Curraleiro Pé-Duro

AQUI, ALI, ACOLÁ

José Ortiz de Camargo Neto *

Frase do dia: O invisível faz a história.

Caros amigos:

A leitora ou leitor já ouviram falar do Curraleiro Pé-Duro? Eu nunca tinha ouvido falar. Até que me chegou pelo Correio um presente, enviado gentilmente pelo amigo Fábio Nery, escritor e poeta do Piauí. Era um livro de mais de 600 páginas, escrito por Hermes de Paula, com o intrigante nome “Curraleiro Pé-Duro – O Gado que Criou o Brasil”. Até então, eu só conhecia vaca holandesa e gado Zebu!

O subtítulo diz que este simpático boi, dócil, de no máximo 1,5 metro de altura, chifres pontiagudos curtos, pelagem também curta, fez o Brasil. Não o conhecia de nome, mas pela foto creio que já o tinha visto no sítio do Valdomiro Vieira de Paula, em Tatuí.

De fato, este bovino proveniente da Península Ibérica, adaptou-se no Brasil ao clima semiárido e de cerrado do Nordeste e Centro-Oeste, suportando o calor, resistindo a pragas e sobretudo alimentando-se de grande variedade de vegetais.

Foi assim que essa raça taurina criou, em lugar da economia do ouro de Minas Gerais, a “economia do couro” no Ceará e Piauí, estados que ficaram cobertos de fazendas de criação de gado.

Baixinhos e dóceis, esses bois enfiavam-se pelas caatingas espinhosas e solos pedregosos, exigindo grande coragem dos vaqueiros que os perseguiam implacavelmente. Criaram assim, os Curraleiros Pé-Duro, também a figura heroica do vaqueiro nordestino, que Euclides da Cunha imortalizou n’”Os Sertões”.

O artesanato do couro passou a servir para tudo: os chapéus eram de couro, de couro fabricavam-se o gibão e as perneiras dos vaqueiros, de couro faziam-se as sandálias, os cintos, as malas, as bolsas, os embornais, praticamente fazia-se tudo que se usava para viver no sertão.

O que faltava, os cearenses e piauienses recebiam de Pernambuco: vasilhas, tecidos, bebidas, melado, açúcar, em troca dos Curraleiros Pé-Duro que enviavam a Recife para lá serem abatidos.

Com o tempo, os produtores do Ceará passaram a abater os bois no seu próprio Estado, criando a carne salgada ou de sol, que trocavam por mercadorias com outros Estados e até exportavam. Em todo o Nordeste ficou este charque conhecido como “carne do Ceará”.

Aliás, foi um desses produtores cearenses, estabelecido no Rio Grande do Sul, que levou para lá esse charqueado, tornando depois o Estado gaúcho famoso no setor.

Infelizmente esse boi, que contribuiu para criar nossa história, está hoje em perigo de extinção, porque passou a ser substituído por raças de porte mais avantajado, como o Nelore ou Zebu.

No entanto, existe um grande esforço de criadores e associações para preservá-lo.

Esperamos que tenham sucesso. Afinal, se ele criou o Brasil, está na hora de o Brasil criá-lo agora.

Até breve.