A censura

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz de Camargo Neto *

Certa vez, quando Getúlio Vargas decretou a censura à imprensa, meu pai saiu-se com esta manchete bombástica n’O Progresso de Tatuí: “Lei monstro institui a censura no brasil”.

Pensava ele que todos os jornais iam fazer a mesma coisa, protestando veementemente contra o decreto. Mas logo percebeu que fora o único a levantar a voz.

A grande mídia silenciou e meu pai ficou visado pelo sistema do ditador de plantão.

Meu querido Vicente Ortiz era um democrata renhido. Não aceitava, de jeito nenhum, que alguém calasse a voz, a opinião de quem quer que seja.

Certa vez contou-me uma piada para ilustrar o valor da liberdade. Era sobre um cachorro brasileiro, magro e abandonado, largado a si mesmo, que se encontrou na fronteira da União Soviética com um gordo cão russo.

Não me perguntem como o nosso cão nacional chegou até essa longínqua fronteira. Na literatura e no humor a imaginação predomina.

Vendo o maltratado cão brasileiro, o cachorrão russo lhe disse:

– Ó amigo, vem pra cá, veja como estou gordo e bonito.

Mas o cachorro brasileiro recusou fortemente.

– Por quê? – perguntou o cachorro comunista.

– Porque aqui, pelo menos eu posso latir.

Ao longo da história, a censura tem muitos nomes: Gengis Khan, Nero, Calígula, Adolf Hitler, Stalin…

Getúlio, que prendeu nosso querido Monteiro Lobato, o qual morreu de desgosto ao sair da prisão, não fugiu à regra. Lobato havia acabado de descobrir petróleo no Nordeste e estava certo de receber um prêmio por ter provado sua tese levantada na campanha “O Petróleo é Nosso”, mas, ao invés de condecoração, foi encarcerado pelo ditador de plantão.

Ávido por ser o único detentor de poder no Brasil, Getúlio organizou uma cerimônia de queima das bandeiras estaduais, para deixar apenas a bandeira brasileira sem ser carbonizada.

Nossa bandeira paulista foi vilipendiada e incendiada por esse ditador fascista, hoje estranhamente tão venerado pelos extremistas de esquerda… É que os extremos se tocam – e ambos são antidemocráticos.

São Paulo foi o único Estado a levantar-se contra a opressão, exigindo para o Brasil, uma Constituição que superasse o desmando do ditador. E nesse embate tivemos nossos mártires da liberdade, cuja vida celebramos no último dia 9 de julho.

Com saudade e veneração. Seu exemplo não morrerá.

Até breve.

* Jornalista e escritor tatuiano.