A ilusão da razão

Alvaro Fernando *

Desde cedo, somos ensinados que o ser humano é um animal racional. No entanto, somos seres muito mais emotivos do que racionais. Essa é uma verdade bem mais profunda e, por vezes, desconfortável.

A lógica, na maioria das vezes, é utilizada para justificar escolhas e decisões que já foram tomadas com base em nossos afetos, emoções e sentimentos.

Essa crença de que somos puramente racionais é um grande equívoco e se torna o maior obstáculo para nos conhecermos profundamente e assumirmos um papel protagonista em nossa vida. Se agíssemos sempre de forma lógica, provavelmente não existiriam guerras no mundo.

A influência das emoções pode ser observada em diversas situações. Em debates sobre futebol, por exemplo, a paixão e o envolvimento emocional nos fazem perder a razão em debates e discussões.

A identificação com grupos de interesse é tão intensa que as emoções dominam o raciocínio lógico, levando ao viés de confirmação e à mentalidade de “nós contra eles”.

Da mesma forma, em séries de TV como “Breaking Bad”, criamos empatia e torcemos por personagens com ações moralmente questionáveis, mesmo sabendo que isso é errado.

Essa conexão afetiva nos leva a relevar argumentos racionais e a nos apegar ao protagonista, um fenômeno que se estende à forma como justificamos nossas próprias atitudes ou as de quem amamos na vida real.

Filósofos como Immanuel Kant já argumentavam que a paixão nos torna escravos, anulando outras inclinações. David Hume, por sua vez, postulou que a razão serve às paixões, e que nossos julgamentos morais derivam de sentimentos, não da lógica. A razão, sozinha, não motiva a ação; ela apenas avalia os meios para atingir fins desejados pelas emoções.

A ilusão de sermos altamente racionais nos confere um status de valor, o que nos faz defender nossa inteligência a todo custo, mas, paradoxalmente, nos torna mais vulneráveis à manipulação.

Moral da história: entender e aceitar nossa natureza primordialmente emotiva é o primeiro e fundamental passo para compreender nossas escolhas, traçar nosso caminho e, finalmente, assumir o controle e o papel principal em nossa própria vida.

Essa percepção nos permite mudar a forma como nos interpretamos e nos liberta de repetir erros do passado, tornando-nos protagonistas de nossa história.

Fica aqui então o meu convite para que todos possam ir do “cabeça para cabeça” para o “coração para coração” na compreensão de nós mesmos e dos outros.

* Produtor musical, comunicador, palestrante e autor de “Seja Protagonista”, publicado pela DVS Editora.

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