Entre estes dias 29 de outubro e 1º de novembro, aconteceu a 2ª Semana Brasileira de Educação Midiática, organizada pelo governo federal. A chamada “alfabetização midiática”, desde a infância, pautou o evento.
Isso por ser entendida como fundamental para que as crianças aprendam a distinguir informações verdadeiras de falsas (fake news), “promovendo um consumo mais consciente e responsável das notícias”.
Em razão do evento, o Joca – jornal voltado ao público jovem, inspirado em publicações do gênero na Europa – divulgou, nesta semana, material à imprensa com uma série de dicas para os pais ensinarem os filhos a identificarem notícias falsas.
Nele, a diretora pedagógica do jornal infantojuvenil destaca a importância de abordar o tema e indica um passo a passo para que pais e responsáveis possam orientar a checagem de informações. Aponta ela:
“Com a enorme quantidade de informações circulando nas redes sociais e em outros meios online, é essencial que pais e professores orientem crianças e adolescentes para que a interação com esse universo ocorra de forma responsável e segura. Afinal, a propagação de notícias falsas pode influenciar decisões erradas, fomentar preconceitos, impactar eleições, estimular o ódio e dividir a sociedade.
Desde 2022, o Joca, primeiro jornal do Brasil com notícias da atualidade voltadas às crianças e jovens, promove formações de educação midiática para professores e estudantes e já beneficiou 2.251 educadores.
Em 2023, nasceu uma nova iniciativa: a oficina Fato ou Fake, voltada para a formação dos alunos sobre o assunto. Cerca de 700 jovens já foram beneficiados desde então.
Cristina Harich, diretora pedagógica da Magia de Ler, editora que publica os jornais Joca e TINO Econômico, destaca que as crianças têm sido expostas cada vez mais cedo a vídeos e outros conteúdos que circulam nas redes sociais.
‘Com o senso crítico ainda em formação, elas precisam desenvolver a capacidade de avaliar e refletir criticamente sobre os conteúdos que recebem. Por isso, são um público vulnerável a possíveis manipulações, o que reforça a necessidade de um letramento midiático’, alerta.
No Brasil, cerca de 25 milhões de indivíduos, com idade entre 9 e 17 anos, são usuários de internet, de acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil, feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação.”
Em seguida, a diretora enumera o passo a passo para a identificação de notícias falsas. Fazer a criança entender o conceito de fake news é o primeiro passo.
“Os adultos devem esclarecer que o termo estrangeiro significa notícias falsas, criadas para manipular e enganar as pessoas ou espalhar desinformação. Usar exemplos práticos, como contar histórias ou mostrar notícias falsas que circularam na internet e foram esclarecidas, são boas estratégias para maior compreensão do que está sendo dito”.
Segundo: “As crianças devem ser orientadas sobre como verificar quem escreveu a notícia e de onde ela veio, ou seja, ensinar a reconhecer se há um profissional que assinou o texto e qual o veículo de mídia compartilhou a informação. Se a fonte não for conhecida ou confiável, há motivo para desconfiança”.
“As crianças também devem ser orientadas a fazer uma pesquisa rápida e procurar a mesma notícia em outros canais de informação populares e reconhecidos para checarem os fatos”, complementa.
Em terceiro, ela ressalta: “Notícias falsas geralmente possuem títulos exagerados e apelativos para chamar atenção e nem sempre fornecem detalhes suficientes, como datas ou fontes confiáveis”.
Por isso, a especialista orienta analisar se a notícia contempla detalhes como nomes, locais, datas, contexto do fato, citações a documentos ou pesquisas, por exemplo. “Se o texto omitir dados importantes, essa ausência de informações pode ser um indício de falsidade”, alerta Cristina.
Na sequência, o apontamento é: “Antes de compartilhar algo, seja pelas mídias ou em conversas, é importante garantir se a informação é verdadeira. Caso haja dúvidas após os pontos de checagem, a orientação é a de não disseminar o conteúdo para não colaborar com a desinformação”.
“Procure mostrar que há um efeito negativo no compartilhamento de conteúdos enganosos. Um vídeo sobre saúde, por exemplo, pode levar as pessoas a seguirem conselhos ruins, colocando a segurança da pessoa em risco”.
“Além disso, tal prática aumenta a relevância da informação nas redes sociais e deixa um rastro no histórico online para o usuário, fazendo com que o aplicativo entenda que ele gosta daquele tipo de conteúdo”, exemplifica a especialista.
O quinto indicativo lembra que as redes sociais têm uma idade mínima de 13 anos para que as crianças possam criar perfis. “Mesmo que ela não tenha uma conta em redes sociais, ensine-a a ser cuidadosa com os vídeos e conteúdos que acessa em plataformas como YouTube ou TikTok”, acentua.
O sexto passo foca no incentivo. “As crianças devem ser incentivadas a serem curiosas e questionarem as informações que recebem online. Fazer perguntas como ‘Por que alguém escreveria isso?’ ou ‘Qual é o objetivo dessa notícia?’ ajuda a estimular o pensamento crítico”.
Por isso, a recomendação de Cristina é manter um espaço aberto para falarem sobre o que acessam online. “Isso as ajudará a refletir e aprender a identificar padrões de desinformação”, reforça.
“Não é possível controlar o que as crianças e jovens leem e veem a todo tempo, por isso podemos incluí-los nas discussões, debatendo sobre fatos da atualidade que façam sentido ao universo deles, orientando-os sobre buscar fontes confiáveis e exercitando a formação das próprias opiniões. Mais bem informada, a nova geração contará com cidadãos mais críticos, responsáveis e ativos no futuro”, finaliza a diretora pedagógica da Magia de Ler.
Iniciativas desta natureza são fundamentais na atualidade, momento em que significativa parte da população – planetária – optou por viver em um mundo imaginário, a partir do ambiente digital, onde é possível encontrar o chamado viés de confirmação para tudo que lhe convém – por mais absurdo seja.
O resultado é que a realidade perde espaço, dando lugar às crenças em mentiras, às manipulações e ao senso crítico zero, assim, não apenas expondo ao ridículo gerações de adultos, mas comprometendo o próprio planeta.
Que as futuras gerações sejam mais bem preparadas para enfrentar a parte ruim do mundo virtual, aprendam a se defender dela, “salvem a humanidade” e, lá na frente, tenham compaixão desta atual geração.