
A possível concretização da Casa de Apoio ao Tratamento de Câncer “Gildete Spuri de Abreu”, em Jaú, como um “patrimônio” de Tatuí é uma decisão que precisa ser compreendida em sua amplitude. Trata-se não apenas da aquisição de um imóvel, mas da sequência de uma política pública que responde a uma necessidade real: acolher, de maneira digna e estruturada, pacientes em tratamento oncológico e seus familiares.
Buscando adquirir em definitivo um espaço que já vem funcionando há três anos, o município dá um passo estratégico na garantia da continuidade de um serviço que se provou essencial.
A relevância da Casa de Apoio pode ser medida em números e histórias. Desde setembro de 2022, mais de 25 mil pessoas foram atendidas no local, que funciona como um abrigo para quem precisa se deslocar até o Hospital Amaral Carvalho, referência nacional em oncologia.
Por si só, esse dado já justificaria a institucionalização da iniciativa. Mas o que está em jogo vai além das estatísticas: a casa representa acolhimento em momento de extrema fragilidade, quando os pacientes, debilitados pelo tratamento, verdadeiramente precisam de suporte.
Antes da inauguração, muitos deles e seus acompanhantes se viam obrigados a passar horas nas ruas de Jaú, sem condições adequadas de repouso ou alimentação.
Em casos de quimioterapia, por exemplo, o desgaste físico é intenso, e a ausência de um espaço de apoio comprometia não apenas o bem-estar, mas também a adesão e a continuidade do tratamento.
A Casa de Apoio mudou esse cenário, garantindo leitos, alimentação, kits de higiene, acesso à internet, camas hospitalares e, sobretudo, um ambiente humanizado, que inclui a escuta e o apoio psicossocial.
A decisão de adquirir o imóvel é, portanto, mais do que pragmática. Ela confere estabilidade jurídica e patrimonial, reduzindo riscos de interrupção do serviço por questões contratuais, como seria o caso de um espaço alugado.
Isso sinalizaria, ademais, que a política de apoio ao paciente com câncer não estaria sujeita a vontades políticas transitórias, mas se firmando como um compromisso perene de Tatuí com seus cidadãos.
O impacto positivo da Casa de Apoio pode ser analisado em diferentes dimensões. Na esfera da saúde, ela contribui para que os pacientes tenham melhores condições de enfrentar tratamentos longos e desgastantes, muitas vezes de meses ou anos.
O apoio prestado, ainda que não médico em si, é parte do processo terapêutico, pois um paciente acolhido em suas necessidades básicas tem mais condições de suportar os desafios clínicos.
Do ponto de vista social, a iniciativa reduz o peso financeiro sobre famílias que já enfrentam gastos com transporte, medicação e afastamento do trabalho.
Garantir estadia, alimentação e apoio significa, portanto, também aliviar pressões econômicas, permitindo que a atenção esteja voltada ao que realmente importa: a saúde e a recuperação.
O caráter comunitário da Casa de Apoio é outro aspecto que merece ser destacado. Ao longo dos três anos de funcionamento, o espaço tem se beneficiado não apenas da gestão pública, mas também da mobilização de voluntários e doações de mantimentos e recursos.
Isso estimula o papel da sociedade civil como parceira das políticas públicas e cria uma rede de solidariedade que vai além da estrutura física. O imóvel em Jaú, nesse sentido, é mais que um abrigo: é um símbolo de cooperação entre poder público e comunidade.
Outro mérito da decisão é a perspectiva de longo prazo. A saúde pública brasileira, muitas vezes, sofre com a descontinuidade de políticas entre gestões. Programas criados em uma administração são abandonados na seguinte, prejudicando diretamente a população.
Ao tornar a Casa de Apoio um bem do município, Tatuí cria um mecanismo de preservação dessa política, independentemente de mudanças de governo. Trata-se de uma estratégia de proteção institucional.
Também não se pode ignorar o aspecto humano do projeto. O enfrentamento ao câncer é marcado por incertezas, dores e medos. Ter um espaço onde o paciente e sua família podem encontrar repouso e apoio transforma a experiência do tratamento.
É um gesto de dignidade, que reconhece que o cuidado com a saúde não se limita ao atendimento hospitalar, mas envolve também a criação de condições para que a pessoa possa enfrentar esse período com menos sofrimento. A Casa de Apoio se insere nessa lógica ampliada de cuidado, integrando saúde, assistência social e solidariedade.
A compra do imóvel em Jaú também coloca Tatuí em sintonia com um modelo mais moderno de políticas públicas, que enxerga a saúde de maneira integral.
Hoje, gestores e especialistas defendem que investir em acolhimento, prevenção e apoio social reduz custos hospitalares de médio e longo prazo, pois contribui para a adesão ao tratamento e evita complicações decorrentes de abandonos terapêuticos. Assim, a decisão não é apenas humanitária, mas também racional do ponto de vista econômico e de eficiência no uso de recursos públicos.
Diante disso, a consolidação da Casa de Apoio como patrimônio municipal pode ser entendida como um ganho real para a cidade. O desafio agora é garantir a manutenção da qualidade do serviço, com gestão eficiente, mobilização contínua da sociedade e acompanhamento das necessidades que surgirem. A Casa de Apoio já mostrou sua importância; cabe ao município assegurar que ela continue sendo referência para quem dela precisa. Em resumo, o espaço deve ser entendido, sempre, como parte de uma política pública de saúde e assistência social que respeita o princípio de que o cuidado com a vida vai além do hospital.
Ao consolidar a Casa de …. como patrimônio municipal, Tatuí não apenas protege um espaço físico, mas garante a continuidade de um serviço que já beneficiou e continuará beneficiando a vida de milhares de pessoas.