Da reportagem
O vereador de Tatuí de primeiro mandato Vade Manoel Ferreira (Republicanos) assumiu o cargo no dia 1º com a bandeira da luta pela inclusão das pessoas com deficiência. Ferreira foi eleito no pleito municipal ocorrido no dia 6 de outubro de 2024, em sua segunda candidatura, com 1.125, mais que o dobro da primeira, quando obteve 488.
De acordo com o vereador, os trabalhos estão se iniciando, principalmente neste período de recesso parlamentar, quando as sessões ordinárias voltam em fevereiro.
Conforme relatado por ele, a maioria das questões será resolvida a médio e longo prazo: “Temos trabalhado e conversado, não só com a parte do Executivo aqui em Tatuí, mas estamos buscando também outras parcerias, até mesmo com senadores e deputados federais e estaduais”.
Ferreira destaca que uma das principais pretensões para a legislatura dele é a capacitação das pessoas com deficiência, “para que consigam entrar no mercado de trabalho e conquistar uma boa qualidade de vida”.
“Nós temos várias leis em Tatuí e várias leis da LBI (Lei Brasileira de Inclusão). Porém, no caso da LBI, que fala sobre a questão da educação da pessoa com deficiência, ela não está totalmente regulamentada para que a pessoa entre na sala de aula, permaneça, termine o ensino fundamental, o médio e vá para a faculdade”, destaca.
O vereador relata que pretende, a médio e longo prazo, desenvolver, junto à nova secretária municipal da Educação, Rosângela Aparecida Domingues Fernandes, um trabalho com mecanismos de ensino para que as pessoas com deficiência permaneçam na rede e consigam se formar.
“É um dos nossos maiores objetivos, pois tivemos agora, há pouco tempo, no final do ano passado, uma discussão muito forte dentro do governo federal sobre o Benefício de Prestação Continuada, o BPC, que seria cortado. Muitas pessoas com deficiência vão perder o benefício por algumas regras que foram colocadas”, argumenta ele.
“É preocupante essa questão de elas entrarem para a sala de aula, permanecerem e se formarem. Então, essa pessoa, amanhã, não vai depender de um auxílio do governo para ter sua subsistência e para poder se manter; ela vai conseguir, pela capacidade que têm, entrar no mercado de trabalho e ter uma condição de vida boa”, acrescenta Ferreira.
O vereador também declara pretender que Tatuí seja um polo do PEI (Programa do Emprego Inclusivo), que, em iniciativa com a parceria privada, oferece cursos de capacitação profissional para pessoas com deficiência. “Ele procura estreitar esse relacionamento também junto às empresas e capacitar para que a pessoa com deficiência entre no mercado de trabalho”.
“A gente tem a lei de cotas, só que a maioria das empresas não cumpre porque não tem pessoas capacitadas para entrar no mercado de trabalho”, continua.
Em relação à acessibilidade no município, Ferreira declara que a cidade, daqui a dois anos, irá completar dois séculos e, como “a grande maioria das cidades mais antigas, foi criada dentro de um conceito de preconceito no que diz respeito à pessoa com deficiência”.
“Antigamente, quando nascia uma pessoa com deficiência, falava-se que aquela família estava pagando o pecado por um erro que cometeu, e ela tinha vergonha de colocar a pessoa na rua e acabava escondendo-a. Então, as cidades foram criadas praticamente sem acessibilidade nenhuma”, aponta.
Ele destaca que será “um trabalho muito grande” transformar Tatuí cada vez mais em uma cidade inclusiva e acessível. “Um exemplo que vou dar é na Câmara Municipal: tivemos uma dificuldade, porque eu queria um gabinete embaixo, e, infelizmente, uma pessoa não quis ceder”, conta ele.
Ferreira declara estar averiguando a possibilidade de abrir outra sala no térreo para que consiga ficar mais acessível e atender ao público dele.
“Estou conversando tanto com o Adilson Fernando dos Santos (diretor do Legislativo) quanto com o Renan Cortez (MDB), presidente do Legislativo, para fazer com que a Câmara se torne mais acessível”.
“E vamos lutar também para buscar, junto ao prefeito (Miguel Lopes Cardoso Júnior), fazer com que a cidade se torne cada vez mais acessível”, sustenta.
Ao relatar sobre a falta de acessibilidade no município, Ferreira também argumenta que ela acaba não sendo um problema apenas para as pessoas com deficiência, mas também para os idosos.
“Quando falo em cidade acessível, há pessoas que pensam somente na pessoa com deficiência, mas elas esquecem que a nossa população está envelhecendo. A perspectiva de vida até então era de 75, 76 anos, e ela está aumentando. Na medida em que a nossa idade avança, a pessoa vai tendo uma redução de mobilidade”, lembra ele.
