Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
Caros amigos.
Leio agora a notícia de que o presidente Lula ficou espantado com a quantidade da “população negra” no Rio Grande do Sul, mas o IBGE assegura a preponderância da “população branca” na região inundada.
Mas, num povo completamente mestiçado como o nosso, quem é realmente branco? Quem é realmente negro? E o que significa essa denominação “pardos”?
É incrível que nas pesquisas do IBGE não haja a palavra mais presente no povo brasileiro: “mestiço”.
As pesquisas do IBGE são baseadas no fenótipo e não no genótipo. Então, o funcionário olha, vê a cor da pele da pessoa e diz: “é branca”; “é negra”; “é parda”.
Ou se baseia na declaração da pessoa: o que o senhor acha que é? Se a pessoa responder “negra”, ou “branca” (ninguém vai responder pardo, por mais moreno que seja) é isso que é anotado nas estatísticas.
Acontece que, como explicamos em nosso livro “História Secreta do Nordeste”, o Brasil é um país quase inteiramente de mestiços, de mistura de brancos com negros, brancos com índios, negros com índios etc., que depois continuam se miscigenando com japoneses, libaneses, ingleses, italianos, portugueses, numa mestiçagem sem fim.
Então, estamos num país onde o branco não é branco, o negro não é negro, nem o pardo é pardo – são todos mestiços.
Um indivíduo branco pode ser descendente de negros, índios e brancos; o mesmo acontece com os negros, os mulatos etc.
Nossa sorte é sermos miscigenados, o que faz de nós uma tal mistura, que viramos simplesmente brasileiros.
Um filho de mãe índia e pai português por exemplo, mestiçagem das mais comuns no período colonial, gosta tanto da etnia do pai como da mãe, gerando a tolerância racial, melhor dizendo, o afeto racial existente de modo único em nosso país.
Do mesmo modo, como vi Aldo Rebelo afirmar na entrevista que fizemos: “Tal descendente, não pode ser português, porque a mãe é índia, e não pode ser índio, porque o pai é português, então ele resolve ser simplesmente brasileiro”.
Não sei como o IBGE pode fazer para consertar essa distorção e apresentar nosso povo como realmente é: nem branco, nem negro, nem pardo: mestiço brasileiro, representante de um povo novo, único no planeta.
Senão é como disse Ariano Suassuna: “Existem três tipos de mentira: a comum, a deslavada e as estatísticas”.
Até breve.
* Jornalista e escritor tatuiano.