultou em mais de 5.500 arquivos. Somente de sua dramaturgia, foi possível localizar inúmeros roteiros e 33 textos teatrais completos.
Foram escritos originalmente para serem encenados no “Circo-Teatro do Alemão” ao longo da década de 1970, alguns nunca levados ao palco, os quais foram pela primeira vez transcritos, publicados e disponibilizados, por meio de leituras dramáticas.
Além disso, integram o projeto filmagens feitas pelo amigo e pesquisador Abramovictz com o artista na casa dele, nos locais onde Expedycto montou cinema ambulante e no circo-teatro, assim como em alguns cenários de seus filmes (material que totaliza mais de 70 horas).
Para o livro, Abramovictz parte dos relatos orais de Expedycto, que são reescritos em primeira pessoa, entremeados com referências de suas obras (ilustrações de próprio punho, cartazes, fotos).
“Todo este conjunto faz parte do projeto de pesquisa desenvolvido junto ao programa de multimeios da Unicamp, como parte da minha tese de doutorado”, conta.
O coordenador, autor e pesquisador do projeto, Abramovictz, é artista de vídeo, montador e pesquisador do cinema brasileiro. É doutorando em multimeios pela Unicamp, mestre em comunicação audiovisual (PPGCOM-UAM) e graduado em comunicação e multimeios pela PUC-SP.
O pesquisador nasceu em São Paulo e se mudou para Tatuí aos oito anos. Aos 18, voltou para a capital, mas, como a família é daqui, divide a semana entre as duas cidades até hoje. Quando pequeno, conheceu Expedycto Lyma.