De acordo com Ferreira, com essa redução de mobilidade, os idosos começam a andar mais devagar, utilizam bengalas, andadores ou cadeiras de rodas. “Então, quando a gente trabalha nesse sentido, se preocupando com uma cidade acessível e que remova as barreiras, nós estamos preparando a cidade para o nosso futuro”, observa.
Segundo o vereador, há na cidade, aproximadamente, 10 mil pessoas com deficiência. “Geralmente, se ela quer ir para algum lugar, precisa ir para o meio da rua, correndo o risco de ser atropelada, porque, hoje, a gente percebe muito isso: as pessoas dirigem e digitam no celular, tirando muito a atenção”, avalia.
Outro trabalho previsto é o da conscientização, incentivando as pessoas não portadoras de deficiência a fazerem calçadas de suas casas sem elevação, facilitando a acessibilidade nos bairros, além do respeito às placas de sinalização de trânsito e filas preferenciais.
“Passaremos muito por essa questão de conscientização. É um trabalho que procuro fazer dentro do mandato, continuar nas escolas, nas empresas, em vários lugares, conscientizando crianças, jovens, adolescentes e adultos sobre essa questão voltada para a pessoa com deficiência”, acrescenta.
“O que acontece: você falando para as crianças, elas já vão crescer com esse pensamento; jovens e adolescentes, também. É claro que a pessoa adulta em si já é um pouco mais difícil de você convencer, mas aquele ditado diz: ‘Água mole em pedra dura tanto bate até que fura’”, enfatiza.
Ferreira relata que “abriu os olhos” para a luta da pessoa com deficiência após um acidente sofrido em 2016: “Eu trabalhava como pintor e sofri um acidente, um choque de 13,8 mil volts, e fiquei dois meses internado. Nesses dois meses, passei por três amputações: duas no braço direito, uma no braço esquerdo e umas 15 cirurgias ao todo”.
“De lá para cá, como eu sempre falo, os meus olhos se abriram para as questões relacionadas à pessoa com deficiência”, garante o novo parlamentar.
Em 2019, Ferreira entrou para o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e, em 2020, foi convidado a participar das eleições pela primeira vez.
“Depois que terminou a eleição, continuei trabalhando em cima da nossa bandeira, onde passei a coordenar a Apodet (Associação das Pessoas com Deficiência de Tatuí). Continuei no conselho, comecei também a dar palestras em Tatuí e região, e, no ano passado, fui eleito com mais que o dobro da outra eleição”, lembra.
O coordenador da Apodet relata que, mesmo sendo essa a bandeira dele, o trabalho de vereador não se resume apenas a uma parcela da população. “Há aqueles projetos para desenvolver visando esse grupo, porém, também acabamos tendo que cuidar da cidade de uma forma geral”, relata.
Ele sustenta que deixará as portas abertas para toda a população: “Tem coisas que a gente não tem conhecimento, e muitas pessoas têm demandas e boas ideias de projetos para a gente poder desenvolver”.
“Mesmo que seja em outra área, não tem problema nenhum. Pode trazer, porque nós vamos dar toda a atenção para aquilo que for o melhor para a nossa cidade”, enfatiza.
Uma das pretensões do vereador, referente à população em geral, é em relação aos jovens moradores dos bairros periféricos. De acordo com ele, não apenas em Tatuí, mas no Brasil e no mundo, muitos jovens têm se envolvido com o tráfico de drogas, acreditando ser uma maneira de ganhar dinheiro de forma fácil e “sem muito esforço”.
“Porém, muitos acabam perdendo a vida e a liberdade. Precisamos pensar na nossa juventude, pois eles são o futuro do Brasil. Procurar desenvolver, nos bairros da periferia, cursos de capacitação, mostrando para eles que podem vencer na vida e que não precisam se envolver com o tráfico e com o mundo do crime”, reforça.
Finalizando, Ferreira pede que a população “acredite no trabalho dos vereadores”: “Que elas cobrem, porque esse é um direito de todas elas, que venham a participar mais da política, estejam mais presentes na Câmara, sejam pessoas ativas também na questão das redes sociais e tudo mais, sempre tendo a liberdade para criticar, mas que sejam também mais participativas, para compreenderem melhor como tudo funciona”.
“E também acreditem nas pessoas que foram colocadas, acreditem no nosso governo e, principalmente, que orem pelas nossas autoridades, para que Deus dê sabedoria e direção, para que a gente consiga desenvolver um bom trabalho em prol da nossa cidade e de toda a nossa população”, acrescenta.