Aeroclube de Tatuí­ comemora os 80 anos de pouso do primeiro planador





Aeroclube de Tatuí

Fafnir pilotado pelo aelmão Peter Riedel completa 80 anos da sua chegada a Tatuí

 

Completou 80 anos, no dia 4 deste mês, o pouso do primeiro planador na cidade. A data histórica da chegada do “Fafnir” é lembrada pelo presidente do Aeroclube de Tatuí, Cesar Augustus Mazzoni, em material cedido a O Progresso.

No trabalho intitulado “80 Anos da Expedição de Voo a Vela – Wasserkuppe e o Voo a Vela no Brasil”, constam: a história da prática, sua introdução no Brasil e a chegada em Tatuí do planador pilotado por Peter Riedel.

Também estão incluídos fotos e um texto (em duas versões: alemão e português) publicado em “Flieger und Was Sie Erlebten” e atribuído a Wolf Hirth.

Conforme o aeroclube, para chegar a Tatuí, Riedel fez um voo de 130 quilômetros. Antes, havia planado pela região de Arujá, depois de chegar a São Paulo em companhia de colegas. Ele e mais três pilotos ficaram baseados no Campo de Marte, depois de terem visitado o Rio de Janeiro.

Organizada em 1934, a expedição contou com um avião a motor e quatro planadores. As aeronaves visitaram o Brasil e a Argentina, sob supervisão do professor Walter Georgii, um renomado meteorologista e diretor da DFS (Deutsche Forschungsanstalt für Segelflug – Instituto Alemão de Pesquisa sobre Voo a Vela).

Além de Riedel, participaram os pilotos Hanna Reitsch, Heini Dittmar e Wolf Hirth. A equipe ainda contava com o coordenador científico, o engenheiro Willhelm Harth, e com o mecânico-chefe e meteorologista Richard Mihm.

Os planadores trazidos foram: um Condor (Dittmar), um Fafnir (Riedel), um Moazagotl (Hirth) e um Grunau Baby (Reitsch). Com os expedicionários, também veio um avião modelo rebocador Messerschmitt M-23.

Vindos no navio “Monte Pascoal”, os alemães chegaram ao Rio de Janeiro em 27 de janeiro de 1934. Entretanto, por conta de demora no “desembaraço aduaneiro das aeronaves”, eles iniciaram as demonstrações em fevereiro do mesmo ano.

Segundo descreveu Hirth, Riedel fez a primeira decolagem da cidade de São Paulo, às 10h15 do dia 4 de março de 1934. O piloto relatou que o colega “tinha a intenção de verificar as condições meteorológicas durante um voo de umas duas horas”. No entanto, como as condições estavam “extremamente favoráveis”, ele teria decidido arriscar uma navegação mais longa.

Por essa razão, Riedel pousou e, em seguida, discutiu com Georgii sobre alternativas para se resgatar o Fafnir após um voo “cross-country bem-sucedido”.

Pouco depois da uma hora da tarde do mesmo dia, ele decolou, rebocado pelo comandante Wachsmuth, do Sindicato Condor, encontrando térmicas “tão boas sobre a cidade que decidiu se desligar do avião-rebocador com apenas 300 metros”.

Riedel contou ao colega que, mais tarde, havia conseguido subir dois metros por segundo até a base das nuvens. Ele ficou a 1.800 metros de altura de São Paulo “e região”.

De acordo com Hirth, o colega orientou-se pelas colunas de fumaça, serras, cursos dos rios e linhas férreas, uma vez que “desconhecia o território”. O vento leste levou-o para a direção de Sorocaba, onde ele seguiu uma linha férrea.

Riedel chegou a preocupar os colegas de expedição por ficar muito tempo sem dar notícias. Hirth informa, no texto, que, até às 16h do dia 4, o grupo não havia recebido nenhuma informação, o que deixou os expedicionários “um pouco inquietos”.

A equipe ainda chegou a voar sobre Sorocaba, mas não encontrou sinais do Fafnir. Duas horas depois, o comandante e os pilotos receberam mensagem de Riedel. No comunicado, ele informava que havia pousado em segurança em Tatuí, a 125 quilômetros do Campo de Marte, seguindo “em linha reta”.

“Naturalmente, nossa alegria foi muito grande”, descreve Hirth no texto. O piloto afirmou que a distância do voo representou “uma façanha extraordinária” para a expedição. O motivo era que, até então, havia “desconhecimento das condições de voo e da incerteza quanto às possibilidades de pouso fora”.

Riedel contou aos colegas que conseguiu chegar a Tatuí com “ajuda” de uma brisa marítima. Mais tarde, descreveu a façanha a pilotos de planadores paulistas, na sociedade “Germânia”, em palestra sobre como fazer um voo ainda mais longo.

Contribuições e versões

Além dos voos de demonstração diários, registrados pela imprensa tanto alemã quanto brasileira, a expedição “apresentou várias contribuições teóricas”. Conforme Hirth, o interesse no voo sem motor aumentou de maneira extraordinária.

Em uma das ocasiões, o coordenador científico, Willhelm Harth, falou sobre o desenvolvimento do voo a vela para membros da colônia alemã. Conforme o piloto, os assuntos despertaram muito interesses e causaram “efervescência”.

“Do Brasil inteiro, chegavam notícias sobre a fundação de clubes de voo a vela, e recebemos convites de toda parte, os quais, naturalmente, não podíamos todos aceitar em tal quantidade, pois nosso programa de viagem já estava definido”, comentou o piloto na publicação “Flieger und Was Sie Erlebten”.

Apesar de o nome de Riedel aparecer na mídia alemã, o aeroclube cita que há “outras versões” do primeiro pouso de planador em Tatuí. Uma delas aponta Heini Dittmar como o piloto que veio à cidade em 1934, com o Grunau.

Contudo, segundo o aeroclube, trata-se de equívoco, já que a documentação existente “é unânime em afirmar que Riedel foi quem fez o voo”.

A informação está baseada, também, em parte do artigo escrito pelo próprio piloto, por ocasião dos 50 anos da missão no Brasil e Argentina. O texto foi publicado na revista “Aerokurier”, em maio de 1984, nas páginas 594 e 596.

Virou notícia

O voo de Riedel consta, também, na edição 557 de O Progresso. A nota foi veiculada na dia 11 de março de 1934 e descreve que o alemão chegou ao município por volta das 16h de um domingo. Na época, a população viu, “voando pela primeira vez, um dos planadores dos azes alemães”.

Conforme o texto, Riedel veio com o Fafnir de São Paulo. Antes de pousar em solo tatuiano, passou por São Roque, Sorocaba e Boituva. De lá, dirigiu-se até Porto Feliz, de onde regressou. Ele desceu próximo à Estação Sorocabana (atualmente desativada), “em virtude da falta de nuvens ascendentes”.

Após o pouso, o planador precisou ser desmontado e conduzido a São Paulo. Riedel pernoitou em Tatuí, no Hotel Afonso. Na cidade, ainda participou de “uma brincadeira no Clube Tatuhyense”, sendo cumprimentado pela imprensa e autoridades locais. Regressou à capital no dia 5.