“Estelionato eleitoral” tem sido o termo usual para definir o que acontece na política de governo federal, em particular na área econômica, a mais preocupante e que acaba interferindo – senão definindo – em todas as demais.
Na prática, a denominação implica no fato de que o governo está fazendo exatamente o contrário do que prometeu durante a campanha eleitoral.
Entre apenas alguns pontos, prometeu rever a carga tributária, e está fazendo isto, só que a aumentando, não diminuindo; garantiu que benefícios sociais seriam mantidos, porém, acabou de ceifar boa parte deles, incluindo pensões de cônjuges “jovens”, beneficiários do INSS e outros; adiantou que reveria a tabela de isenção do Imposto de Renda, e, novamente, o faz, mas aumentando a cobrança, ao invés das isenções percentuais…
Somando-se a isto a inflação – que só não está “fora da meta” por conta de malabarismos do “economês”, os quais fizeram o país perder a credibilidade diante do mundo -, a taxa de desemprego – que começa, enfim, a crescer -, e o aumento das tarifas de água, energia e combustíveis – contidas, até então, de forma oportunamente eleitoreira -, a crise apresenta a fatura, a ser paga, naturalmente, pela população.
Essas são muitas das tais “medidas impopulares”, citadas pela oposição como necessárias e que (muito) bem serviram à campanha de reeleição, a qual garantia serem propostas da eterna “elite” privilegiada, sempre convicta a explorar o povo coitadinho…
O discurso colou, a situação foi reeleita e, agora, coloca em vigor absolutamente tudo o que abominava no discurso de campanha. Mas, diriam os experts em política, se dissesse a verdade, o grupo do governo não seria reeleito.
Claro que não seria reeleito! Da mesma forma que o governo de São Paulo estaria em outras mãos se não mentisse que a falta de água já representava uma catástrofe, fruto de um misto de arrogância com negligência.
Aí, fica a dúvida: para ser bem-sucedido na política, é preciso mentir? Aparentemente, sim. Certeza, no entanto, só a realidade da conta, que chega a todos e em várias frentes. Uma delas é enfrentada não diretamente pelos cidadãos, mas pelos municípios.
Quinta-feira desta semana, por exemplo, a Prefeitura anunciaria oficialmente um pacote de contenção de gastos para o ano. A divulgação dos cortes foi adiada para a semana que vem.
No início da semana, o prefeito Manu já havia afirmado que as reduções nos gastos da Prefeitura deveriam abranger todas as secretarias.
O objetivo seria diminuir gastos de maneira que o Executivo tenha recursos para realizar investimentos em infraestrutura. Na inauguração da Casa do Adolescente, o prefeito voltou a falar no “arrocho”. Para ele, “2015 não será um ano fácil”.
Entre as razões apresentadas pelo prefeito, está a queda de repasse do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), por parte do governo federal.
“Não é novidade para ninguém que a arrecadação caiu e que temos um passivo muito grande. Nós ainda não conseguimos, com alguns ajustes econômicos feitos no ano passado, acertar a casa”, argumentou.
Em que pesem as questões meramente locais, é certo que o país como um todo tem expectativas preocupantes para os próximos dois anos, pelo menos.
Se há um aspecto positivo nisto, por sua vez, é justamente a oportunidade de se evidenciarem os erros, acertos, competência – e seu oposto – e, principalmente, as realizações, dado ser nos momentos de crise em que mais se percebe o quanto de fato e verdade sobram dos discursos eleitorais.