Um documento divulgado nesta semana à imprensa pela ONG Prematuridade.com evidenciou mais um grande problema (ou sequela ideológica) produzido pelo extremismo político – em particular, o que se valeu da pandemia de Covid-19 para manipular e distorcer informações em sua escalada insana por adeptos.
A Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros, a ONG Prematuridade.com, é a única organização sem fins lucrativos dedicada, em âmbito nacional, à prevenção do parto prematuro e à garantia dos direitos dos prematuros e de suas famílias.
Atualmente, são cerca de 6.000 famílias cadastradas, mais de 300 voluntários em 23 estados brasileiros e um conselho científico interdisciplinar de “excelência”.
Aponta a entidade que, historicamente, o Brasil sempre foi um exemplo global de vacinação infantil, mantendo, por décadas, as coberturas vacinais acima de 95%.
Porém, desde 2015, os índices de imunização vêm caindo – cenário que se agravou na pandemia – fazendo com que 1,6 milhão de crianças não tenha tomado a primeira dose da vacina contra a pólio ou da DTP (que previne contra difteria, tétano e coqueluche), entre 2019 e 2021, segundo o governo federal.
O relatório “Situação Mundial da Infância 2023 – Para Cada Criança, Vacinação”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revelou que a percepção sobre a importância e a confiança nas vacinas para crianças diminuiu em 52 dos 55 países pesquisados.
No Brasil, houve uma queda de 10% – antes da pandemia, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis e, após o surgimento da emergência relacionada à Covid-19, a taxa caiu para 88,8%.
A situação é ainda mais preocupante no caso dos bebês prematuros, alerta a fundadora e diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani.
“A vacinação é fundamental para a saúde de todas as crianças, incluindo aquelas que nascem prematuras e, por isso, são mais suscetíveis a doenças e infecções. Os bebês prematuros inspiram cuidados especiais, pois podem apresentar baixa imunidade e sistema respiratório mais frágil”, acentua.
A desinformação sobre a segurança das vacinas é um entrave. “É muito importante que os profissionais de saúde se atualizem quanto ao tema, para poderem orientar corretamente as famílias, reforçando sempre a necessidade de manterem o calendário vacinal do bebê prematuro em dia, a fim de garantir a eles mais saúde e melhores prognósticos, bem como a importância da vacinação em dia de todas as pessoas que convivem com o bebê”, ressalta Denise.
A diretora executiva lembra que, de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – parceira da ONG -, as vacinas contra meningite, pneumonia, coqueluche, hepatite B, rotavírus, gripe e as demais do primeiro ano de vida devem ser aplicadas de acordo com a idade cronológica da criança prematura.
Denise explica, ainda, que algumas imunizações, indicadas e disponíveis para o prematuro podem ser feitas com o bebê ainda internado, seja em hospital público ou privado.
“Para isso, a equipe da UTI neonatal deve entrar em contato com o Crie (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais) ou com a coordenação municipal de imunização”, explica.
O Crie tem como finalidade facilitar o acesso de pessoas com necessidades específicas de imunização, como os bebês prematuros, disponibilizando ampla gama de vacinas, soros e imunoglobulinas, gratuitamente, e que não são oferecidos nas UBSs (unidades básicas de saúde) ou o são apenas para faixas etárias restritas.
No link https://prematuridade.com/proteger/os-cries, é possível verificar os endereços dos Cries pelo Brasil.
O prematuro receberá as vacinas do primeiro ano de vida indicadas a todos os bebês, mas com algumas particularidades. Uma das diferenças em relação aos bebês que nasceram a termo é a vacina contra hepatite B.
Nos prematuros que nascem com menos de 33 semanas ou menos de dois quilos, essa vacina deve ser aplicada em quatro doses ao invés de três. Podem ser dadas ao nascer, aos dois, quatro e seis meses ou então ao nascer, com um, dois e seis meses.
Já para receber a vacina BCG, que protege contra a tuberculose, o bebê prematuro precisa estar com, no mínimo, dois quilos.
A diretora executiva lembra que um diferencial importante na vacinação dos bebês prematuros é a recomendação do uso de vacinas acelulares, que são desenvolvidas com partículas e não com células inteiras, fazendo com que as reações sejam menos frequentes e bem mais leves.
“Vacinas combinadas, que protegem contra várias doenças ao mesmo tempo, em uma única dose, também são indicadas para os prematuros. A vacina hexavalente, por exemplo, protege contra difteria, tétano, coqueluche, meningite, poliomielite e hepatite B, em uma só aplicação.
“Prematuros nascidos com menos de um quilo ou abaixo de 31 semanas de gestação têm direito a receber essa vacina, que está disponível nos Cries”, informa ela.
De acordo com especialistas, só é necessário adiar a vacinação do bebê prematuro quando ele está em condição extremamente delicada, como, por exemplo, apresentando pressão arterial instável, distúrbio metabólico e quadros infecciosos, como choque séptico em função de infecção hospitalar ou bronquiolite grave.
“Mas com o quadro se estabilizando, mesmo que na UTI neonatal, é preciso vacinar. Vacinas salvam vidas”, conclui.
A ONG Prematuridade.com tem em sua página na internet uma seção dedicada à imunização (www.prematuridade.com/proteger) onde, além de informações e esclarecimentos, as famílias podem se cadastrar para o recebimento de alertas mensais, por SMS, com lembretes das vacinas necessárias aos bebês.
Observando sem qualquer esforço os números e argumentos da ONG, pode-se concluir se receio que o tal negacionismo ainda resiste firmemente em boa parte da população (mundial), mesmo colocando em risco até a vida de bebês.
Nada surpreende, por consequência, a clara ausência total de medo quanto a um eventual refluxo da própria pandemia de Covid-19, que tanto matou e gerou perdas generalizadas.
A vacinação em Tatuí, por exemplo, denota esta realidade, particularmente quando se constata a baixa adesão à vacina bivalente. Resta o quê, senão torcer para que, algum dia, alguém invente um imunizante contra a carência de bom-senso – agora, pelo bem até das crianças.