Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
Caros amigos,
Sábado, 17 de agosto, em visita a Tatuí, tive a grata satisfação de ver essa espetacular peça de teatro representada nos palcos do Conservatório.
Extasiado, vi desfilar diante dos olhos os tempos gloriosos da rádio no Brasil, pude ouvir deliciado as antigas músicas que trazia ao público, e sobretudo conscientizar sua influência sobre as famílias, seus acordos com americanos e governo, até ser substituída pela televisão, que mudou muitos costumes. Inclusive dando a uma dupla caipira que sempre fora rechaçada pela rádio, o sucesso de vendagem de 2 milhões de discos…
Convidado pelo Gerente Artístico e Pedagógico de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí, Antonio Salvador, o premiado grupo Coletivo Cê, formado por ex-estudantes de artes cênicas do Conservatório e atuante há 15 anos na vizinha cidade de Votorantim, assumiu, com muita beleza, a direção do espetáculo, que criou.
O trabalho de construção da peça e de atuação em palco reuniu ainda estudantes bolsistas da Cia. de Teatro do Conservatório, que puderam se aprimorar na maravilhosa arte do Teatro e da Música.
O resultado foi encantador! Com muita justiça, o público que lotava o teatro, aplaudiu demoradamente, em pé, o grandioso espetáculo.
Grandioso sim, não apenas por reunir 17 excelentes estudantes bolsistas de artes cênicas e de música, não somente por durar cerca de três horas, mas porque tudo nessa peça chegou a beirar a perfeição: a criação das personagens, a iluminação, a trilha musical, a expressão corporal, as indumentárias, as máscaras faciais, a representação… Que dizer mais, de algo que nos enlevou tanto?
Que, assim como “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, esta peça merecia ser transformada em filme e em seriado. Pois só assim poderíamos revê-la muitas vezes, detendo-nos em seus detalhes, em suas falas, em sua música, em seu enredo.
A peça de Suassuna eu já assisti umas 20 vezes. Decorei as falas. Memorizei cada cena. E rio sozinho ao lembrar-me delas. O mesmo acontece com pessoas com as quais converso, das mais diferentes classes sociais.
Este espetáculo “A Vaca Virou um Rádio” veio para ficar. Parabéns e gratidão a todos os envolvidos. Bendita a cidade que pode regularmente apresentar eventos artísticos como esse ao povo, do modo como faz a nossa Tatuí.
Parabéns a este espetáculo, que pôs a arte acima das finanças, e não poupou figurantes, nem músicos nem trajes, nem cenários. Num mundo que cada vez mais ampara cada vez menos os artistas, que precisam eliminar cenários e reduzir o número de atores para conseguir sobreviver, esta peça cai como um triunfo da arte imortal do Teatro sobre o egoísmo do lucro econômico.
Vida longa ao Coletivo Cê e ao Conservatório de nossa cidade!
Até breve.
* Jornalista e escritor tatuiano.