Ações buscam reduzir moradores de rua

Nas noites de frio intenso, pessoas são abordadas para receber abrigo, higiene e alimentação (foto: AI Prefeitura)

O Serviço Especializado em Abordagem Social, direcionado a pessoas em “situação de rua”, teve o trabalho intensificado nas últimas semanas. As ações são realizadas pela prefeitura, por meio da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social, em parceria com o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Guarda Civil Municipal e Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José.

De acordo com o secretário da pasta, Alessandro Bosso, durante as noites recentes, em que os termômetros têm registrado baixas temperaturas, equipes têm saído a campo para abordar pessoas em situação de rua com o objetivo de encaminhá-las ao serviço de acolhimento e protegê-las do frio intenso.

O secretário ressalta que as ações de inverno, na verdade, são uma intensificação do serviço já oferecido durante todo o ano. Ele conta que, todos os dias, equipes trabalham na busca de pessoas em situação de rua para ampará-las e incluí-las nos serviços de atendimento social.

Quando há consentimento por parte dessas pessoas, a equipe as leva até o serviço de acolhimento da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, para que possam se alimentar, realizar higiene pessoal e dormir até o amanhecer, sem ficarem expostas ao frio.

Conforme levantamento do setor, na sexta-feira, 5, foram abordadas dez pessoas, das quais duas aceitaram ser encaminhadas ao serviço de acolhimento.

Outras duas (que não eram de Tatuí) foram encaminhadas às cidades de origem. No sábado, 6, novamente, dez pessoas foram abordadas, entre as quais, duas aceitaram abrigo.

Outras oito pessoas foram abordadas no domingo, 7, quando duas aceitaram ajuda. Já na segunda-feira, 8, mais seis pessoas em situação de rua foram abordadas, e duas, encaminhadas consensualmente à Casa de Apoio.

A operação continuou no feriado de terça-feira, 9, com a abordagem de mais seis pessoas. No entanto, apenas uma aceitou ser abrigada. Bosso conta que o trabalho realizado pelo setor é feito de forma contínua, contudo, ressalta que muitos não aceitam ajuda.

“Nós conhecemos quase todas as pessoas que estão em situação de rua, e algumas, infelizmente, não querem aceitar ajuda. É um trabalho diário, que exige persistência, pois encontramos muita resistência”, enfatizou o secretário.

Quando a equipe não consegue convencer as pessoas a aceitarem a ajuda oferecida, ela retorna nas noites seguintes, de modo que, gradativamente, obtenha a confiança dos que estão em situação de rua, fazendo com que aceitem ser incluídos no serviço.

No total, a equipe percorreu dez pontos utilizados como abrigo por pessoas em situação de rua no município. As abordagens sociais ocorreram entre as 21h e as 22h30, e continuarão acontecendo diariamente, ao longo de todo o inverno.

Além disso, a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social iniciou, neste mês, a “Operação Acolhida”. O programa de atendimento às pessoas em situação de rua funciona como o Serviço Especializado em Abordagem Social, contudo, envolve outras ações que vão além do abrigo, banho e alimentação.

Conforme Bosso, o trabalho tem o objetivo de criar condições de acesso à rede de serviços públicos e, “gradativamente, construir o processo de saída dessas pessoas das ruas e, consequentemente, a reinserção familiar e comunitária”.

A primeira “Operação Acolhida” aconteceu no dia 2, por volta das 6h. Durante a ação, 15 pessoas – sendo 13 homens e duas mulheres -, que estavam em situação de rua e aceitaram a abordagem, foram encaminhadas à sede da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social.

No local, foram recepcionadas com um café da manhã e, em seguida, tiveram a oportunidade de realizar higiene pessoal. Além disso, uma equipe do Fusstat promoveu cortes de cabelo e barba e ofereceu roupas para que pudessem se trocar.

A equipe do Creas também realizou a identificação das pessoas abordadas, fez a solicitação da documentação civil das que ainda não a tinham, encaminhou-as para foto e realizou o Cadastro Único de cada uma delas.

Ainda durante a ação, a Secretaria de Saúde, por meio da Vigilância Epidemiológica, efetivou testes rápidos de doenças como HIV, sífilis e hepatites B e C em 11 pessoas, das quais nove tiveram interesse em se vacinar contra doenças como sarampo, caxumba, rubéola e Influenza.

