Em espaço desta página 2, no final de semana passado, O Progresso de Tatuí publicou artigo do escritor Aliel Paione, autor do livro “Sol e Solidão em Copacabana”, parte da “Trilogia do Sol”, sobre a importância da literatura para a infância e a adolescência.
Conta ele: “Talvez tivesse sete anos quando minha mãe me apresentou o primeiro livro, ‘O Velho e o Mar’, de Ernest Hemingway. Li, então, a história de um pescador que saiu em seu barco para alto-mar ambicionando trazer um grande peixe”.
“Terminada a leitura, fui indagado: qual a conclusão sobre o livro? Respondi que havia apenas entendido a história de um velho pescador que conseguiu fisgar um grande marlim, e após fisgá-lo, a sua luta indômita para trazê-lo à praia. Ele o conseguiu, porém o marlim chegou às areias destroçado, devorado por outros peixes”.
A partir do sentido “literal”, o escritor lembra o impacto da obra, descoberta em suas mensagens submersas, “acompanhadas de muita fantasia”.
“Minha mãe deu-me então várias explicações metafóricas do significado daquela luta terrível entre o velho e o peixe. O pescador, ela me disse, não foi derrotado ou frustrou-se, pois lutou até o fim, deu o máximo de si e a vida é assim. Nem tudo sai como desejamos, mas o que importa e nos engrandece é a luta, é o dar tudo de si”, esclarece o autor.
“O resultado dessa minha primeira experiência literária foi, portanto, a descoberta da necessidade de penetrar nas entrelinhas, de decifrar as ideias do autor e as suas emoções, enfim, ser capaz de admirá-lo em plenitude”, segue Paione.
Na sequência, ele aponta autores e livros favoritos com os quais se identifica e cria com eles o que chama de “um vínculo prazeroso permanente”.
E o prazer é tanto que, com o tempo, pode até criar problema – embora, apenas um: o lugar para guardá-los. “O meu modesto apartamento está abarrotado deles. (…) Meus filhos então me aconselham a doá-los para que outras pessoas possam também desfrutá-los”, confessa o escritor.
“Porém, não entendem o meu amor por eles, não entendem que não posso me retalhar e violentar o meu espírito, pois os livros estão visceralmente em mim”.
“Quando os vejo silenciosos, fechados nas estantes, eu sinto em cada um deles o contexto de minha vida em que foram lidos e as emoções que senti. Não percebem que sou um Quixote e estou na vida a enfrentar moinhos de vento”.
Com o testemunho do autor, é justo concluir que a literatura, os livros, pode tornar-se uma grande paixão. E mais: formar crianças e jovens, logo à frente, adultos muito mais sensíveis, cultos e, naturalmente, “decentes”.
Por sua vez, os desenhos compreendem a outra base para, no mesmo sentido, formar seres humanos melhores, com o estímulo à sensibilidade e ao talento.
Também em artigo divulgado à imprensa nesta semana, a Marista Escolas Sociais, do Paraná, aborda a relevância do desenho já na primeira infância.
“O desenho é uma das atividades favoritas das crianças na infância, por meio dos primeiros traços elas conseguem expressar seus sentimentos, contar histórias e interagir com o mundo”, acentua a entidade.
Como incentivo, a escola teve uma ideia inovadora: em sua sede, no bairro Fazendinha, em Curitiba (PR), as crianças têm os desenhos delas, assinados, projetados nas paredes da escola.
A unidade, que atende gratuitamente mais de 300 crianças na educação infantil, informa possuir espaços variados com identificação e desenhos dos alunos.
“Quando pensamos na ideia de expor os desenhos na parede, pensamos principalmente na identidade do espaço, onde as crianças conseguiriam enxergar nas paredes algo que as fizessem sentir pertencentes à escola”, argumenta Josué de Melo Artigas, coordenador pedagógico da instituição.
“Quando escolhemos um desenho para colocar na parede, estamos evidenciando a riqueza de suas produções e autoria, desta forma, a criança sente-se pertencente e acolhida no espaço, o que pode contribuir diretamente em seu processo de aprendizagem”, segue o educador.
A entidade também lembra que os desenhos na primeira infância “trazem diversos símbolos daquilo que as crianças estão vivenciando em suas realidades, como as emoções e sentimentos por exemplo”.
“Um dos primeiros passos que um educador precisa é uma observação atenta aos elementos trazidos nos desenhos, assim ele consegue capturar pontos que a criança nem mesmo pensou em mencionar em suas narrativas”, orienta Artigas.
“É importante que o educador também questione as crianças sobre o que aqueles traços querem dizer, normalmente elas têm muita propriedade naquilo que construíram e podem traduzir o que seus desenhos querem dizer”, acentua.
Outra virtude do desenho, apontada pelo programa da escola, é o auxílio no desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças. “Os pequenos iniciam seus desenhos entre os 18 e 24 meses, esses primeiros traços são chamados de garatujas”, pontua a instituição.
“São traços, inicialmente, desordenados, porém para elas com significado. Com o tempo, as garatujas vão evoluindo, sendo possível compreender suas intenções”, indica a escola.
“A interação social, as emoções expressadas e as habilidades motoras são adquiridas nesses primeiros desenhos, por isso a atividade é tão importante na infância e deve ser incentivada, tanto na escola quanto para os pais e responsáveis”, finaliza Artigas.
Não por acaso, considerando-se essas duas abordagens, envolvendo literatura e arte, o jornal O Progresso de Tatuí criou o Concurso Artístico e Literário de Natal, em 1995, agora já tendo inscrito mais de 50 mil trabalhos na soma destes anos.
No momento, todas as instituições de ensino da cidade já receberam convite para a participação de seus alunos na edição 2023, a qual, como de costume, destinará prêmios em dinheiro aos alunos vencedores e fará a publicação de todos os trabalhos finalistas na edição especial de final de ano do jornal.
O regulamento está também disponível no portal de notícias do periódico, no endereço eletrônico https://oprogressodetatui.com.br/regulamento-28o-concurso-artistico-e-literario-de-natal/, lembrando que podem participar os estudantes do ensino fundamental, do 1º ao 9º ano, em duas categorias: desenho e redação.
Afinal, que melhor maneira de encerrar o ano senão juntando, como se diz, “tudo de bom”: crianças e jovens com literatura e arte? Melhor que isso, só mesmo a oportunidade de estimularmos a eles um futuro realmente melhor que este nosso presente, com muito mais sensibilidade, empatia e “amor”!