Da reportagem
Na sessão ordinária da Câmara Municipal de Tatuí, na noite de segunda-feira, 23, os parlamentares João Éder Alves Miguel (MDB) e Márcio Antônio de Camargo (PSDB) questionaram, em discussão sobre a ata do dia 16, as declarações dadas na tribuna pelo colega Paulo Sérgio de Almeida Martins (PRTB).
Nessa sessão anterior, Martins havia mencionado que a Casa de Leis é formada por “dois grupos”, sendo um composto por “parlamentares que estão contra a cidade”, exercendo um “jogo político” que seria “manobra de um grupo que quer voltar ao poder a qualquer custo, defendendo pessoas que só atrasaram a cidade”.
Martins ainda declarou que: “Se precisar matar, até matam, sendo nessa linha que eles trabalham” – sem, contudo, denominar pessoas em particular.
A declaração teve repercussão por conta da transcrição do comentário em reportagem do jornal O Progresso de Tatuí, publicada na edição de domingo da semana passado, 22.
Na tribuna, Alves Miguel declarou não ser usual a justificativa de atas de sessões anteriores, no entanto, diante do comentário de Martins, “se fez necessária”.
Também afirmou que, no decorrer dos dois mandatos dele na Casa de Leis, nunca havia presenciado uma declaração “tão infeliz, em uma condição tão descabida como a de Martins”. “Tive a oportunidade de conversar com ele, e não teria como não vir aqui na tribuna para falar a respeito”, declarou.
Alves Miguel argumentou que as declarações, oriundas de vereadores que defendem “determinados grupos políticos, sendo eles contra ou a favor da cidade, é mérito de julgamento pessoal de cada um”.
No entanto, disse ser totalmente contrário à posição de Martins, mencionando que as palavras do vereador seriam “uma forma individual de como o parlamentar justifica a política, e não, necessariamente, sobre o que de fato ela representa”.
“Até porque, nesta casa, não teve nenhum vereador – ou, se teve, foram raras as exceções – que, em algum momento, não fizeram parte da situação ou oposição. Foi uma fala que eu não concordei, e nem tenho algo a dizer sobre o ponto de vista legal”, sustentou.
Ainda argumentou que, “quando um vereador insinua, mesmo sem citar nomes, dando a entender que existe um grupo político na cidade que, se precisar matar, até mata, é uma alegação que tem que levar ao conhecimento da Justiça”.
“Acho que ele tem que ir à Justiça e falar quem mandou matar quem, e se expor, porque é uma declaração extremamente infeliz e que falta com o respeito pela Casa (de Leis)”, declarou.
Por questões técnicas, Alves Miguel afirmou que não poderia votar contra a ata, esclarecendo que ela fora transcrita de forma correta. No entanto, reforçou a indignação dele com a fala do vereador, com o agravante, segundo ele, do fato de Martins não ter se retratado quanto à afirmação.
“Foi uma posição infeliz. Hoje, foi falado de um grupo; amanhã, pode ser falado de outro. E não seria esse o caminho que a população espera”, reiterou.
Ele concluiu dizendo que os parlamentares têm divergências e atritos, além de opiniões contrárias, bem como existem colegas “que acreditam e outros não na forma como a cidade tem sido conduzida”.
“Se batermos na porta da população, veremos que muitas delas não concordam, assim como existem as que concordam. Agora, chegar ao extremo em colocar uma declaração desse teor é passar do limite, é uma ofensa que tem que ser remetida à Justiça e não na Casa de Leis”, concluiu.
Camargo reiterou as declarações de Alves Miguel e afirmou que todas as vezes em que os vereadores subiram à tribuna para argumentar ou defender alguma causa, concordando ou discordando dela, são apontados nomes.
Ele leu o trecho da declaração de Martins, esclarecendo que o grupo político que defende “não é contra a cidade, sendo as divergências apontadas por cada parlamentar uma prática que está dentro do contexto político”.
“Nós fazemos os nossos trabalhos e nossos questionamentos, concordando ou discordando, mas é a sociedade, nas eleições, que irá dar o seu voto favorável ou não”, acentuou.
Camargo sustentou que a declaração de Martins “ficou no ar” e que, “se ele tem provas de que alguém cometeu essa situação, que apresente no Judiciário, faça um boletim de ocorrência ou que ele leve ao conhecimento do Ministério Público”.
“Isso não compete a nós, vereadores, fiscalizar se alguém cometeu algum delito. E se realmente cometeu, é perante a Justiça que tem que ser esclarecido”, acrescentou.
O parlamentar reiterou o pedido de Alves Miguel para que Martins fizesse a retratação das declarações, justificando a atitude do parlamentar como, “talvez, dita em um momento de calor e nervoso”, mencionando a si mesmo como exemplo desses momentos, nos quais se exalta.
“Mas, jamais farei um apontamento dessa magnitude. Se tem algo que comprove, existem setores competentes que podem trabalhar em cima disso. E que, se comprovado, se faça justiça”, afirmou.
Procurado pelo jornal O Progresso de Tatuí, Martins, que estava ausente durante as manifestações dos parlamentares, afirmou que não vai mais comentar o assunto.