Raul Vallerine
As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.
José Saramago
A Palavra!
O provérbio árabe “A palavra é prata, o silêncio é ouro”, ensina muito sobre a natureza humana e nos leva a compreender que a vida é barulhenta.
Ou seja, a inquietude é um vulcão que se agita em nosso íntimo e dificilmente compreendemos a dimensão da sabedoria divina que nos proporcionou naturalmente dois ouvidos e uma única boca.
A fala é acionada pela língua como uma serpente em botes ameaçando ou tentando calar e aquietar o oponente.
Se não souber o que dizer ou como falar, então fique em silêncio, porque não há como voltar atrás depois de dizer algo. Antes de falar qualquer coisa, pense sobre a mensagem que deseja passar. Será que é preciso falar? Antes de qualquer palavra proferida, tenha um profundo momento de reflexão.
Podemos citar a visão de pensadores nos mais sábios preceitos sobre as virtudes do silêncio, dentre eles realçamos e citamos dois. Samuel Butler ensina que “O silêncio é uma virtude que nos torna agradáveis aos nossos semelhantes.”; já o Padre Manuel Bernardes considera que “A virtude do silêncio é rara, porém preciosa”.
É preciso compreender, muitas vezes, que saber silenciar para ouvir o próximo do modo mais completo e generoso se faz necessário como obra de caridade.
É difícil e, às vezes, um ato de extrema bondade não revidar com palavras e pedras as tempestades e provocações ruidosas que nos chegam atormentando.
Ser delicado e educado ao extremo é prova de temperança, uma virtude escassa nos tempos atuais, principalmente porque a comunicação acelerada depara com duas situações carentes de qualidade: a imaturidade e a impaciência.
O imaturo é facilmente enredado e enganado entre o certo e o errado e a sua falta de paciência joga por terra toda a capacidade de expressar com clareza o que pensa.
A virtude da temperança é adquirida com o fogo do tempo que molda as qualidades. O desprezo que o novo dá à experiência é prova de que a sabedoria só é apossada ou dá posse ao sábio pacientemente e com diligência.
O sábio antevê com segurança os passos que deve dar e onde pisar, a sua trilha é de luz e não há treva que o cegue porque o hesitar e o prosseguir para o êxito são luzes que os olhos comuns não captam simplesmente porque a sabedoria da dúvida é também uma virtude.
É preciso uma profunda reflexão para compreender e pacificamente conviver com tantas e tamanhas diferenças porque o mundo está teclando silencioso o grito que está preso e prestes a sacudir e convulsionar o planeta.
Afinal, calar-se não é coisa de quem não sabe falar. É hábito de quem deseja ouvir, refletir, aprender. Para concordar ou discordar é preciso emudecer, ouvir, pensar. Porque falar demais atrapalha e ninguém ouve, pois é um velho jeito de dizer nada.
O silêncio deve ser uma decisão, um ato de prudência, uma forma de coragem nem sempre valorizada. Em algumas pessoas, ser de poucas palavras é um traço de personalidade.
Apesar disso, elas também podem saber quando falar e quando não deve dizer nada. E pensar é um exercício silencioso.
Cuidado ao falar tudo que pensa. Você pode machucar as pessoas e até mesmo se machucar. Não é porque você pensa de tal modo que precisa dizer.
Muitas vezes pode evitar discussões desnecessárias apenas ficando em silêncio. Mais sábio não é quem tudo fala, mas quem sabe quando deve ficar em silêncio.
Essas coisas que pedem silêncio. Mesmo que se até hoje demos muitos motivos negativos ao ato de calar, é sempre tempo de recomeçar!