Muito se debate, na atualidade, qual “ideologia” política seria a melhor (quando correto seria qual a menos ruim, aliás): esquerda ou direita. Em outros termos, socialismo ou liberalismo.
Justamente quando os ânimos andam em alta tensão, insuflados que foram desde a mais recente eleição presidencial, as convicções extremas, naturalmente, instigam os comportamentos extremos e, assim, consenso e bom-senso tornam-se cada vez mais raros.
Não obstante – mesmo a se “desconsiderar” as evidências em desfavor aos ideais canhotos, especialmente na área econômica -, ainda pode-se alcançar quase hegemonia em alguns pontos, entre os quais os de que saúde e educação precisam ter a maior responsabilidade sob a guarda do Estado.
Sim, quem pode custear planos de saúde e educação particular garantem a si e a seus filhos tanto vida mais longa quanto próspera (a lembrar o lendário senhor Spok, para ao menos os iniciados na atualmente chamada cultura “geek”, outrora tratada por “nerd”).
Importa é que esse privilégio não se encontra facilmente, sendo raro entre a população em geral e, portanto, uma utopia, para os realistas, e apenas foco de discurso populista, para demagogos.
Para a grande maioria, a Saúde e a Educação públicas são e continuarão a ser absolutamente fundamentais, daí a necessidade de constantes investimentos a aprimoramentos.
Mas, o que fazer quando o estado falha em prestar esses serviços vitais? Nada, ciente de que, como cidadão, você já contribuiu com sua parcela em impostos para a manutenção dos serviços públicos?
Talvez, reclamar nas redes sociais, como se alguém ainda levasse a sério o que se vê no meio desse forrobodó do egocentrismo? Ou, quem sabe, ajudar ainda mais, cedendo esforço e tempo como voluntário, ou mesmo contribuindo (ainda mais) financeiramente?
Há quem interprete e haja de todas essas formas, principalmente na área da Saúde, que costuma somar mais contribuições financeiras.
Na Educação, pouco costuma-se fazer em termos de engajamento popular, até porque as consequências são sentidas em prazo maior: uma nova geração de analfabetos, por exemplo. Já na Saúde, o drama pode ser imediato: a morte, em última instância.
Por conta disso, entre ajudar e não fazer nada, melhor contribuir – claro, sem se esquecer das responsabilidades dos governos federal, estaduais e municipais. Mas, ajudar, sim. Isto pode, como se diz, salvar vidas.
Em Tatuí, pode-se fazer muito. Com R$ 20 milhões de débitos em tributos e junto a fornecedores, a Santa Casa enfrenta grandes dificuldades para continuar a atender à população.
Apesar de receber recursos públicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), por meio da contratualização firmada com a Prefeitura (garantida por liminar judicial), a situação do hospital é classificada como “difícil” pela provedora Fernanda Aparecida Rodrigues Laranjeira.
Somente no ano passado, o hospital fechou balanço negativo superior a R$ 2 milhões – a maior parte de débitos tributários e previdenciários. O hospital tem inscritos R$ 6.660.790,97 na dívida ativa da União, sendo quase a metade com a Previdência Social.
Cerca de R$ 3,2 milhões são devidos ao INSS, R$ 2,3 milhões ao FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e R$ 1,1 milhão em tributos não previdenciários.
As dívidas com a União quase impediram o hospital de ter assinado a contratualização com a Prefeitura. Empresas e entidades devedoras são proibidas, pela Constituição Federal, de receberem recursos públicos.
Vencida a etapa da contratualização, a Santa Casa enfrenta dificuldades em comprar medicamentos e materiais hospitalares, contando com a “paciência” dos credores.
“Os que apresentam parcelamentos que conseguimos pagar, estamos fazendo acordo. Outros fornecedores são mais inflexíveis e querem cobrar juros e multas, e nem sempre é possível. Todos os acordos que fizemos estamos honrando”, relatou Fernanda.
No entanto, como faltam recursos, não é possível pagar todos os fornecedores de uma vez só. À medida que as dívidas vão diminuindo, o hospital consegue parcelar com outros fornecedores e reduzir os débitos.
Das entradas de dinheiro, 95% correspondem a verbas públicas, que chegam por meio de convênio e contratualização. Os outros 5% são por atendimentos particulares, planos de saúde e doações.
“Antes, tínhamos contrato com um convênio particular que ocupava uma ala inteira. Hoje, a nossa receita com os particulares mal chega a R$ 20 mil por mês, e isso nem paga a nossa conta de água”, explicou Fernanda.
As dívidas com as concessionárias de água e energia somam R$ 7 milhões. Contudo, por realizar atendimento tido como prioritário, os fornecimentos de água e energia não podem ser cortados.
Para diminuir o déficit mensal, que gira em torno de R$ 170 mil, a Santa Casa busca parcerias de “adoção de contratos” e doação de alimentos e insumos hospitalares.
Pelo modelo de adoção de contratos, o doador pode ficar responsável por pagar mensalmente aluguéis de equipamentos ou por serviços terceirizados.
Uma rede de lojas de materiais para construção paga mensalmente o contrato de locação de um cardioversor utilizado na UTI. Por mês, são investidos R$ 1.200 no equipamento, usado em casos de parada cardíaca e irregularidades nos batimentos do coração.
“O sistema é completamente transparente, e não recebemos o dinheiro. O doador paga direto com o fornecedor. Temos contratos de todos os valores que podem ser adotados”, descreveu Fernanda.
Serviços de manutenção predial e locação de equipamentos não são cobertos pela verba do SUS, destinada a pagamentos de funcionários e insumos e tida como “carimbada”. De acordo com a provedora, é possível se adotar, por exemplo, contrato de monitores da UTI, que custam R$ 320 mensais.
“Temos seis monitores na nossa UTI e precisamos de oito. Adoraríamos que alguém pudesse nos ajudar nesse aluguel”, comentou ela.
Outra possibilidade aventada pela provedora é a doação direta de insumos e alimentos. Uma panificadora industrial doa todos os pães consumidos pela entidade. Uma avícola e um abatedouro doam ovos e peitos de frango.
“O hospital está aberto em grande parte pela ajuda deles, pois, com esses donativos, a gente consegue economizar. Temos funcionários que doam tempo cadastrando notas fiscais que recolhemos dos supermercados. Vamos conseguir levantar R$ 48 mil com essas notas”, explicou.
A provedora também pede para a população que colabore com carnês do hospital. A mensalidade tem valores a partir de R$ 10. Apesar disso, apenas 50 pessoas contribuem com a Santa Casa. A maior parte delas (28) é de funcionários.
Lembrando que a Santa Casa é o único hospital público da cidade e que, portanto, é lá onde, eventualmente, vidas podem ser salvas, a entidade não só precisa, mas merece a ajuda de todos.