Raul Vallerine
A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.
Com a chegada do fim de mais um ano, muitos renovam, no coração, gestos de solidariedade e paz. O clima deste tempo transforma até mesmo os corações mais duros.
Celebrar o Natal é renovar nosso amor no Senhor. Aquele que veio um dia nos trazer a salvação continua vindo ao nosso encontro todos os dias do ano, nas mais diversas pessoas e situações.
O Natal é uma preparação qualificada com reflexos no percurso dos dias do novo ano que se aproxima. Assumir propósitos é um exercício educativo e indispensável.
No horizonte da existência, são metas desenhadas que precisam ser qualificadas. Definir e planejar os objetivos são tarefas que podem garantir as correções de rumos, o alcançar de entendimentos indispensáveis e o ajustamento de condutas nos contextos familiar, institucional e social.
As metas não podem ser pensadas apenas nas engrenagens empresariais e institucionais, pois a vida não se constrói sem disciplina individual. Indispensável é o propósito de cada um compreender-se como pessoa humana, coração da paz.
Deve se tornar inegociável e compromisso determinante a atitude diária de respeitar o próximo. Um respeito testemunhado em cada gesto e palavras, no cuidado com aquilo que é público e está a serviço de todos.
Há uma gramática própria no coração humano que precisa ser recuperada dos desgastes que o consumismo, a indiferença e a mesquinhez do egoísmo e da ganância produzem, desfigurando a humanidade, impulsionando corações ao ódio, à violência, à vingança, que matam a fraternidade como missão e propriedade do ser humano.
Essa gramática do coração recompõe-se pela reconquista do sentido de transcendência, exercitado pela espiritualidade. A vida vivida, construída e entendida apenas do lado de fora, conduzida por exterioridades, desgasta culturas e pessoas, produzindo cenários desoladores, da miséria à violência.
A espiritualidade exercitada como competência no reconhecimento do lugar central de Deus na própria vida se desdobra em compromisso com a ecologia da paz, isto é, a igualdade da natureza de todas as pessoas.
Essa compreensão produz sensibilidade na consideração da realidade social, aquela próxima de cada um de nós, deixando-se incomodar pelas insidiosas desigualdades no acesso a bens essenciais, como água, comida, saúde e moradia. Dessa consideração, surge a prática de pequenos e grandes gestos, o compromisso de cada cidadão no cuidado para com os pobres.
Não importa se o que cada um faz seja como uma gota d’água no oceano, pois o oceano é feito de gotas d’água. São indispensáveis todos os gestos de solidariedade de cada um.
Esta tarefa educativa permanente dos corações deve ser assumida pela família. Se cada família for conduzida como comunidade de paz, está se tornará uma permanente escola de solidariedade, capaz de modular, de modo humanístico e justo, a sociedade contemporânea.
A família é o lugar primário das relações humanas e, consequentemente, da sociedade. Nela não se pode perder o sentido dos ritos, a aprendizagem dos limites e do respeito incondicional à vida.
Se o sentido da paz não for aprendido na família, ficará comprometida a gramática do coração humano. Monstros nascerão, as arbitrariedades presidirão as dinâmicas da sociedade e traçada estará uma avalanche de relativizações.
O grande propósito prático é vencer o mal com o bem, sempre e em todas as circunstâncias, dedicando particular atenção ao bem comum com suas vertentes sociais.
O propósito de ouro é buscar o bem do outro como se fora o seu. Ainda mais precioso, com efeitos é a meta indicada por Jesus de não se fazer aos outros o que não se deseja a si mesmo.
Que o caminho para a paz seja percorrido com a convicção de que a paz não pode ser alcançada sem justiça, e não há justiça sem perdão. Perdoar e fazer o bem devem ser sempre os propósitos de Natal.