Museu “Paulo Setúbal” tem mostra de filmes do cineasta Juan Siringo

Evento faz parte do projeto “Cinema à Deriva”, de Felipe Abramovictz

Juan Siringo, argentino nascido em Mar Del Plata (Foto: Divulgação)
Da redação

Tendo a primeira ação no sábado da semana passada, 9, tem sequência neste dia 17, com sessões iniciadas às 14h30, o projeto “Cinema à Deriva”, do pesquisador Felipe Abramovictz. A iniciativa consiste em exibições de dois filmes do cineasta Juan Siringo. A entrada é gratuita, no Museu Histórico “Paulo Setúbal”.

“Chico, o Leve” (1967) e “A Nova Gente” (1969) são as obras em destaque a serem apresentadas por Abramovictz, que objetiva “preservar e resgatar as obras de Juan Siringo, devolvendo acesso ao público a essas produções”.

O projeto “Cinema à Deriva” foi contemplado pelo Edital de Cultura 02/2023 “Seleção e Premiação de Propostas de Circulação de Trabalhos Artísticos, exceto Música”, da prefeitura, sendo uma iniciativa do curador, que, desde 2018, tem procurado demonstrar ao público a relevância dos trabalhos do cineasta.

“O edital nos permite difundir as obras recuperadas com recursos próprios, apesar das grandes dificuldades geradas pelo estado precário de conservação do material. Espero que possa inspirar um olhar mais atento para a preservação do patrimônio audiovisual em Tatuí”, comenta Abramovictz.

Ele revela ser a primeira vez que as obras são exibidas em seu formato 8 mm, e ressalta a exclusividade delas nesse formato. “Destaco que, ainda que parte dos filmes tenha sido exibida em São Paulo, na mostra que organizei na Cinemateca Brasileira, as obras realizadas em 8 mm, em 1960, por Juan Siringo, nunca foram exibidas publicamente e terão sua estreia na sessão em Tatuí”.

Siringo e Abramovictz

Juan Siringo, argentino nascido em Mar Del Plata, em 1939, e residente no Brasil desde o fim dos anos 1950, iniciou carreira cinematográfica nos anos 1960 com o média-metragem “À Deriva” (1965-1966), marcado por influências das vanguardas europeias e roteiro colaborativo com o poeta Lindolf Bell.

Com trilha sonora de estreia da cantora Tuca e participação da atriz Karin Rodrigues, o filme foi exibido em festivais nacionais e internacionais.

Em 1967, Siringo ganhou destaque com o curta “Chico, o Leve”, premiado pelo Instituto Nacional de Cinema, após sua exibição no Festival de Karlovy Vary, na República Chéquia.

O longa-metragem de estreia de Siringo, “A Nova Gente” (1968), abordou os levantes estudantis em um período de intensas mobilizações políticas. No entanto, o filme enfrentou a censura do Ato Institucional nº 5 em 1969, sofrendo cortes que impediram seu lançamento comercial, mesmo após tentativas do diretor.

Nos anos seguintes, Siringo colaborou com Alfredo Sternheim em projetos como “Paixão na Praia” (1971) e “Anjo Loiro” (1973). Em 1978, Siringo dirigiu “Pecado Sem Nome”, com Raul Cortez e Sandra Barsotti, inspirado em uma notícia de jornal sobre a marginalidade.

Além do cinema, dedicou-se à literatura, escrevendo contos como “Chuvas de Setembro” e “A Dama do Brás”, e peças teatrais, como “Íntimos Desconhecidos” (sob o pseudônimo Antonio Renzo) e “Gulosos e Guloseimas”, que, mesmo premiadas, permanecem inéditas.

Por sua vez, Felipe Abramovictz é doutorando em multimeios pela Unicamp, mestre em comunicação audiovisual pela PPGCOM-UAM e graduado em comunicação e multimeios pela PUC-SP, com especialização em patrimônio audiovisual pela DiPRA, em Buenos Aires, e formação em teatro pelo Conservatório de Tatuí.

Autor do livro “Cinema É Sonho” (2023), dirigiu e montou os documentários “As Imagens de Aury” e “Valsa de Julho”, e atua como co-roteirista e diretor de fotografia do longa “Trópico de Leão”, em fase de finalização para este ano.

Abramovictz dedica-se à preservação do acervo de Expedito Lima, superoitista paulista que produziu dez longas entre os anos 1970 e 1980, e prepara um livro sobre ele, intitulado “Cinema É Sonho”, viabilizado pelo Proac.

Sua pesquisa resultou em mostras organizadas na Cinemateca Brasileira, na Assembleia Legislativa de São Paulo e no Centro de Memória do Circo, além de projetos relacionados aos acervos de Juan A. Siringo e Otoniel Santos Pereira, que permitiram a recuperação de materiais fílmicos.

Com base nessas pesquisas, foi curador das mostras “Otoniel Santos Pereira – Cinema de Pele e Osso” e “O Cinema à Deriva – Juan Siringo”, realizadas na Cinemateca Brasileira.

Abramovictz também organizou a retrospectiva completa “André Luiz Oliveira – Cinema de Dentro”, exibindo mais de 30 obras, e a mostra “Luna Alkalay – Fantasias do Real” (2024), destacando sua contribuição ao cinema.

Abramovictz conheceu Juan Siringo em 2018, quando o entrevistou em busca de informações sobre os curtas realizados pelo cineasta na década de 1960. A entrevista aconteceu no antiquário de Siringo, onde ele mostrou a película de “Chico, o Leve”, encontrada recentemente em um leilão por um amigo.

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