Leonardo de Moraes*
Por este Dia dos Avós (26 de julho), vale destacar que envelhecer se tornou um pecado, o pavor de toda uma geração. Mas quando foi que esse medo ficou tão fora de controle?
Arrisco dizer que importamos da cultura estadunidense, com seus “time is money” e “forever young” tão presentes no mercado financeiro e audiovisual, onde envelhecer sempre foi sinônimo de se deixar ultrapassar e perder relevância profissional e social.
Biden que o diga, sem rugas e sem senso, ladeado por Trump, com sua pele laranja e topete laqueado.
Admirar o idoso, porém, é algo que a Europa mantém em sua independência cultural: as rugas nos sorrisos são bem-vindas, os cabelos brancos fervilham nas praças de Paris, nos parques da Alemanha, nas cátedras inglesas e bulevares espanhóis.
Aparentar idade era, aliás, moda na Europa do século 18. Conhecemos Maria Antonieta, morta aos 37 anos, apenas de perucas grisalhas: as cãs da sabedoria, do respeito, da perenidade.
Hoje, porém, exigimos do idoso a disposição física e “savoir faire” típicos da juventude. O discurso de “deixar a natureza seguir seu curso”, tão válido em diversos assuntos, não vale quando nos referimos ao próprio corpo. Pouco importa que seus hormônios partiram, junto de seu colágeno e seus cabelos.
Aparentar a própria idade se tornou sinal de descuido ou depressão. É como se hoje, no tarot da vida, tivéssemos eliminado a carta do Ermitão – a figura do idoso ou idosa que nos orienta nas dores existenciais.
Não! Os idosos têm de parecer jovens, se encaixar, se atualizar e acompanhar a vida no mesmo passo, na mesma toada da manada. Eternamente, para sempre e sempre.
A saudosa Rita Lee já ensinava: queria envelhecer e tornar-se uma feiticeira. Ela sabia da importância dos caminhos da velhice. A perda do desejo de protagonizar e competir, tão visceral e hormonal, nos permite entender o que é o amor incondicional.
Sair da arena, do ringue, dos holofotes, do centro das atenções, não é sinal de fracasso existencial, muito pelo contrário.
O processo de envelhecimento é terapêutico ao ego – somos obrigados a nos despir, pouco a pouco, dos conceitos vaidosos que criamos sobre nós mesmos. Ainda que mantenhamos a saúde física e a disposição, é apenas com a desidentificação da própria juventude que nos permitimos outros tipos de conexões afetivas, sobretudo com as novas gerações.
Fortalecem-se as relações avós-netos, mentor-pupilo, professor-aluno, em conexões intergeracionais de aprendizado que não são mais atrapalhadas pelo ruído da rivalidade ou do desejo sexual.
Viva o idoso e a natureza dos caminhos. Natureza, aliás, sempre sábia; e sábia, porque antiga.
* Mestre em Direito do Estado, professor de direitos humanos e autor do romance “Tia Beth”