A história macabra de Brás Cubas

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz de Camargo Neto *

Caros amigos.

Conforme prometi, trago aqui mais uma assim chamada joia de nossa literatura, mas que constitui o pesadelo dos jovens vestibulandos e de todos aqueles que são obrigados a lê-la por imposição escolar. Chama-se “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

Como o nome diz, o romance foi escrito por um morto, o próprio Brás Cubas, que nele conta suas reminiscências de quando era vivo.

Eu mesmo não aprecio tanto esta obra fúnebre, da fase realista do autor, preferindo muitas outras que tratam da vida humana, como “Helena”, “A Mão e a Luva”, “D. Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”, seu último e requintado romance.

Brás Cubas conta como morreu, devido a uma lufada de vento que lhe causou uma pneumonia, justo quando preparava um elixir em que sonhava ver seu nome gravado.

“Senão quando, estando eu ocupado em preparar e apurar a minha invenção, recebi em cheio um golpe de ar; adoeci logo, e não me tratei. Tinha o emplasto no cérebro; trazia comigo a ideia fixa dos doidos e dos fortes. Via-me, ao longe, ascender do chão das turbas, e remontar ao Céu, como uma águia imortal (…) No outro dia estava pior; tratei-me enfim, mas incompletamente, sem método, nem cuidado, nem persistência; tal foi a origem do mal que me trouxe à eternidade.”

Não culpo os estudantes pelo sofrimento ao lerem obrigados esta obra macabra. A história cheira a túmulo, mas tem duas virtudes: a originalidade e a arte literária de Machado de Assis.

As reminiscências de Brás Cubas são triviais, não há nada de heroico ou notável ou dramático em sua existência acomodada. Quem esperar deste livro uma história cheia de fatos pungentes, conflitos e soluções, empolgação, aventura, ação, vai se decepcionar.

O que ressalta nela são os artifícios literários do autor.

Machado de Assis nos brinda, ao longo da história, com sua fina ironia, com seu humor às vezes cáustico, com seu sarcasmo, com suas análises psicológicas, presentes em todos os seus romances.

Então, para aliviar os estudantes, sugiro que entrem no Youtube, digitem “Memórias Póstumas de Brás Cubas – filme completo”. Só depois, já entendedores da obra, leiam o romance.

Finalizo este artigo com uma dica de português. Tenho visto e ouvido muitas vezes pessoas, até cultas, errarem no uso das expressões: “Ao encontro de” e “de encontro a”. A primeira significa harmonia, e a segunda, choque. Assim, devo dizer: “Fiquei contente com a promoção que tive. Ela veio ao encontro de minhas expectativas (e não de encontro a). Já em caso contrário: “O bêbado foi de encontro ao poste” (chocou-se com ele). Portanto, não erre mais.

Em caso de dúvida, deixo aqui meu e-mail: ortizcneto@yahoo.com.br

Até breve.

* Jornalista e escritor tatuiano.