Da reportagem
Duas clínicas “clandestinas” de reabilitação para dependentes químicos foram interditadas na tarde de segunda-feira, 20, em ação conjunta entre órgãos de segurança e fiscalização realizada nos bairros Lagoa Vermelha e Jardim Santa Rita de Cássia.
Segundo a Polícia Civil, a operação ocorreu depois de denúncias de maus-tratos contra internos. As duas unidades eram da mesma comunidade terapêutica, porém, estavam divididas entre abrigos masculino e feminino.
Conforme o delegado titular José Luiz Teixeira, a comunidade estava atuando, anteriormente, em Iperó, em um único endereço, e teria mudado para Tatuí no sábado – dois dias antes da ação que resultou no fechamento das unidades.
“Eles mudaram com tudo: trouxeram os internos, os móveis, mas não tinha alvará da prefeitura, nem do Corpo de Bombeiros, inspeção, não tinha médico responsável, psicólogo, enfermaria, nada. Ainda estamos investigando porque eles deixaram a cidade vizinha para vir se instalar aqui”, contou o delegado.
Mais de 40 pessoas estavam internadas nas clínicas – sendo cerca de 20 em cada unidade -, de famílias de outras cidades da região e até de outros estados (nenhum morador de Tatuí). Segundo a PC, a família de cada interno estaria pagando de R$ 800 a R$ 1.500 pela internação.
“Primeiro, recebemos a denúncia de que um adolescente estava sendo agredido; depois, apareceu na delegacia uma mulher com problemas mentais, alegando maus-tratos. Os dois contaram de onde vieram. Então, fizemos uma força-tarefa e fomos até os endereços indicados”, informou Teixeira.
A operação contou com equipes da Assistência Social, Vigilância Sanitária, Guarda Civil Municipal, Polícia Civil e Polícia Militar. Os agentes foram divididos em duas equipes, com um representante de cada um dos órgãos, e enviados para as chácaras denunciadas.
“Onde as moças estavam (no Jardim Santa Rita), só tinha uma panela de arroz para elas comerem; na geladeira, não tinha nenhum mantimento. Não se sabe se ele iria comprar ou não, mas o fato é que não tinha nada para comer”, afirmou o delegado.
Ainda segundo a PC, no abrigo masculino, na Lagoa Vermelha, quatro adolescentes eram mantidos entre os “pacientes”. As unidades foram interditadas e fechadas por diversas irregularidades, incluindo falta de condições para funcionamento e de documentação oficial.
Segundo o delegado, as duas pessoas que denunciaram os maus-tratos passaram por exames médicos, mas em nenhum caso ficou comprovado algum tipo de agressão. Os internos foram encaminhados à Delegacia Central, onde prestaram depoimento e também não teriam relatado maus-tratos.
Os adolescentes foram encaminhados para a casa de abrigo da cidade – dois já retornaram para casa. Já os adultos voltaram para as comunidades terapêuticas com prazo determinado em 24 horas para que voltassem às respectivas casas.
“Os que não tinham documentos foram identificados e fotografados antes de voltarem para a chácara. Porém, alguns, a família já veio buscar na mesma noite, ainda aqui na delegacia”, disse Teixeira.
Dois homens, de 35 e 33 anos, que seriam responsáveis pelas clínicas, foram indiciados. Eles podem responder por cárcere privado, lesão corporal, exercício ilegal da profissão e outros crimes que podem ser configurados durante as investigações, conforme explicou o delegado.