Raul Vallerine
Nove de julho! Eróica bela data. Marco inicial da jornada democrata. Piratininga, terra de trabalho. Onde são reis a enxada e o malho! Seu povo altivo vai espalhando, Amor pela Pátria e vai cantando: Solo querido! Terra amorosa! Pátria de Bravos! Sempre formosa!
Aconteceu em São Paulo e foi uma insurreição contrária ao novo quadro político que se instaurou no país após a Revolução de 1930.
Em 9 de julho de 1932, irrompeu a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Governava o Estado, como interventor federal, o paulista Pedro de Toledo, logo proclamado governador.
Formaram-se batalhões de voluntários, e aderiram ao movimento algumas unidades do Exército, um forte contingente de Mato Grosso e a quase totalidade da força pública estadual.
Foram mobilizados inicialmente 50 mil homens, cujo comando coube ao coronel Euclides de Oliveira Figueiredo e depois ao general Bertoldo Klinger, sob a chefia suprema do general Isidoro Dias Lopes.
Após inflamado apelo publicado pelo jornal O Progresso de Tatuhy, de nº 478 de 24 de julho de 1932, os tatuianos não ficaram indiferentes.
Surgiram novos voluntários: Benedito Dias e Luiz Alves de Oliveira, no 8º Batalhão de Caçadores Paulista de Itapetininga; Orlando Carneiro, José Carlos Hoffmann, Francisco Manoel Sá e Alcindo Soares, na 2ª Região Militar de S. Paulo; Brasil Piragibiu, Isaias Alves de Oliveira, Otoniel João de Ávila, Maximiano de Camargo e Nelson Pires, na Força Pública de São Paulo; Francisco de Andrade Ramos, no Batalhão Acadêmico.
Dia-a-dia o número de voluntários aumentava, apresentando-se à Delegacia e partindo muitos deles sem requisitar passes, entre eles: José Fernandes Ruivo, Antônio M. de Oliveira, José Antônio Fernandes, Mamede Jacinto, Antônio Pires, Alcides Pires de Camargo, Martinho Martins de Souza, José Gomes da Silva, Benedito de Souza, Mário Trindade, Luiz Gonzaga de Souza, Francisco B. da Silva, João Cardoso, Alberto Bueno e Francisco Bartolomeu.
De acordo com a circular do departamento de administração municipal, o prefeito Joaquim Assunção Ribeiro solicitou aos senhores professores Muniz de Souza e Pimentel Gomes, lentes do Ginásio do Estado, que dirigissem o serviço, organizando comissões encarregadas.
Além disso, a Prefeitura não mediu esforços para concluir o campo de aviação, que se destinava a prestar grandes benefícios aos aviadores que lutavam em prol de São Paulo.
O entusiasmo do tatuiano era tanto, que nem as notícias extraoficiais de que São Paulo começava a sofrer suas primeiras baixas arrefeciam os ânimos. Enquanto os voluntários partiam, a cidade toda, irmanada trabalhava. A primeira tatuiana a servir à causa foi Cantídia de Oliveira, que seguiu para São Paulo para servir na Cruz Vermelha.
Seu gesto foi seguido em Tatuí por Dona Faraildes de Camargo Flores que, proprietária da oficina de costura de Tatuí, comunicou às autoridades locais ter posto à disposição da causa constitucionalista os seus serviços de corte e costura, inteiramente grátis, para a confecção de roupas brancas e uniformes destinados aos soldados constitucionalistas.
Os interessados deveriam dirigir-se e seriam atendidos à Rua José Bonifácio nº 401. Além disso, diversas moças da sociedade angariaram donativos destinados aos soldados.
As mulheres também atenderam prontamente ao chamamento da igreja Presbiteriana, que organizou um curso de enfermagem, cuja direção foi confiada ao farmacêutico João Avallone.
Muitas alunas do ginásio se inscreveram e participaram do Curso, cujas noções teóricas foram ministradas diariamente pelo Prof. Nacif Farah e as aulas de Medicina pelo Dr. Gualter Nunes, na Santa Casa local.
Muitas senhoras serviram também no Hospital do Sangue. Esta comissão organizava comícios pró-constitucionalização, arrecadava donativos e incentivava os tatuianos, como o faziam Chiquinha Rodrigues e Marina Soares Hungria, através de artigos em jornais da época.
Ao contemplarmos a Bandeira Paulista com suas treze listras, lembramos das Entradas e Bandeiras, da Revolução Constitucionalista de 1932, do MMDC – Miragaia, Martins, Dráuzio e Camargo. Houve também uma quinta vítima, Orlando de Oliveira Alvarenga, que também foi baleado naquele dia no mesmo local, mas morreu meses depois.
A revolução fora vencida, mas a vitória desses ideais viria em 1934, com a promulgação da Constituinte!