No dia 7 de abril de 2013, a vida da pequena Júlia Abrame de Oliveira mudou radicalmente. A data marcou o diagnóstico de leucemia linfoide aguda e o início de uma luta que vem sendo travada por ela e a família em busca da cura.
Em tratamento retomado em agosto deste ano, a menina aguarda por transplante de medula óssea, procedimento que depende de doador.
Para ajudar a paciente a encontrar uma pessoa compatível, o Banco de Sangue “Fortunato Minghini” promoveu, no sábado, 28 de outubro, uma campanha de âmbito local, mas que atraiu muitos doadores e ganhou projeção nacional.
A ação voltada ao cadastro de doadores aconteceu no Cemem (Centro Municipal de Especialidades Médicas) “Dr. Jamil Sallum” e atraiu público recorde.
“Estou emocionada com o resultado. Foi um sucesso. Nós esperávamos mil pessoas, mas tivemos mais de 1.500”, contou Rita Corradi Azevedo, voluntária do Banco de Sangue e responsável pela mobilização.
No total, houve cadastro de 1.639 novos doadores de medula óssea. Os dados das pessoas que conseguiram ceder material para amostragem – doaram cinco mililitros de sangue – serão inseridos no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Quem não pôde doar, por falta de materiais para coleta, deve aguardar nova campanha, em data ainda a ser agendada.
Este é o caso de Vanderlei Cardoso de Oliveira. Natural de Santo André, ele mora em Tatuí desde 2003 e soube da iniciativa por meio de publicação em rede social. Oliveira chegou ao evento por volta das 16h30, permaneceu na fila por mais de meia hora, mas acabou não conseguindo se cadastrar.
“Mesmo assim, valeu a pena. Tudo que é solidário, tudo que é feito com amor, vale a pena. Está faltando isso (amor) no mundo. O povo de Tatuí é muito dedicado, compartilha, quer fazer o bem. Então, nós estamos aqui para isso”, comentou.
As coletas de amostras terminaram às 17h, quando a organização começou a contagem. Em princípio, os responsáveis esperavam um movimento bom, mas não tão grande.
Rita contou que a procura se manteve constante desde o início dos trabalhos, a partir das 9h. Entretanto, a fila para doação cresceu após as 16h.
“Muitas pessoas que trabalham no comércio e queriam participar só conseguiram vir ao Cemem depois de saírem do serviço. O problema é que não temos mais materiais para fazer a coleta. Está tudo zerado”, comemorou.
Devido à demanda, a organizadora explicou que deve realizar nova campanha de cadastro. A equipe estuda a viabilidade de promover a ação ainda neste ano. “Tudo vai depender de Marília, que é a cidade que está fazendo o cadastro”, contou.
Para acontecer, o trabalho depende da colaboração de voluntários, como a enfermeira Roberta Lodi Molonha. Ela trabalhou no registro dos doadores, auxiliando na distribuição de formulários, e também mencionou que a campanha surpreendeu.
“A diferença entre uma ação e outra é a comoção. Muita gente que veio aqui (ao Cemem) contou que estava doando porque era para ajudar a Júlia”, acrescentou.
No total, 17 pessoas trabalharam como voluntárias. Tamanha mobilização comoveu a mãe da menina, Adriana Abrame. Ela conta que preferiu não participar da campanha, pela repercussão e alcance da iniciativa.
Júlia, na semana da coleta, gravou um vídeo pedindo a colaboração. O material “ganhou a internet” e gerou reportagens em redes de televisão.
“Eu sabia que muita gente doaria, mas não imaginei que fosse tanto. Surpreendeu muito, superou todas as nossas expectativas. Apesar de todas as circunstâncias que enfrentamos, ficamos muito felizes com o resultado”, ressaltou.
Adriana contou que Júlia passa por momento delicado. A menina começou a fazer tratamento aos dois anos de idade e permaneceu recebendo medicamentos até os quatro.
Depois de dois anos, ela recebeu a primeira alta do tratamento de medicamento. Entretanto, três meses depois, a doença voltou a se manifestar.
Na ocasião, a menina recomeçou o tratamento de quimioterapia e radioterapia. Permaneceu por quase um ano, entrando em manutenção em maio do ano passado, quando passou a se submeter a quimioterapia “mais fraca”.
Em 2016, a menina pôde voltar a ir para a escola e a frequentar as aulas de balé. Ocorre que a imunidade dela baixou e, em agosto deste ano, Júlia começou a ter dores de cabeça.
O sintoma melhorou depois que a menina tomou antibiótico, para tratar uma sinusite, mas exigia cuidados. “Esperamos mais uns dias para refazermos os exames e verificamos que a doença havia voltado”, recordou-se a mãe.
De acordo com Adriana, os médicos diagnosticaram que a cura da pequena Júlia depende do transplante de medula óssea. Por isso, a mobilização. “Logo que os médicos descobriram a volta da doença, já a recolocaram no banco nacional, porque existia um potencial doador”, afirmou.
Com os exames, a equipe médica descobriu que a pessoa tinha 90% de chances de compatibilidade com a menina. De acordo com a mãe, os médicos dizem que o ideal – e mais seguro – é que a compatibilidade seja de 100%.
No caso de não encontrarem um doador, Adriana disse que os profissionais preferem que o transplante seja feito com algum membro da família. Os testes já realizados mostraram que os pais têm 50% de compatibilidade com a criança.
“Eles (os médicos) acham que o mais viável e ideal é 100%, mas preferem 50% dos pais, por conta da genética de 90% de alguém ‘que seja estranho’”, contou.
Independentemente de encontrarem um doador totalmente compatível com a criança, os médicos devem fazer o transplante ainda neste ano. Adriana relatou que a equipe aguarda apenas a realização de exames para definir data.
Os últimos procedimentos devem acontecer na semana que vem, dando uma margem de esperança para os pais poderem encontrar, no sistema nacional, um doador 100% compatível.
A “corrida” pela procura deve-se ao fato da condição física da menina. Adriana disse que a filha está internada por complicações decorrentes da quimioterapia. Ela está com a imunidade muito baixa.
Por conta da última sessão, realizada no dia 11 de setembro, Júlia precisou ficar internada por quatro dias na UTI (unidade de terapia intensiva) do hospital do Gpaci (Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil), em Sorocaba.
Segundo Adriana, a menina ainda enfrenta sintomas da baixa imunidade, principalmente com relação à produção de células vermelhas e plaquetas. A situação da menina gerou comoção nas redes sociais e a fila pelo cadastro.
“Eu não tinha noção de que a campanha iria tomar a proporção que tomou. Acreditava que a divulgação em rede social atingiria amigos, mas não imaginava que iria ‘explodir’, o que nos deu mais fé na vontade de Deus”, disse a mãe.
Para ela, a mobilização em Tatuí aumentou “demais” as chances de a menina encontrar um doador compatível. Isso porque, mesmo que a pessoa não tenha se cadastrado no município, a divulgação do caso de Júlia resultou em cadastros em diversas partes do país. “E isso nos deixa alegres”, comentou Adriana.
Conforme ela, por intermédio da campanha realizada em prol da menina, outras pessoas na mesma situação que Júlia poderão ser beneficiadas. “Isso movimentou muitos lugares, e nos dá sensação de termos feito alguma coisa por alguém”.
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