Todos os deveres humanos se encerram nestes dois pontos: resignação à vontade do Criador e caridade para com os nossos semelhantes.
Alexander Pope
A Resignação!
Há virtudes difíceis de serem adquiridas e cujo exercício é pouco compreendido. A resignação é uma delas. As criaturas levianas nem a vêem como algo apreciável. Presas em suas ilusões, consideram a resignação apenas falta de forças ou de coragem.
Entendem que o homem sempre deve reagir violentamente contra qualquer circunstância que contrarie seus interesses.
Pensam ser indigno aceitar com tranquilidade um revés. Contudo, urge reconhecer que nem sempre é possível obter-se o que se deseja.
Muitas vezes, nossos sonhos mais caros não se concretizam. Ou então nossa tranquilidade, tão duramente conquistada, é atingida por um infortúnio.
Há dificuldades ou contrariedades que podemos vencer, mas, algumas vezes, a vida responde a nossos apelos com sombra e dor. Nessas circunstâncias, alguns encontram em seu íntimo forças para se resignar.
Em face de situações constrangedoras, dolorosas e inalteráveis, a resignação é uma atitude que apenas os bravos conseguem adotar.
Trata-se da aquiescência da razão e do coração com um regime severo imposto pela vida. O resignado não é um covarde, mas alguém que compreende a finalidade da existência terrena.
O homem nasce na Terra para evoluir, para vencer a si mesmo e amealhar virtudes. Justamente por isso, as dificuldades se apresentam em seu caminho.
Algumas são contornáveis e outras não. Às vezes, somente poderíamos sair de uma situação triste, prejudicando ou magoando o semelhante.
Como ninguém conquista a própria felicidade semeando desgraças, essa opção não é legítima. Frente a um infortúnio inevitável, é necessário acomodar a própria vontade.
Os que vivem revoltados ou indignados contra tudo e contra todos, acabam por se tornar antipáticos aos outros, além de correr o risco de prejudicar a própria saúde, física e mental.
Mas a resignação não é possível sem uma fé sólida e esclarecida. Quanto mais robusta a fé, maior o sentimento da resignação. Impõe-se a consideração de que Deus rege o Universo e jamais se equivoca ou esquece algo.
A vida é uma escola, na qual somos conscientes de nosso papel de aprendizes, convém nos dedicarmos a fazer a lição do momento.
Talvez ela não seja a que desejaríamos, mas certamente é a mais adequada às nossas necessidades. Se a vida nos reclama serenidade em face da dor, aquiesçamos. A rebeldia de nada nos adiantará.
A criatura rebelde perante as Leis Divinas apenas torna seu aprendizado lento e doloroso. Rapidamente ela se torna cansativa para seus familiares e amigos. Ao fazer sentir por toda parte o peso de seu amargor, infelicita os que o amam.
Resignar-se não significa desistir da luta. Implica apenas reconhecer que a luta interiorizou-se. Quem se resigna enobrece lentamente seu íntimo, ao desenvolver novos propósitos de vida. Tais propósitos não se resumem a um viver róseo.
Eles envolvem a percepção e a aceitação de que temos um papel a desempenhar na construção de um mundo melhor. Esse papel pode não coincidir com nossas fantasias. Mas é uma bênção ser um elemento do progresso, mesmo com algum sacrifício.
Outras pessoas, mirando-se em nosso exemplo, podem encontrar forças para seguir em frente. A resignação é uma conquista do Espírito que vence suas paixões e atinge a maturidade.
Ele consegue manter a alegria e o otimismo, mesmo em condições adversas. Ao enfrentar com tranquila dignidade seus infortúnios preparam-se para um amanhã de paz e muita luz!