Raul Vallerine
O sinal admirável do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus!
Embutida nas encostas dos Apeninos, a sonolência da pequenina Gúbio, de vez em quando acolhia amorosamente o homem que iluminava toda a Úmbria.
Quando Francisco de Assis chegava, os pastores largavam os cajados, o gado parava de mugir, os regatos cantavam alegremente, os passarinhos pulavam contentes de ramo em ramo, e os velhos, as mulheres e as crianças olhavam o céu azul, agradecendo a Jesus a vinda do mensageiro da paz e da bondade.
Um dia o Francisco chegou triste. Era véspera de Natal. Andava peregrinando por Perusa, estivera em Assis e Espoleto e, por toda parte vira à mesma febre, o mesmo entusiasmo, a mesma alegria. Eram os preparativos para a comemoração do dia de Jesus.
Eram os assados, os bolos, as compotas, as frutas, as massas e os vinhos que deveriam enfeitar as mesas na tão esperada hora da ceia. Eram roupas vistosas tiradas das arcas e passadas a ferro com esmero, pois todos queriam mostrar-se brilhantes na grande festa. Francisco, porém estava triste. Em nenhum semblante vislumbrara piedade cristã; estava triste. Em nenhuma casa notara recolhimento; em nenhum coração sentira Jesus.
Sentou-se, abatido, num banco tosco, fechou os olhos, e deixou que o pensamento o levasse à antiga Palestina. Esteve em Belém, na Tiberíades, em Cafarnaum, na Samaria, em Jericó, na Betânia, em Cana, no Jordão, em Jerusalém, no Calvário, onde falecera o Mestre.
Viu Jesus pobre, sem ter onde nascer; viu José trabalhando sem descanso de sol a sol; viu Maria, humilde e sofredora; viu Jesus pregando a caridade e o amor ao próximo; viu Jesus caluniado e esbofeteado; viu Jesus orando no Monte das Oliveiras, na véspera da crucificação. E ouviu Jesus dizer: – Eu sou a ressurreição e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Não ajunteis tesouros na terra. Olhai os lírios do campo, não fiam nem tecem; não obstante, vestem-se com mais pompa do que as roupas de Salomão. Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Francisco abriu os olhos, e duas lágrimas rolaram pelas faces pálidas. Eis, então, que se levantou, e nos lábios antes contraídos, um sorriso aflorou. Uma ideia, uma ideia de Santo, fê-lo correr por toda a aldeia. Por que não erguer, numa pequenina Praça de Gúbio, um presépio vivo? Por que não reunir toda a gente e comemorar o Natal recordando o Salvador? Foi a todas as casas, a todos convenceu, e à tardinha tudo estava pronto. Maria, José, o carneiro, o burrinho, a manjedoura. Só faltava Jesus! A pequenina igreja de Gúbio não tinha uma imagem do Menino. Um bebê não suportaria o duro frio que gelava a cidadezinha. Um pastor quis ir correndo, a uma aldeia próxima, na esperança de conseguir a imagem tão desejada. Francisco não consentiu.
A noite chegou, alumiada por uma multidão de estrelas. E, ajoelhados ao pé do presépio vivo, todos o ouviram exclamar com ardor: Glória a Deus nas alturas! Paz na terra aos homens de boa vontade!
No mesmo instante, uma figurinha de imensa doçura apareceu deitada na palha que Maria delicadamente afofara. Era o Menino Jesus… Era o Menino Jesus que entrava no coração da gente simples de Gúbio. Vamos nos preparar e também os nossos lares para recepcionar a vinda do Menino Jesus que irá nascer.
Francisco recriando o Presépio celebrou e reviveu o Mistério do Natal. Mergulhou nesse Mistério e nos deixou um grande ensinamento. Greccio é o coração de cada irmão, de cada irmã neste mundo tão necessitado de sentir e encarar como ele o verdadeiro Amor. Somos convocados à luz do Carisma recordar e reencontrar a humanidade, a fraternidade e a ternura de Deus presentes no presépio.