A Imperatriz e a Independência!

Raul Vallerine

Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças se partirmos agora para Lisboa. O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com vosso apoio ou sem vosso apoio, ele fará sua separação! (Maria Leopoldina)

Embora seja pouco ressaltado nos livros de história, a Independência do nosso País foi conquista de uma mulher: Dona Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria nascida no dia 22 de janeiro de 1797.

Primeira esposa de Dom Pedro I, com quem se casou por procuração em 1817, Leopoldina esteve envolvida, primeiro, nas vésperas tensas do Dia do Fico, ocorrido em 9 de janeiro de 1822.

A data foi essencial para movimentar a emancipação do Brasil em relação a Portugal, pois foi o momento da história no qual o príncipe regente decidiu ficar no país de modo permanente, a pedido da população.

O príncipe, no entanto, ainda era muito resistente às ideias de separação. D. Pedro, todas as vezes em que se manifestava, mostrava acatamento às ordens das Cortes e se mostrava pronto a voltar a Lisboa.

A Princesa Leopoldina, então, exerceu uma influência forte sobre a opinião conservadora do marido. Em uma carta à irmã, Maria Luísa da Áustria, esposa de Napoleão Bonaparte, a arquiduquesa criticava o caráter.

Ela entendeu que a única forma de manter o Brasil monárquico era fazer com que D. Pedro permanecesse no país para liderar a instalação de uma monarquia dos Bragança.

A Princesa Leopoldina estava certa de que se podia negociar a libertação do Brasil da tutela portuguesa em troca de uma monarquia constitucional apoiada pelos patriotas brasileiros.

Em dezembro de 1821, ela se comunicou também com “patriotas brasileiros” que queriam a emancipação política do país, entre eles, o Frei Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio, do convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro.

Os esforços deram resultado. No Dia do Fico, Dom Pedro recebeu uma carta da corte de Lisboa, exigindo o retorno dele à terra portuguesa, mas o líder político respondeu negativamente e disse que ficaria no Brasil.

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”, respondeu o soberano. A vitória foi dos brasileiros, mas da arquiduquesa também.

Em 2 de setembro de 1822, a Princesa Leopoldina foi além e presidiu o conselho de Estado, no Rio de Janeiro, assinando uma recomendação para que Dom Pedro declarasse a Independência.

Ela aproveitou o momento certo, no qual o parceiro estava ausente e fazia uma viagem oficial à província de São Paulo. Já que o soberano não estava presente, Leopoldina assumia o comando do Brasil de modo interino.

Isso aumentou ainda mais o poder político da austríaca. E a mulher letrada e poliglota sabia muito bem das movimentações para que o país fosse recolonizado por Portugal.

Então, assinou o documento da emancipação, com medo de que os conflitos internos piorassem. Nessa decisão, ela considerou também as recomendações do conselheiro de Dom Pedro, José Bonifácio de Andrada e Silva.

Após a importante assinatura, a D. Leopoldina enviou uma carta ao marido, avisando sobre tudo que ocorreu na sua ausência e solicitando que ele ratificasse a Independência.

“O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece”, escreveu a soberana.

A Princesa Leopoldina teve sucesso em suas ações, e D. Pedro decidiu ficar no Brasil e conduzir a independência. O país, como ela desejava, converteu-se em uma monarquia.

Por fim, cabe mencionar que no dia 2 e não no dia 7 de setembro, ela e não D. Pedro assinou o Decreto da Independência. Assim sendo, de fato, foi D. Pedro quem proclamou, bradou “independência ou Morte”, mas quem de direito assinou o termo foi sua esposa a Imperatriz Leopoldina. E não foi no dia 7, como consagrou a história, mas no dia 2 de setembro!