Poema da Inversão

José Ortiz Camargo Neto

 

Existe a inclinação boa

A qual nos é natural

E a vontade invertida

Que procura afoita o mal

 

De dentro brota o desejo

De fazer sempre o que é bom

Ser bom, belo, verdadeiro

Ou seja, ser nosso ser!

 

Porém pra que esse desejo

Possa na prática entrar

É preciso a pessoa

Livremente o aceitar

 

Mas talvez já pela queda

Do pecado original

E também pela influência

Dos espíritos do mal

 

Surge uma outra vontade

Distorcida, destrutiva

Contra a inclinação normal

Que nos cega e escraviza

 

Hoje estamos na curiosa

E doentia situação

De termos o bem em nós

Mas não o termos na ação

 

Marcados por nascimento

Pelo vício original

Arrastados ao pecado

Pelo convívio social

 

Apertados pelo cerco

Do setor espiritual

Nós entramos de roldão

No mundo da inversão

 

Onde buscamos o mal

De modo até sem pensar

Quando vemos já estamos

Na estrada errada a andar

 

E como em todo o vício

Começamos a gostar

Daquilo que nos estraga

E que irá nos matar

 

Estamos neste momento

Na curiosa condição

De termos o tempo todo

De notar nossa inversão

 

Tudo que eu quero, cuidado!

O que não quero, atenção!

Pois eu quero o que é errado

E não quero o que é são

 

Só desse modo podemos

Pela conscientização

Voltar ao mundo real

Fazer a desinversão!