Lino Rampazzo *
A palavra “xenofobia” provém de dois termos da língua grega: “xénos”, que significa “estranho”; e “phóbos”, que significa “medo”. Refere-se à aversão ou à profunda antipatia em relação aos estrangeiros, à desconfiança em relação às pessoas que vêm de um outro país com cultura, hábito, raça ou religião diferentes.
É preciso diferenciar o motivo pelo qual algumas pessoas não vivem mais no país, ou na região onde nasceram. Imigrante é aquele que entra em um país estrangeiro, com o objetivo de residir ou trabalhar.
Portanto, o termo “imigração” é usado para a entrada de pessoas em um país estrangeiro, enquanto “emigração” significa o movimento de saída de pessoas de um país para morar em outro.
A “migração” é utilizada para descrever a mudança entre regiões. Por exemplo, alguém que morava no Nordeste do Brasil, migrou para o Sudeste. Já os refugiados são pessoas que deixam seus países para escapar da guerra e da perseguição.
Daí nasce o problema: como essas pessoas que, por diferentes motivos, deixaram seu país de origem serão recebidas pela sociedade. Infelizmente, existe em muitas sociedades, uma atitude de aversão em relação aos estrangeiros.
Como exemplo, temos a atitude do nazismo diante dos judeus. Nos dias atuais, a Europa está recebendo, especialmente na região Sul, milhões de refugiados que fogem da guerra da Síria e migrantes, geralmente africanos, que fogem da miséria em que vivem. Nessa fuga, não são poucos os que morrem durante a viagem por terra ou mar.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) da ONU, mais de 70,8 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a deixar suas casas. Entre elas estão 25,9 milhões de refugiados, sendo a metade menores de 18 anos. É comum aos que chegam num novo país experimentar uma atitude de rejeição, até uma “rejeição organizada”.
O papa Francisco, no seu diálogo no avião com os jornalistas, enquanto voltava da viagem à África, em setembro de 2019, assim se expressou: “Esta xenofobia é uma doença humana, como o sarampo… É uma doença que entra num país, entra num continente, e colocamos muros. Mas os muros deixam sozinhos aqueles que os constroem. Sim, deixam de fora muitas pessoas, mas aqueles que permanecerem dentro dos muros ficarão sozinhos e no final da história derrotados por causa de grandes invasões. A xenofobia é uma doença. Uma doença ‘justificável’, por exemplo, para manter a pureza da raça, apenas para falar de uma xenofobia do século passado. E muitas vezes as xenofobias cavalgam a onda dos populismos políticos. Às vezes ouço, em alguns locais, discursos que se assemelham aos de Hitler de 1934. É como se na Europa houvesse um pensamento de retorno. Mas também vocês na África têm um problema cultural que tem de ser resolvido: o tribalismo. Ali é necessário um trabalho de educação, de aproximação entre as diferentes tribos para criar uma nação. Comemoramos há pouco o 25º aniversário da tragédia de Ruanda: é um efeito do tribalismo”.
Mas, no meio de tantas expressões de xenofobia, há atitudes de “acolhida”, seja na sociedade, ou na Igreja. As várias comunidades cristãs e de desenvolvimento humano, que não se deixaram contaminar pela doença da “xenofobia”, têm muitas iniciativas de acolhida, especialmente dos refugiados.
Jesus, ainda menino, foi um “refugiado”, pois precisou fugir para o Egito, porque Herodes queria matá-lo. E, no juízo final, ele se posicionará diante de cada de nós, também com estas palavras: “Eu fui estrangeiro e me acolhestes” (Mt 25,35). Dá para pensar!
* Doutor em teologia e coordenador do curso de teologia da Faculdade Canção Nova (Cachoeira Paulista).