A relação entre alcoolismo e depressão é complexa e multifacetada, envolvendo fatores biológicos, psicológicos e sociais. Do ponto de vista da psicologia cognitivo-comportamental (TCC), o alcoolismo é entendido como um transtorno que pode ser sustentado por padrões de pensamento disfuncionais, crenças irracionais e comportamentos de enfrentamento inadequados.
Segundo a psicóloga clínica Tatiane Paula, muitas vezes, o uso excessivo de álcool começa como uma estratégia para lidar com emoções negativas, como ansiedade ou tristeza. Com o tempo, esse comportamento se torna habitual, levando à dependência física e psicológica.
“O álcool é um depressor do sistema nervoso central. Seu consumo prolongado e em excesso pode levar a alterações químicas no cérebro, como a diminuição dos níveis de serotonina, um neurotransmissor associado ao bem-estar. Isso pode resultar em sintomas depressivos. Além disso, o álcool pode intensificar sentimento de culpa, inadequação e desesperança, especialmente quando a pessoa percebe que perdeu o controle sobre seu consumo”, explica a psicóloga.
Os fatores de risco para o desenvolvimento do alcoolismo incluem uma combinação de predisposição genética, influência ambiental, histórico familiar de abuso de substâncias, traumas, problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e a exposição frequente ao álcool em contextos sociais. A TCC enfatiza a importância de identificar esses fatores e trabalhar para modificá-los ou gerenciá-los de forma eficaz.
“O hábito de beber pode agravar significativamente a depressão. O álcool pode oferecer alívio temporário dos sintomas depressivos, mas, a longo prazo, ele agrava a condição. A intoxicação crônica e as consequências negativas associadas, como problemas de relacionamento e perda de produtividade, podem aumentar sentimentos de desesperança e perpetuar um ciclo de depressão e consumo de álcool”, ressalta.
Os sintomas da depressão alcoólica incluem tristeza persistente, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, fadiga, alterações no apetite e sono, dificuldades de concentração, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva, e pensamentos suicidas. Esses sintomas podem ser exacerbados pela presença do alcoolismo, dificultando ainda mais o tratamento.
“A abordagem de tratamento para alguém com depressão e alcoolismo deve ser integrada e multidisciplinar. A TCC pode ser uma ferramenta poderosa, ajudando o paciente a reconhecer e desafiar pensamentos disfuncionais, desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis e criar um plano de prevenção de recaídas. Além disso, o suporte social e familiar é fundamental. Em muitos casos, o tratamento medicamentoso também pode ser necessário, sendo essencial a colaboração entre psicólogos e psiquiatras”, conclui.
A intervenção precoce é crucial para evitar que esses transtornos se agravem. Se você conhece alguém que luta contra a depressão e o alcoolismo, encoraje-o a buscar ajuda profissional. A recuperação é possível, e o apoio contínuo pode fazer toda a diferença.