Cristian Reis da Luz *
Envelhecer para os nossos antepassados era o privilégio de poucos, hoje uma oportunidade para a maioria. A expectativa de vida de um brasileiro nascido há cem anos era de 35 anos. Em 2021, chegará a 77 anos.
“Mas devem ser 42 anos mais de vida, não de velhice”, bem nos lembrou o médico gerontologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade no Brasil.
Segundo o médico, trata-se de uma verdadeira “revolução da longevidade”, a maior conquista da sociedade em nível global nos últimos cem anos.
No entanto, ele mesmo nos chama atenção: o que deveria ser celebrado é motivo de lamento para muitos. Porque não basta apenas envelhecer. É preciso fazê-lo com qualidade e dignidade – algo que, infelizmente, ainda não está acessível a todos em nosso país.
Desde o ano passado, a pandemia tornou ainda mais evidente a vulnerabilidade dos idosos, especialmente aqueles que estão em instituições de longa permanência.
Com visitas restritas por motivos de segurança, os idosos que já perderam contato com as famílias e têm na interação com voluntários e visitantes sua principal forma de interação social, viram-se ainda mais distantes da comunidade.
Passamos por um momento difícil, que nos lembra a importância da união dos esforços entre políticas públicas voltadas aos idosos (no oferecimento de infraestrutura e profissionalização dos cuidados) e esforços individuais, pautados pelo exercício da alteridade.
Faz-se necessário, mais do que nunca, lembrarmos que toda vida idosa importa. Compreendermos o envelhecimento em suas diferentes nuances e necessidades, com olhar apurado, determinado a perceber como é ser idoso no Brasil.
Somente a partir desse entendimento, das possibilidades e impossibilidades dos idosos, é que se torna factível a prática do cuidado.
Nós, da Sociedade de São Vicente de Paulo, os vicentinos, somos responsáveis pela direção de mais de 500 lares de longa permanência, localizados em todo o Brasil.
O desafio é diário, e, em 2020, os desafios e aprendizados foram incontáveis. Nossa expectativa é que o ano que se inicia seja mais ameno, repleto de olhar e carinho humano, com esperanças e esforços renovados, para que todos os idosos recebam o cuidado que merecem.
Aproveitamos para convidar a todos para que se inspirem em colocar tempo, habilidades e recursos em atividades de ajuda ao próximo. Que o ano se inicie trazendo o legado da alteridade.
*Presidente do Conselho Nacional Brasileiro da Sociedade de São Vicente de Paulo