As pessoas também foram atendidas por funcionários da Raps (Rede de Atenção Psicossocial). Eles promoveram um diálogo sobre o alcoolismo e o uso de drogas. Também esclareceram as formas de tratamento existentes no município, dissertando acerca do propósito dos serviços de saúde.

Segundo Bosso, dessa forma, foi possível possibilitar a intervenção terapêutica das pessoas – a maioria com problemas de alcoolismo e dependência química –, “visando a uma evolução contínua”, junto ao Caps (Centro de Atenção Psicossocial).

Durante a operação, o Cate (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo) também realizou o cadastro dos currículos junto ao Ministério do Trabalho. O secretário ressalta que, com a assistência, é possível que muitos deles consigam vaga no mercado de trabalho.

“Nós ficamos impressionados ao fazer o levantamento da vida profissional daquelas pessoas. Descobrimos que muitos têm alto nível de experiência profissional. Então, nossa missão é ajudá-los a se livrar dos vícios, fazer com que se estabilizem, consigam emprego e sejam independentes”, comentou o secretário.

Das 15 pessoas atendidas na terça-feira, por meio da “Operação Acolhida”, duas não são de Tatuí. Ambas foram encaminhadas para as cidades de origem, e outras três, levadas para a Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José.

Bosso antecipou que as abordagens sociais da “Acolhida” devem ser realizadas de maneira permanente pela atual administração, pelo menos uma vez por mês.

Além disso, ele afirma que as equipes prosseguirão com o trabalho diário, visando identificar pessoas em situação de rua e encaminhá-las aos serviços socioassistenciais e intersetoriais, “garantindo seus direitos básicos de cidadãos”.

Redução em Tatuí

O levantamento mais recente feito pela prefeitura registrou diminuição significativa no número de pessoas em situação de rua na cidade, que baixou de 37 (em 2017) para 25 (em 2019). Ou seja, 12 pessoas que aceitaram a ajuda oferecida foram beneficiadas e deixaram de perambular pelas ruas no período.

Bosso lembra que, devido ao fato de a cidade estar situada próxima a grandes centros urbanos, como Sorocaba, Campinas e São Paulo, e também por ser margeada por duas importantes rodovias paulistas, Castello Branco e Raposo Tavares, o fluxo migratório de pessoas em situação de rua é alto.

Entre a população que está nessa condição – tida como “transitória” -, há registros de que o Serviço da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José atenda, em média, de sete a dez pessoas por dia, totalizando entre 210 e 300 ao mês.

Bosso afirma que a cidade tem estrutura estabelecida para atender à demanda e destaca que, para reduzir o número de pessoas em situação de vulnerabilidade, o departamento social também está aderindo à campanha “Não dê Esmolas”.

Ele explica que a intenção é fazer com que as pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social procurem o sistema especializado para serem atendidas “em todas as necessidades”.

“A população, por desejo de ajudar, acaba doando dinheiro, alimentos e agasalhos para as pessoas na rua. Tudo isso é ótimo para eles, mas acaba dificultando o nosso trabalho. No abrigo, podemos dar assistência contínua; já essas doações são passageiras e fazem com eles não queiram sair da rua”, argumentou Bosso.

Além disso, o secretário alerta que, muitas vezes, o dinheiro doado pelos munícipes é utilizado na compra de bebidas alcoólicas e drogas, o que estimula o vício e “também acaba acarretando na permanência dessas pessoas nas ruas e colocando em risco a saúde delas”.

Nos próximos dias, haverá a fixação de faixas pela cidade, orientando a população sobre os procedimentos indicados, caso alguém se depare com pessoas em situação de rua ou pedindo esmolas.

Ele reforça que, ao ver uma pessoa nessa situação, é necessário encaminhá-la ao serviço social. Ele explica que, durante o dia, é disponibilizado o atendimento pela equipe do Creas, na rua 13 de Fevereiro, 396, centro. O atendimento, presencial ou pelo telefone 3259-0704, é feito de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h.

Já no período da noite, a Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José fica à disposição dos munícipes que queiram relatar casos de pessoas pedindo esmolas. A Casa fica na rua São José, 46, Jardim Wanderley.

Quem preferir também pode entrar em contato com o serviço de busca ativa da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, ligando para o telefone 3305-3895, que está à disposição até às 23h.

Além disso, durante a noite, especialmente nesta época de frio, quem encontrar pessoas em situação de rua buscando abrigo deve entrar em contato com a Guarda Civil Municipal, ligando para o número 199, que funciona 24 horas.